Esta quinta-feira, dia 5 de junho, a cápsula Starliner seguiu à ‘boleia’ de um foguetão Atlas V da United Launch Alliance (ULA), partindo da base da Força Espacial dos Estados Unidos no Cabo Canaveral, Flórida, levando a bordo os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams.
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Esta é uma missão de teste, mas o seu sucesso representa um novo marco para a Boeing, que está significativamente atrasada em comparação com a ‘rival’ SpaceX. Se conseguir demonstrar que está preparada para levar a cabo o tipo de missões que a empresa de Elon Musk realiza, a Boeing tornar-se-á oficialmente na segunda empresa privada a realizar missões de transporte de astronautas a partir dos Estados Unidos para a ISS.
Originalmente, o lançamento estava marcado para o dia 6 de maio. No entanto, um problema numa válvula no foguetão Atlas V acabou por ditar um primeiro adiamento. Logo depois foi descoberta uma fuga de hélio no sistema de propulsão da cápsula Starliner.
O problema na válvula do foguetão foi resolvido, mas a fuga de hélio continuou a dar ‘dores de cabeça’ às equipas responsáveis pela missão ao longo das últimas semanas. Após uma análise da situação, as equipas chegaram à conclusão de que a fuga não era tão grave ao ponto de pôr em causa a missão, motivo pelo qual decidiram avançar com o lançamento.
A par destes problemas, a tentativa de lançamento realizada no dia 2 de junho acabou por ser cancelada a pouco mais de três minutos da contagem decrescente. Neste caso, o problema estava num dos equipamentos que compõem o sistema de suporte da plataforma de lançamento, indicaram os engenheiros e técnicos da ULA
Apesar disso, foram identificadas novas fugas de hélio, duas delas enquanto a cápsula entrava em órbita. Numa publicação na rede social X, a NASA afirma que as válvulas em questão foram fechadas e a Starliner continua estável.
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Espera-se que a cápsula chegue à ISS em pouco mais de 24 horas após o lançamento. Segundo dados avançados pela NASA, a Starliner deverá alcançar a Estação Espacial hoje, pelas 17h15 (hora de Lisboa), onde permanecerá acoplada durante os próximos oito dias.
Mas, até chegarem à ISS, os astronautas Butch Wilmore e Suni Williams vão realizar uma série de testes para assegurar que tudo está a funcionar como esperado, como avaliar o sistema de pilotagem manual da cápsula.
A Starliner está preparada para acoplar autonomamente no módulo Harmony da ISS. Depois de se juntarem à tripulação da Expedition 71, os dois astronautas terão uma agenda preenchida, voltando aos testes da Starliner.
O objetivo é avaliar o funcionamento da cápsula e os seus sistemas antes do regresso à Terra. Por exemplo, um dos testes passa por verificar se a cápsula conseguiria funcionar como um ‘abrigo’ em caso de emergência.
Qual é a importância da missão para a Boeing?
Para compreender a importância desta missão para a Boeing é necessário recuar até 2014, ano em que a NASA assinou contratos com a empresa e com a ‘rival’ SpaceX. Os contratos tinham em vista o desenvolvimento de naves espaciais que garantissem o transporte de astronautas até à ISS a partir dos Estados Unidos.
O contrato com a SpaceX foi fechado por 2,6 mil milhões de dólares. Por outro lado, o contrato com a Boeing foi de 4,2 mil milhões de dólares. Se a empresa de Elon Musk conseguiu avançar com os seus planos, realizando viagens regulares de transporte de astronautas, além de missões de reabastecimento, para a ISS a partir de 2020, o mesmo não pode ser dito da Boeing.
Em 2019, a Boeing avançou com o primeiro voo espacial da cápsula Starliner, numa missão que consistia em chegar à ISS. O lançamento foi bem-sucedido, mas uma falha no computador de bordo impediu a chegada à Estação Espacial. Apesar disso, a cápsula passou no teste de regresso à Terra.
A segunda tentativa só avançaria em 2022 depois de adiamentos sucessivos, incluindo por problemas com as válvulas do sistema de propulsão. Desta vez a Starliner chegou à ISS. No entanto, análises posteriores confirmaram mais problemas técnicos em componentes essenciais, como o sistema de arrefecimento ou os paraquedas usados durante a reentrada na Terra.
Qual é o futuro das missões Starliner?
Se tudo correr como planeado com a missão de teste, a Starliner precisa depois de ganhar certificação da NASA, assegurando que é um sistema de transporte operacional para missões até à ISS.
A primeira missão oficial, que toma o nome Starliner-1, está prevista para 2025. A tripulação, composta pelos astronautas Michael Fincke, Scott Tingle (NASA) e Josh Kutryk (Agência Espacial Canadiana) já está em treinos.
Ao todo, o contrato entre a NASA e a Boeing prevê a realização de seis missões espaciais. Numa recente conferência de imprensa, Mark Nappi, gestor de programa de voos comerciais da Boeing, deu a conhecer que as primeiras três missões estão em processo de desenvolvimento.
Para já, a Boeing está mais focada em cumprir as missões espaciais previstas no contrato com a NASA. No entanto, como detalhado pelo responsável, a realização de missões privadas, à semelhança do que a SpaceX faz, poderá ser uma possibilidade a considerar no futuro.