A grande maioria de nós tem – ou teve – uma impressora de papel em casa. A utilidade das impressoras domésticas é inquestionável: imprimir trabalhos, documentos, cartões de embarque entre tantas outras coisas. As impressoras são, fundamentalmente, convenientes. São também óptimas ferramentas de prototipagem. Quem nunca ensaiou um cartão de aniversário ou uma montagem de fotografias em casa?
Foi esta mesma necessidade de ‘ensaiar’ rapidamente que levou Chuck Hull a desenvolver na década de 80 uma impressora que lhe permitisse fazer prototipagem rápida. Mas em vez de 2D, esta impressora imprimia objetos tridimensionais.
Esta tecnologia tem vindo a ser utilizada nos últimos anos em diversas indústrias. Na indústria automóvel, marcas como a General Motors, a Volvo e a Ford utilizam impressão 3D para construir protótipos e peças de substituição. Na indústria aeronáutica temos como exemplo a Airbus que integrou impressão 3D na produção de parte dos painéis dos cockpits dos seus aviões A350, conseguindo reduzir o seu peso em cerca de 15%.
Mas não fica por aqui: a impressão 3D também está a ser usada para produzir próteses ortopédicas e dentárias à medida, comida, casas e até foguetões espaciais reutilizáveis.
Esta técnica baseia-se num modelo computacional contendo todos os detalhes da geometria do objeto a produzir. Este modelo fornece à impressora as ‘coordenadas’ da forma do objeto, que são executados camada a camada pelo braço mecânico da mesma, possibilitando a produção de geometrias complexas que, de outra forma, seriam impossíveis.
O que torna a impressão 3D tão atrativa? Desde logo a rapidez com que permite materializar ideias e realizar as várias iterações que um processo de design de produto tipicamente implica. Mas também o seu baixo custo: ao invés de ser necessário desenvolver moldes e maquinaria específica para determinadas partes ou produtos, com a mesma impressora 3D é possível imprimir vários componentes diferentes. Através da impressão 3D é muito fácil produzir objetos e peças com características específicas, focadas num determinado utilizador ou circunstância. Numa época marcada pela hiperpersonalização de tudo, esta tecnologia tem-se revelado muito útil. Basta ver a quantidade de soluções criadas um pouco por todo o mundo e disponibilizadas gratuitamente à comunidade online através de sites como o Thingiverse.
Mas existe outra área na qual devemos ponderar o papel da impressão 3D: a sustentabilidade.
Segundo tem vindo a ser estudado, a generalidade dos casos de impressão 3D implica menor consumo energético do que os métodos de produção tradicionais (dependendo, no entanto, do volume de produção). Por outro lado, a impressão 3D permite utilizar a matéria-prima de forma mais eficiente, quer por implicar menor desperdício, como por permitir criar peças e geometrias que contém apenas a matéria realmente necessária. Tal aspeto é muito importante, por exemplo, na industria dos transportes, onde uma pequena diminuição no peso dos componentes tem efeitos significativos no consumo de combustível.
Na análise de Ciclo de Vida da impressão 3D pesa, entre outros fatores, o tipo de matéria-prima utilizado. Embora, inicialmente, o plástico fosse o material mais utilizado nesta técnica, nos últimos anos têm vindo a ser introduzidos outros materiais, alguns dos quais mais ecológicos: metal, madeira, vidro, papel e até polímeros biodegradáveis à base de conchas de marisco. Existem experiências da utilização deste tipo de impressão com células vivas, o que faz pensar num futuro onde a impressão de órgãos poderá tornar-se realidade.
Imagine que, num futuro não muito distante, todos temos uma impressora em casa. Não das de papel, mas sim das 3D. Imagine agora que, em vez de se deslocar várias vezes à sua loja favorita de objetos para a casa, só se deslocou uma, para comprar a matéria-prima dos objetos que a loja vende; E que sempre que manda vir alguma coisa que gosta, a sua loja envia-lhe por email um ficheiro digital, alterado de acordo com aquilo que escolheu. E que, umas horas depois, terá em casa uma peça única, impressa por si, para si. Sem desperdício, sem excesso de stock, sem emissões de carbono no transporte.
O que escrevi atrás trata-se de um cenário hipotético muito simples, mas pode servir de provocação para uma reflexão mais profunda: será que poderemos ter na impressão 3D um lugar de encontro entre duas grandes tendências da atualidade, a personalização e a sustentabilidade?