
É um computador “especial” e também um computador “espacial”: é conhecido por TDP8 e reúne várias placas eletrónicas que pretendem testar o efeito das radiações cósmicas em processadores, transístores, memórias Flash e RAM e conversores optoeletrónicos. O TDP8 foi desenvolvido nos laboratórios da Efacec, na Maia, a partir de componentes com “qualidade-espaço” que são adquiridos junto de fornecedores certificados pela indústria espacial. Amanhã, às 20h00, este conjunto placas eletrónicas tem o primeiro teste de fogo, com o lançamento do satélite AlphaSat (acoplado ao foguetão Ariane 5), a partir da base de Kourou, Guiana Francesa.
Na Exame Informática 218, que chega às bancas em breve, pode descobrir todos os detalhes tecnológicos dos componentes do computador desenvolvido pela EFACEC.
Durante pelo menos cinco anos, o TDP8 vai servir de “cobaia tecnológica”, orbitando aparafusado à face exterior do Alphasat, da Agência Espacial Europeia (ESA) e Inmarsat, a mais de 36 mil quilómetros de distância da Terra. Para fazer a integração dos vários componentes, a Efacec recorreu a várias entidades: o Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas, o Instituto de Telecomunicações de Aveiro, a Acosiber, a Evoleo e a DAS Photonics (a única participante estrangeira desta lista).
Entre os vários instrumentos testados, há um que merece especial destaque: os transístores de nitrito de gálio, que representam uma estreia tecnológica em ambiente espacial, por parte da ESA. Estes transístores, que foram inseridos em circuitos eletrónicos desenvolvidos pelos laboratórios da Universidade de Aveiro, deverão ser testados no que toca à degradação da potência de radiofrequência resultante dos efeitos da radiação cósmica.
Os transístores de nitrito de gálio são apontados como potenciais substitutos das válvulas dos amplificadores de potência usados pelas antenas dos satélites que hoje comunicam com a Terra. Os transístores de nitrito de gálio poderão ter vantagens face aos amplificadores de potência usados nas antenas de satélites, que «ainda são constituídos por válvulas que, para além de terem um peso muito grande, têm um consumo muito elevado de energia e ocupam muito espaço nos satélites», explica, em comunicado, Nuno Borges Carvalho, investigador do Instituto Telecomunicações de Aveiro, que desenvolveu os circuitos usados pelos transístor de GaN em parceria com os investigadores Hugo Mostardinha e Pedro Cabral.
Durante cinco anos, os investigadores da Efacec vão poder receber dados do satélite Alphasat relativos ao funcionamento do TDP8. Do laboratório da Maia, os investigadores da empresa portuguesa também poderão enviar instruções para alterar configurações ou suspender o funcionamento de vários componentes a fim de saber como se comportam as placas eletrónicas que se encontram a orbitar a mais de 36 mil quilómetros de distância.