Atualmente, todos os setores da sociedade atravessam um dos momentos mais desafiantes da sua história, e a indústria automóvel não é exceção. Possivelmente, é ainda cedo para determinar quais serão as consequências da pandemia, mas para já, vários são já os países que defendem que qualidade do ar melhorou, após o aparecimento da Covid-19. Mas, se pensarmos bem, não é assim tão surpreendente uma vez que, do dia para a noite, tudo mudou. Os grandes centros urbanos ficaram vazios, nós vimo-nos obrigados a ficar condicionados apenas às quatro paredes das nossas casas, a economia parou e, consequentemente, os níveis de poluição desceram bruscamente.
A crise económica global, incentivada pelo coronavírus, fez com que as emissões de dióxido de carbono caíssem, este ano, pela primeira vez, desde a crise financeira de 2009, em grande parte devido ao tráfego reduzido e outras atividades, especialmente nas grandes cidades sob medidas de bloqueio, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE). Atualmente, o mundo está a emitir menos um milhão de toneladas de dióxido de carbono por dia – se pensarmos bem, já nem nos lembramos da última vez que vimos a Avenida da Liberdade, a mais poluída de Lisboa, tão deserta, sendo que registou os níveis de poluição mais baixos deste século, de acordo com a associação ambientalista ZERO. Em Lisboa, os níveis médios de NO 2 diminuíram 40% de uma semana para a seguinte e comparado com a mesma semana de 2019, a redução foi de 51%, de acordo com os dados da Agência Europeia do Ambiente (AEA).
Posto isto, já percebemos que o mundo não voltará a ser aquilo que era antes do aparecimento desta pandemia. E, neste sentido, pergunto: não será esta uma oportunidade para transformarmos algo negativo, em algo positivo? Como, por exemplo, alterarmos de vez os nossos comportamentos e contribuirmos para uma mudança na economia de baixo carbono? Mas, para tal, é essencial que se comece a analisar e a implementar medidas para que consigamos manter ou reduzir ainda mais estes níveis de poluição numa Era pós-Covid-19.
Perante este novo panorama, os carros elétricos assumem assim um dos lugares de destaque, uma vez que emitem menos dois terços de dióxido de carbono comparando com os a gasóleo ou gasolina, analisando todo o ciclo de vida do veículo, indica um estudo da Federação Europeia de Transportes e Ambiente. Deste modo, o setor dos transportes representa cerca de um quarto do total de emissões na Europa, pelo que uma transição prevista para um parque automóvel de 80% de veículos elétricos em 2050 irá contribuir de forma real para o objetivo de redução dos gases com efeito de estufa previsto para esse ano, refere um estudo da European Environment Agency.
Embora, possivelmente, ainda seja cedo para determinar quais serão as consequências da pandemia, é improvável que a atual queda nas emissões de carbono seja sustentável, uma vez que os baixos preços dos combustíveis fósseis irão, seguramente, prejudicar a competitividade de fontes alternativas de energia – por exemplo, pessoas que têm um carro a gasóleo ou gasolina, em que o preço dos combustíveis, neste momento, está tão baixo, porque é que irão mudar para um elétrico? Naturalmente, não vão, apesar da maior consciencialização para estas questões ambientais, o que significa que estamos a correr o risco de perder anos e anos de incentivos à implementação de novas medidas, novas formas de mobilidade, de partilha de energia que poderão, simplesmente, ser desvalorizadas.
É fundamental que os governos criem medidas de incentivo à população, de forma a não permitirem este retrocesso no que ao automóvel elétrico diz respeito
Neste contexto, é fundamental que os governos criem medidas de incentivo à população, de forma a não permitirem este retrocesso no que ao automóvel elétrico diz respeito. De acordo com a associação Zero, um carro elétrico alimentado a eletricidade com emissões médias paga a “dívida de carbono” da produção da bateria após pouco mais de um ano e economiza mais de 30 toneladas de CO2 durante a vida útil, em comparação com um carro convencional. E se falarmos de um elétrico que circule muito, como um táxi, economiza até 85 toneladas.
No futuro, estima a Federação Europeia de Transportes e Ambiente, os carros elétricos vão ficar cada vez mais verdes nos próximos anos, com a descarbonização da economia europeia, e vão ser pelo menos quatro vezes mais limpos do que os carros a gasolina ou a gasóleo, em 2030.
Os automóveis, desde sempre, que se destacam como os maiores consumidores de energia, sendo que se espera que a produção mundial de carros cresça 30% até 2030 para um total de 123 milhões de unidades. O que torna assim urgente a otimização energética do sector dos transportes, no qual se deverá tirar o máximo partido das tecnologias digitais, obter um maior alcance dos combustíveis alternativos e apostar na transição para veículos de baixas, ou, até mesmo, zero emissões.
Mais do que um importante contributo para um planeta mais verde, este tipo de veículos são, cada vez mais, uma necessidade para a sociedade. E, neste sentido, tudo indica que o caminho, nas próximas décadas, será, cada vez mais, baseado em carros elétricos. E, como tal, os automóveis movidos a combustíveis fósseis deixarão de ser as grandes aquisições da sociedade, ao contrário do que acontecia até aos dias de hoje.
Vamos apostar num carro elétrico?