Portugal continua a dar passos largos no sentido de tornar a mobilidade elétrica cada vez mais acessível a todos nós. E, com a entrada em vigor da tarifa MOBI.E desde o dia 1 de maio, a verdade é que ainda há muito que não se compreende sobre a mesma.
Existem muitas questões que os utilizadores de veículos têm colocado: afinal, para que serve esta tarifa? É só mais um imposto? Qual a sua finalidade? Só em Portugal é que existe?
São muitas as perguntas e, quer se aprecie ou não o modelo português da mobilidade elétrica, o facto é que continua a ser um modelo pioneiro e, de alguma forma, replicado nos demais países europeus.
Na verdade, esta tarifa existe para proporcionar o roaming — a possibilidade de se usar qualquer cartão ou aplicação, de qualquer comercializador de energia, em qualquer posto de carregamento. Para que esta interoperabilidade seja possível e que o consumidor final possa viajar tranquilamente pelo país com apenas uma destas soluções, são necessários desenvolvimentos informáticos que suportam a comunicação necessária entre operadores de posto e comercializadores de energia, sendo também necessária uma entidade que atribua responsabilidades em caso de anomalias e uma equipa que continue a integrar qualquer fabricante de postos de carregamento, operador de posto de carregamento ou comercializador de energia, na rede pública. É um processo complexo, mas necessário para benefício dos utilizadores de veículos elétricos.
Além disso, à data de hoje, qualquer dos comercializadores para a mobilidade elétrica ou operador de posto de carregamento que integre a rede MOBI.E não conta com custos de integração nem subscrições anuais. Isto significa que está ao alcance de qualquer empresa, grande ou pequena, criar a sua própria solução e entrar no mercado sem grandes barreiras.
Se olharmos para uns quilómetros à direita e analisarmos o modelo de mobilidade elétrica em Espanha, constatamos que não existe ‘uma’ MOBI.E. A quota de mercado de veículos elétricos em Portugal continua superior e, para se conduzir em Espanha necessitamos de várias aplicações diferentes e existem postos de carregamento não compatíveis com soluções digitais. Logo, uma verdadeira dor de cabeça para qualquer português que pretenda conduzir e carregar um elétrico no país vizinho.
Ainda, quando uma empresa tenta ingressar neste mercado, depara-se de forma imediata com um custo significativo de conexão a uma plataforma hub que, para além do custo de conexão, tem ainda um custo de subscrição anual e uma taxa por cada sessão de carregamento efetuada. Estas particularidades aumentam assim o burn rate financeiro das soluções tecnológicas que nascem nos mercados europeus, impactando, obviamente, o preço para o consumidor final e segmentando o mercado.
Por isso, quando comparamos 17 cêntimos por sessão de carregamento com os milhares de euros que são necessários para ter uma solução agregadora nos restantes países europeus e o pouco alcance que se tem enquanto CPO [charging point operator] sem estar numa dessas soluções, não consideramos tão drástica a adoção desta tarifa no mercado português. Continuamos sim a ser pioneiros na mobilidade elétrica e um verdadeiro exemplo a seguir.