Até podia ser apenas uma bela imagem. Mas é bastante mais do que isso. A imagem de microscópio ilustra o desvendar de mais um mistério do cérebro, em particular a forma como aprendemos movimentos complexos, que exigem a coordenação de diferentes tipos de informação do cérebro para o corpo. “As células nervosas vistas na imagem transportam diferentes tipos de informação, incluindo os comandos que fazem os músculos contrair e a sequência de passos que devem ser seguidos de forma que uma ação seja realizada”, lê-se no comunicado publicado na página do Instituto Zuckerman, da Universidade de Columbia, Nova Iorque, cujo diretor é o neurocientista português Rui Costa.
O trabalho foi publicado na revista Nature Neuroscience e a imagem resultou da utilização de um vírus (“inofensivo”, reforça-se), injetado no cérebro de ratinhos pelo investigador de pós-doc Anders Nelson, que ao mover-se de célula para célula a deixa fluorescente, o que permite não só identificar as células envolvidas no movimento, mas também a forma como estas se ligam umas às outras. Em concreto, o que vemos na imagem é um parte do córtex motor, em particular os neurónios piramidais: a verde os neurónios corticoespinhais, a roxo os corticoestriais e a azul o núcleo das células.
“Os nossos resultados revelam uma lógica de conetividade coordenada entre o prosencéfalo e os circuitos espinhais em que neurónios corticoespinhais separados transmitem informações complexas para os circuitos a jusante, o que sugere que as diferenças na conetividade pós-sináptica ditam a especificidade do motor”, descreve-se no artigo científico.
A compreensão da forma como funcionam este tipo de neurónios motores é essencial para entender processos de doença associados a deficiências nestas células, como é o caso de doenças do movimento, como o Parkinson.