Em Wall Street, mais do que a razão, é a expectativa que controla os altos e baixos da bolsa. E o sentimento do mercado nem sempre acerta. Na quarta-feira, os mercados estavam nervosos com a apresentação de resultados da fabricante de “chips” Nvidia, porque consideravam difícil que a empresa sensação dos Estados Unidos conseguisse surpreender pela positiva. Enganaram-se.
Já depois do fecho dos mercados, a empresa apresentou um lucro de 12,29 mil milhões de dólares e receitas de 22,10 mil milhões no quatro trimestre fiscal de 2024, o que representa aumentos de 769% e de 265% face ao período homólogo, respetivamente. O mercado estava à espera de menos 7% nas receitas e menos 12% nos lucros.
“O nervosismo com os resultados da Nvidia transformou-se em confiança depois dos investidores terem analisado mais um conjunto de resultados brilhantes da fabricante de chips, que é claramente a grande estrela das bolsas mundiais neste ciclo de alta”, pode ler-se na nota de análise da consultora BA&N.
E se, no dia em que apresentou os números, os mercados norte-americanos negociaram de forma tímida, quase inalterados, e na Ásia sofreram quedas, o dia de hoje está a revelar-se diferente. No Japão, o Nikkei subiu mais de 2% para um novo máximo histórico, atingido também no DAX, na Alemanha. E em Wall Street, os mercados mostram-se entusiasmados. A razão: os números da Nvidia – que lhe valem um disparo de 15% em bolsa na sessão desta quinta-feira.
“A Nvidia é a cotada mais influente do planeta Terra neste momento”, pode ler-se numa nota do Goldman Sachs, citada pela Bloomberg. E o seu negócio pode ajudar a explicar. A empresa foi criada em 1993 como fabricante de placas gráficas para computadores, mas é agora muito mais do que isso. Os “chips” que produz, escasseiam em todo o mundo.
Numa entrevista à VISÃO, o investigador Chris Miller, autor de “A Guerra dos Chips”, explicou bem esta realidade: “Há apenas duas empresas que estão no centro desta indústria. A Nvidia, sediada na Califórnia, desenha cerca de 90% dos chips com tecnologia de ponta para a Inteligência Artificial, enquanto à TSMC – Taiwan Semiconductor Manufacturing Company, em Taiwan, cabe fabricá-los”.
O impulso da inteligência artificial
Na apresentação de resultados, o fundador e CEO da empresa, Jensen Huang, explicou uma das receitas deste sucesso: “A computação e a inteligência artificial generativa atingiram um ponto crítico. A procura está a aumentar em todo o mundo, nas empresas, indústrias e nos países”.
Os chips que produz, os H100, são os que melhor respondem às exigências impostas pela inteligência artificial e tornaram-se os “chips” padrão na indústria, graças ao sucesso do ChatGPT, da OpenAI. A Meta, ex-Facebook, anunciou que pretendia aumentar o seu “stock” destes chips para os 350 mil, em 2024.
No segmento dos “data centres” a empresa apresentou um aumento de 409% nas receitas, face ao período homólogo, para os 18,4 mil milhões de dólares; na parte do “gaming”, as receitas subiram para os 2,9 mil milhões (+15%) e na parte automóvel cresceram 8% para os 281 milhões, à boleia da maior adoção dos seus “chips” neste setor, principalmente por empresas chinesas como a Xiaomi ou a Li Auto.
“Neste grande momento para o mercado e para o setor tecnológico em muitos anos, o padrinho da IA Jensen e a Nvidia acaba de anunciar um trimestre robusto e uma perspetiva que esmaga as expectativas de Wall Street”, começa por escrever Dan Ives, analista da Wedbush, numa nota. E acrescenta: “passa a ideia de que a revolução da inteligência artificial está apenas a começar e ainda não atingiu o pico”.
À boleia desta febre pelos “chips”, a empresa transformou-se na quarta mais valiosa do mundo – acima de Amazon, Meta ou Tesla e esta quinta-feira ultrapassou a Alphabet (dona da Google) – com uma avaliação de mercado de 1,89 biliões de dólares, depois de ter disparado 240% em 2023 e de acumular uma valorização de 30% este ano. A sua rival, a TSMC, está na décima posição, com uma avaliação de 620 mil milhões.