Comprovar que os efeitos nocivos do tabaco não estão na nicotina, mas nas toxinas libertadas durante o processo de combustão tem sido uma luta para a Philip Morris International (PMI) ao longo dos últimos seis anos. Sendo parte interessada na indústria tabaqueira, a multinacional que está presente com os seus produtos em cerca de 180 países, investiu fortemente na investigação científica com vista a suportar esta tese. O caminho não tem sido fácil, apesar da gradual concretização de objetivos. “Demorámos algum tempo a investir em ciência e na tecnologia para descobrir se era possível oferecer aos fumadores o prazer de fumar, ao mesmo tempo que procurávamos diminuir o impacto negativo e significativo dos cigarros tradicionais”, revela Jacek Olczak.
O CEO da PMI falava durante o Delphi Economic Fórum, que decorreu na Grécia no início de abril, onde fez um balanço do caminho trilhado desde que a tabaqueira anunciou ao mundo que reduziria drasticamente os malefícios do fumo, e que podia ter um produto que retira 95% dos produtos tóxicos do fumo de tabaco. Hoje, reforça, “a própria ciência admite que não é a nicotina que cria o problema, mas a combustão, e por isso podemos contribuir para resolver o problema do fumo”. Em conjunto com a tecnologia, acrescenta Jacek Olczak, “a ciência consegue fazer magia e se a isto tudo juntarmos a vontade de nos desafiarmos, podemos chegar a uma solução”. A verdade é que, volvidos seis anos, a PMI contabiliza, a nível global, mais de 20 milhões de consumidores destes novos produtos, que vieram dos cigarros a combustão e que praticamente deixaram de os fumar.
Com o selo de garantia científico
Ainda hoje, e apesar da aceitação dos novos produtos sem fumo no mercado global, a estratégia da PMI continua a ser questionada em muitos locais do mundo. No entanto, Jacek Olczak não tem dúvidas de que a tendência será para que as conclusões científicas e a aprovação dos produtos por parte dos reguladores internacionais acabem por trazer o ‘selo de garantia’ exigido. “É verdade que pagámos pela ciência, alguém tem de o fazer, mas isto é muito objetivo”, diz. O CEO recorda que a Federal Drugs Administration (FDA), nos Estados Unidos, autorizou diversas versões do IQOS, reconhecendo que o produto serve os objetivos de saúde pública. “E quanto mais se debate esta questão, mais começamos a ver como estes produtos estão a transformar a população”, reforça. Em países como o Japão ou a Coreia do Sul, por exemplo, as hospitalizações por DPOC (doença pulmonar obstrutiva crónica) – uma das doenças pulmonares fortemente associada ao fumo do tabaco -, estão a decrescer nos últimos sete anos. “Somos apenas um negócio com foco na nossa visão, que é ser livre de fumo, mas há uma ciência e um regulador que aprova o produto, garante que é seguro para utilização, e entrega o benefício”, aponta ainda o responsável máximo da PMI que defende que a regulação é essencial, uma vez que sem ela deixaria de existir algum grau de confiança e de credibilidade do sistema.
Ambiente propício à mudança
Quando começou a investir na Grécia, há praticamente 20 anos, a PMI não imaginava a quantidade de transformações a que assistiria naquele mercado, então considerado o campeão indiscutível no consumo de tabaco. Ainda não há muito tempo, recorda Jacek Olczak, a Grécia contava com três milhões de fumadores. Hoje são dois milhões e meio, uma vez que cerca de 500 mil tomaram a decisão de migrar para os novos produtos sem fumo.
Na opinião do CEO da PMI, esta mudança apenas foi possível pelo trabalho em conjunto de todos os stakeholders com uma palavra a dizer sobre a resolução do problema do fumo. “Obviamente, há a indústria, a tecnologia, a ciência e a comunidade médica de um lado, mas depois é preciso ter reguladores, governos, líderes de opinião, ONG, e todos têm de perceber que a batalha não é entre eles e nós, a indústria tabaqueira, mas o objetivo é perceber como ajudar os fumadores”, explica. “E a Grécia criou o ambiente para que isso seja possível”, garante. Um processo nada fácil, uma vez que estas foram duas décadas de muita instabilidade económica na Grécia. Ainda assim, revela o responsável, a PMI investiu cerca de mil milhões de euros no mercado grego, um investimento que gerou ao governo grego cerca de mil milhões de euros anuais em impostos. “Acredito que é uma prova de podemos ter benefícios mútuos”.
Para o futuro, Jacek Olczak mantém o otimismo de que a companhia que dirige segue no rumo certo. “Vamos sair disto como uma empresa ainda mais forte e bem-sucedida”. Este movimento de deixar os cigarros a combustão, resolvendo o problema do fumo em direção aos produtos com risco reduzido, abre as portas ao desenvolvimento de uma plataforma para investir no sector da saúde e do bem-estar. “Eu sei que muitas pessoas ouvem isto do CEO da PMI e é inédito, mas é realista”, assume. Na sua opinião, as revelações que a investigação científica já demonstrou sobre o sistema respiratório humano ajudam agora a empresa a criar e desenvolver ideias e produtos para o sector da saúde e do bem-estar. Daqui a dez anos, conclui, “acho que consigo ver-me aqui neste palco com um lindo maço de Marlboro e a lembrar-vos de que estes costumavam ser os cigarros mais vendidos em todo o mundo, numa categoria que já não existe. E acho que é fazível. Acho que estamos tão perto de lá chegar”.