Encontrar uma loja que seja parceira nas imediações, através da aplicação, entrar no espaço comercial e scanar o saco, recebendo um cupão de desconto. Depois, fazer as compras, levá-las para casa num saco ambientalmente responsável e receber um código de cada vez que atingir um determinado valor. Inserir esse código no nosso perfil e garantir que plantam mais uma árvore na Zâmbia, a zona onde a GoodBag tem atualmente parceiros comprometidos em reflorestar uma das zonas que mais têm sofrido com as alterações climáticas e a desflorestação.
O processo é simples. E quanto mais compras fizermos, mais cupões de descontos poderemos receber e utilizar de cada vez que levarmos connosco o nosso GoodBag. “As pessoas são mais motivadas por recompensas do que por sanções”, começa por explicar Christoph Hantschk, cofundador e CEO da startup austríaca que passou três meses em Portugal a ser acelerada, no âmbito do programa Maze X.
Este projeto, que é destinado a ideias de impacto que resolvam alguns dos atuais desafios sociais e ambientais, nasce duma parceria entre a Fundação Calouste Gulbenkian – à qual pertence a venture Maze – e a Fundação Edmond de Rothschild. Conta ainda com o apoio da PLMJ como membro fundador corporativo. O BNP Paribas e a Casa do Impacto são os parceiros de aceleração e foi precisamente nesta última que Christoph passou a maior parte do seu tempo em Lisboa.
Mas foi nas instalações da fundação Calouste Gulbenkian que a EXAME falou com o empreendedor, que se preparava para apresentar o projeto a vários investidores, na tarde desse mesmo dia. “Comecei a pensar na ideia do GoodBag durante uma viagem à Austrália, onde usava muitas aplicações que davam feedback imediato sobre o desporto que eu estava a praticar, por exemplo. E pensei que seria bom usar a tecnologia para motivar as pessoas e mostrar-lhes que cada ação realmente conta, em tempo real.” Licenciado em Economia, juntou-se a dois amigos e criaram a ideia do GoodBag no final de 2016.

© Luís Barra
Menos de três anos depois, têm presença em Viena, mas também em centenas de lojas na Suíça, em Londres e já entraram em Lisboa, onde querem alargar a rede de parceiros. O objetivo, explica Christoph, é não só diminuir o uso dos sacos de plástico mas também educar lojistas e consumidores. A plantação de árvores, que é feita através de parcerias com organizações não governamentais, como a We Forest, é o fechar do ciclo da sustentabilidade: não chega diminuir o uso do plástico, é preciso compensar o estrago que já se causou e os especialistas acreditam que a plantação de árvores é o caminho mais seguro para travar, por exemplo, o aquecimento global. Atualmente, há já 500 agricultores da Zâmbia envolvidos no projeto, uma forma de educar e envolver também as comunidades locais.
“Fazei o bem a vós mesmos fazendo o bem”
A ideia do Maze X, que tem um alcance europeu, é fazer chegar à comunidade produtos e serviços que possam efetivamente contribuir para a melhoria da qualidade de vida de populações
economicamente vulneráveis, bem como agir em prol de um mundo mais sustentável. Desta forma, tanto a fundação Gulbenkian como a Rothschild tentam dar continuidade àquilo que está na base da sua criação enquanto provedoras de serviços que cumpram a sua responsabilidade social. Esta é uma “oportunidade para demonstrar que a resolução de problemas sociais e ambientais representa também oportunidades económicas, pelo apoio a soluções que aliam retorno financeiro com impacto social e ambiental positivo”, explicou à EXAME Luís Jerónimo, diretor do Programa Gulbenkian de Coesão e Integração Social, aquando da revelação das 10 startups que tinham sido escolhidas para esta primeira edição do Maze X.
Na ocasião, o responsável salientou também o atual “posicionamento de Portugal enquanto plataforma de Tech for Impact, pela sua dimensão privilegiada para ser um local de experimentação e potencial replicação a nível europeu e ainda a inexistência de uma aceleradora de impacto de alcance europeu”. Tudo razões que tornaram esta iniciativa praticamente óbvia para as duas instituições.
