Chitra Stern, fundadora e administradora do Elegant Group, dono da marca Martinhal, é uma otimista inveterada e uma empresária de pulso firme. “Isto é uma loucura. Mas estamos, definitivamente, a olhar para a frente”, começa por dizer à EXAME. Entre risos e interjeições de surpresa, Chitra explicou que fechou as quatro unidades hoteleiras (Sagres, Quinta do Lago, Cascais e Chiado) – “com o estado de emergência, com as pessoas sem poderem sair de casa, com as fronteiras fechadas e sem voos…bom, não fazia sentido, não é?” – e recorreu à medida do governo que permite o lay-off temporário de alguns trabalhadores. “E gosto mesmo de usar a palavra temporário, de a sublinhar, porque é isso que queremos que seja”, reforça esta singapuriana radicada em Portugal há 20 anos.
O restaurante do hotel Martinhal de Cascais deverá começar, entretanto, a disponibilizar o serviço de take-away, uma forma de manter a marca presente e de gerar algum retorno, mas pouco mais vai ser possível fazer em relação aos hotéis. Para já, os responsáveis estão a delinear um plano a dois anos para reagir a este soluço mundial, assim que for possível reabrir as portas dos seus estabelecimentos. “Espero que o possamos fazer em junho, mas é possível que seja depois. E sabemos que vamos ter que estender os planos de retorno financeiro, porque não sabemos como vai ser o regresso à ‘normalidade’. De qualquer forma, faremos tudo o que for preciso para salvar a empresa e os postos de trabalho”, garante.
Chitra e Roman Stern têm também a United Lisbon International School – uma escola que abre portas em setembro –, o Martinhal Residences, no Parque das Nações e vários outros projetos imobiliários que complementam a sua atividade. Aliás, em declarações recentes à EXAME, recordavam que são “antes de mais promotores imobiliários, e hoteleiros por acidente”. Acabaram por ser também donos de uma escola, por acreditarem que faltava em Lisboa oferta de estabelecimentos de ensino internacionais que respondessem às necessidades de tantas famílias estrangeiras que entretanto escolheram a capital do País para viver.
Mudar o paradigma
As entrevistas para admissões na escola, que ocupa o espaço da antiga Universidade Independente, no Parque das Nações, continuam a acontecer por videoconferência, e apesar de saber que o ano letivo deverá começar com menos alunos do que o expectável, está confiante no projeto. “Acredito que a educação, por exemplo, é uma das áreas que vai sair reforçada deste período que estamos a viver”, salienta, embora esteja consciente das dificuldades dos próximos meses.
“A verdade é que muitas famílias que viriam a Portugal ver a escola e tirar dúvidas sobre o País agora na Páscoa estão impedidas e de o fazer, e portanto é obvio que vai haver uma quebra. Mas felizmente temos a confirmação de que algumas pessoas mantêm os seus planos, e teremos alunos no início do próximo ano letivo”.
A empresária alegra-se pelo facto de os investimentos feitos recentemente estarem todos garantidos, o que significa que falta somente construir algumas infra-estruturas, e também por ter registado apenas um abrandamento nas vendas dos imóveis pertencentes ao Martinhal Residences. São boas notícias em tempos de incerteza, onde não há datas ou previsões do que pode ainda acontecer.
“O mês de março foi um mês muito stressante. Todos os dias estávamos a receber informação nova. Refazíamos o plano de negócios recorrentemente. E agora estamos a trabalhar a todo o gás com a nossa equipa porque precisamos de nos reinventar. Vamos todos sair disto com um novo paradigma. Portanto, é preciso usar este tempo para reinventar os nossos serviços. É uma questão de sobrevivência”, resume consciente das dificuldades, mas entusiasmada. “Sabe, este tipo de dificuldades salienta o melhor e o pior das pessoas. E nós temos a sorte de ter pessoas muito boas connosco. Têm feito um trabalho incrível”.
Nós temos a sorte de ter pessoas muito boas connosco. Têm feito um trabalho incrível”
Quando às medidas apresentadas pelo governo para as empresas fazerem frente a esta pandemia, a responsável do Elegant Group defende que “foram rápidas e concretas como primeiro passo, sobretudo porque foram anunciadas imediatamente”, mas pede celeridade agora. “As empresas precisam de liquidez. É preciso acelerar os processos de acesso ao financiamento, porque se não houver rapidamente dinheiro na economia…”, atira em jeito de apelo.
Chitra prefere não se focar no curto prazo: ninguém sabe quando passará o pior, não há previsões que seja possível fazer, nem números que se possam avançar. Por isso, e tentando que a incerteza do agora não lhe tolde o pensamento, a empresária já está de olhos no médio prazo.
“Acho que, olhando para o lado positivo, se continuarmos a controlar a pandemia em Portugal tal como temos feito, quando tudo isto passar Portugal vai ser olhado, ainda mais, como um dos melhores para viver. Pessoalmente acho que, por causa desta imensa ameaça à nossa vida, as pessoas vão passar a priorizar a qualidade de vida e a vida em família, e isso pode trazer coisas muito boas para as nossas marcas. Claro que vamos enfrentar uma imensa quebra na nossa atividade, mas estou a tentar olhar para depois desse período”.
Olhos no futuro
No mesmo sentido, a integrante da task force governamental que nos últimos anos se dedicou a captar investimento estrangeiro para Portugal avisa que é preciso multiplicar os esforços nesse sentido: “espero que Portugal possa atrair mais investimento estrangeiro e mais talento para áreas como a investigação – veja-se o que têm feito os investigadores do Instituto de Medicina Molecular e da Fundação Champalimaud nas últimas semanas – e a saúde. Portugal vai manter-se como uma geografia mais barata para este tipo de investimento, e com talentos que saem reforçados depois do que têm feito” na luta contra esta pandemia, acredita a responsável.
Let’s stay positive. Let’s do this
O telefonema terminou porque a empresária tinha uma reunião logo depois da conversa com a EXAME, e Chitra parecia tão ocupada como sempre, a traçar já as estratégias para aquilo que serão os próximos tempos. É a segunda crise que Chitra e Roman Stern enfrentam em Portugal – lançaram a primeira pedra do Martinhal de Sagres em 2008, pouco tempo antes da falência do Lehman Brothers, e 12 anos depois chegou a pandemia por Covid- 19 – mas nem isso parece diminuir-lhes o entusiasmo. Para já, e apesar do lay-off temporário, o casal está otimista na retoma. E foi precisamente com essa mensagem que Chitra se despediu: “Let’s stay positive. Let’s do this”