As fortes ligações entre Portugal e o Brasil vão muito além dos laços históricos que sempre uniram os dois países. Hoje, não é novidade para ninguém que Portugal está no topo das preferências dos empreendedores brasileiros, seja para se fixarem no país, seja para deitarem o olho à Europa, um mercado com mais de 550 milhões de pessoas.
Qualquer que seja a motivação de cada um, a verdade é que a atratividade de Portugal é inegável, em parte fruto de um ecossistema de startups de TI muito robusto e desenvolvido e que apoia as empresas a estabelecerem-se no país. E são várias as consultoras especializadas, as incubadoras e as aceleradoras prontas para incentivar e apoiar as empresas brasileiras que escolhem este país para se instalar. Sem falar nos benefícios fiscais que estas podem usufruir, já que existe um forte ecossistema de apoio às startups de TI e incentivos governamentais como o Portugal 2030, o PRR ou o Start-up Visa.
Mas não só. Como sabemos, este país possui uma força de trabalho com alto nível de formação técnica em TI e com fluência em inglês, além de ser um Hub de Inovação e Tecnologia, e um Centro Europeu de Serviços e Competência com a presença de muitas empresas multinacionais.
A minha experiência profissional tem-me mostrado que, de uma forma global, o ecossistema das tecnologias de informação é muito similar em vários países. Mas no caso concreto do Brasil e de Portugal, a forma como se constroem as relações comerciais parece-me que é talvez a diferença mais significativa. Isto porque, no mercado brasileiro, a relação comercial entre empresas é estabelecida de forma relativamente rápida, informal e muitas vezes de curta duração. Já em Portugal, as relações são mais formais, demoram mais a concretizar-se, mas têm a grande vantagem de serem mais duradouras, com todos os benefícios que isso aporta à consolidação dos negócios.
E posso afirmar, que face ao Brasil – um mercado com um elevado grau de complexidade regulatória e tributária – Portugal é um país mais organizado, e com menos complexidade para estabelecer e gerir uma empresa.
Para quem esteja a equacionar internacionalizar para este lado do Atlântico, e ainda esteja a constituir equipa, sugiro uma reflexão ponderada sobre a possibilidade de, por exemplo, transferir o diretor comercial da empresa no Brasil para Portugal ou um comercial para fazer a prospeção de novos clientes. Aqui, com a sua presença física e o contato com as pessoas, poderá fazer prospeção de mercado e construir uma relação, próxima e sólida, com os potenciais clientes portugueses.
De resto, use a mesma estratégia para o mercado português aplicada no Brasil para se destacar, sempre com foco na qualidade de execução da sua proposta e na competência dos profissionais que trabalham consigo. Todos juntos, certamente, assegurarão a satisfação do cliente e um elevado índice de clientes recorrentes.
Apesar de aparentemente fácil, não posso deixar de alertar quem pensa internacionalizar a sua empresa que este é um processo complexo e que exige um grande planeamento. Há que fazer uma preparação séria, ter conhecimento sobre internacionalização, sobre o mercado europeu de TI, sobre Portugal, participar em workshops e reuniões com potenciais clientes, e ter muitas horas de consultoria. Cumprir estas etapas garante-lhe uma transição sem sobressaltos e surpresas, o que a médio prazo se refletirá, certamente, na construção de relações de longo prazo quer com os clientes, quer com os parceiros de negócios.
Há um outro aspeto de extrema importância em todo este processo: não se devem subestimar as diferenças culturais e de negócios nos dois países. Por isso, a minha sugestão para as empresas brasileiras que estejam de olho em Portugal é que procurem conhecer o mercado onde vão atuar, identifiquem os concorrentes e as vantagens que eles possuem, verifiquem se o seu produto ou serviço resolve um problema para o seu futuro cliente e, principalmente, procurem sempre a ajuda de consultores locais que podem auxiliar no processo de adquirir conhecimento e facilitar a entrada no mercado.
Concluindo: Não, não existem fórmulas mágicas para a internacionalização. Existe planeamento e muito trabalho. A verdade é que a transição de uma empresa para Portugal é um mundo de oportunidades, mas também de muitos desafios, sobretudo se for uma empresa completamente desconhecida no país e que atua num nicho de mercado. Mas os desafios, podem ser inspiradores, por isso, a minha sugestão é pôr mãos à obra.