Pouco tempo depois do ChatGPT ter nascido, Ricardo Martinho propôs à IBM comprar a ferramenta de inteligência artificial (IA) detida pela OpenAI, mas a gigante tecnológica norte-americana tinha outros planos. Estava prestes a sair do forno uma rival, criado pela própria empresa, que “colmata as lacunas” da tecnologia criada por Sam Altman, e mais focada em empresas.
“É um daqueles momentos em que lançamos algo e acreditamos que vai revolucionar o mundo. Vai mudar a forma como se trabalha a IA nas empresas e nos negócios”, começa por explicar o presidente da IBM Portugal, aos jornalistas. “E quando a lançámos, eu percebi porque é que a IBM não quis tentar a compra do ChatGPT: a nossa colmata as lacunas que este tipo de ferramenta apresenta. A preocupação com a ética é totalmente diferente”, acrescenta Ricardo Martinho.
O Watson X – a tecnologia apresentada pela IBM para melhorar os negócios recorrendo a IA – elimina quase todas as alucinações e preconceitos que as ferramentas deste género costumam adotar, dada a quantidade de filtros a que os modelos desta tecnologia estão sujeitos. Este é ainda um entrave para muitas empresas avançarem com soluções baseadas em IA.
Um estudo encomendando pela própria IBM mostra que 23% das empresas consideram que as questões éticas são ainda um obstáculo para a maior utilização da tecnologia. Outras das barreiras apontadas pelas empresas são a lacuna de competências e conhecimento em IA (33%), a excessiva complexidade dos dados (25%) e a falta de ferramentas para desenvolvimento de modelos de IA (21%).
Nos últimos tempos, vários têm sido os casos em que ferramentas de IA, como o ChatGPT, dão informações perigosas e falsas aos utilizadores. Um dos exemplos foi o lançamento do modelo Galactica, da Meta (ex-Facebook), focado no ramo científico. Passados três dias de ser implementado, explica Ricardo Martinho, foi retirado de circulação. Em causa esteve uma pergunta de teste feita por um cientista, que procurava uma análise às vantagens da ingestão de vidros partidos para o ser humano. O modelo de IA, não só não explicou os malefícios, como partilhou uma dissertação sobre os benefícios deste ato.
42% das empresas usa IA
O mesmo estudo da IBM mostra que mais de 40% dos profissionais nas grandes organizações relata que implementou ativamente a IA, enquanto 40% está neste momento a explorar o uso dessa tecnologia.
A liderar este mercado, em termos de utilização da tecnologia, está a Índia, onde 59% das empresas já a utilizam, seguida dos Emirados Árabes Unidos (58%) e de Singapura (53%). Os mercados que estão mais atrasados são Espanha (28%), Austrália (29%) e França (26%). Portugal não aparece neste estudo, mas Ricardo Martinho garante que a sua utilização fica aquém da vizinha Espanha.
“Estamos numa fase muito exploratória ainda. Temos empresas de topo na aplicação destas tecnologias, que estão sempre na linha da frente, mas a maioria o nosso tecido empresarial é feito por pequenas e médias empresas, que espera sempre muito para ver como as coisas acontecem”, explica Ricardo Martinho.
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Regulação europeia “muito bem-vinda”
Ricardo Martinho elogia a União Europeia por ter dado um passo em frente na regulação da inteligência artificial, com o “AI Act” – aprovado há duas semanas – revelando que a IBM esteve a trabalhar com Bruxelas desde o início da elaboração deste documento.
“É um passo extremamente importante e ainda bem que foi a União Europeia a dá-lo, uma vez que nos parece fundamental para que a utilização possa ser massiva, mas sobretudo para que possamos estar descansados no uso da inteligência artificial”, diz.
O documento de Bruxelas define vários níveis de risco para evitar que a tecnologia seja usada para “ameaçar os direitos dos cidadãos”, eliminando alguns sistemas de categorização biométricos, usados em sistemas de videovigilância, por exemplo, para criar bases de dados de reconhecimento facial.
“Estas questões éticas para nós são fundamentais. Para que a inteligência artificial seja credível temos de saber que há regulação e que essa regulação é apertada. Esperamos que as penalizações sejam mesmo aplicadas”, acrescenta o líder da IBM em Portugal. O regulamento deverá ser aprovado antes do final da atual legislatura, 20 dias depois da publicação no jornal oficial da EU, mas será apenas aplicado dois anos depois dessa data.