O programa Maze X terá pelo menos três edições, garantiu Jerónimo à EXAME, apesar de não querer revelar qual o montante investido no projeto, e recebeu 138 candidaturas de 32 países, com 15 áreas de intervenção distintas, mas com especial enfoque na sustentabilidade, na economia circular e na educação. Este ano há quatro geografias representadas (Portugal, Alemanha, Áustria e Reino Unido) e projetos que vão desde um sistema de irrigação que prevê automaticamente o melhor plano para vários ambientes e cultivos, permitindo uma poupança significativa de água e energia, até uma app que possibilita que os pais conheçam a comunidade de pais mais próxima e que troquem de forma gratuita, espontânea e segura, serviços de babysitting.
Mas há também projetos que querem apelar à participação cívica dos mais novos. É o caso do My Polis, criado por cinco amigos e que já acumula distinções do Montepio Social Tech, da Representação da Comissão Europeia em Portugal e da MomentUm Portugal, e que, mais recentemente, foi escolhida para integrar o Maze X. “Basicamente, esta nossa aplicação permite ter acesso às opiniões dos cidadãos de forma muito mais barata e mais rápida, e permite que os municípios estimulem a participação dos jovens. E o nosso trabalho é precisamente o de criar um espaço onde estes dois lados – governantes e cidadãos – possam entrar em contacto”, explica Bernardo Gonçalves.
Enquanto se licenciava em Economia e era presidente da Associação de Estudantes da Nova Business School, Gonçalo sentiu que era difícil perceber o que a comunidade escolar pretendia dele, sobretudo tendo em conta a fraca participação a que os mais novos estão habituados. Foi a partir daí que quis desenvolver um projeto que envolvesse os jovens nas decisões que são tomadas pelas autoridades, começando pelos municípios. A aplicação Academia My Polis quer levar a política para a distância de um ecrã e transformar a participação numa espécie de jogo: através desta app é possível fazer propostas, votar em ideias e ver se estas estão a avançar ou não.
Por outro lado, os municípios ou uniões de freguesias aderentes – a contratação dos serviços My Polis varia entre os 5 mil e os 30 mil euros anuais – têm acesso imediato àquilo que são as preocupações ou sugestões da população, além de usufruírem de um conjunto de serviços que a startup fornece com a aplicação: atividades no terreno para divulgar a iniciativa, comunicação externa e análise de impacto. E já há municípios e freguesias a desenvolverem projetos que foram sugeridos pelos mais novos e que tiveram cabimento nos orçamentos anuais, como um Jornal da Juventude, financiado pela União das Freguesias de Massamá e Monte Abraão.
Durante os meses que passaram na aceleradora, os cinco amigos foram desafiados a pensar no mundo corporate como acelerador de impacto: como fazer com que as empresas contribuam para a comunidade em que se inserem? “Queremos ter uma solução afinada para que as empresas consigam criar impacto e aplicar essa solução a 10 empresas e a 50 cidades em Portugal em 2020”, esclareceu Bernardo. Mas os olhos da equipa My Polis já estão postos no estrangeiro, também, com conversações a decorrer em municípios de Espanha e do Brasil, e com possibilidade de alargamento a outras geografias. Atualmente, os municípios de Lagoa, Portimão e Oeiras já usam os serviços My Polis, além da União de Freguesias de Massamá e Monte Abraão. Em todas as localizações está a ser feito um trabalho junto das escolas para conseguir chamar mais jovens para a utilização desta plataforma.
Roadshow internacional
Os responsáveis da Maze X explicaram ainda à EXAME que, além da rede alargada de contactos que este programa permite aos participantes, e que inclui investidores nacionais e internacionais, com “o apoio das fundações [Gulbenkian e Rothschild], será possível a realização de um roadshow internacional em três capitais europeias”. Recorde-se que esta não é a primeira vez que ambas as instituições trabalham em conjunto, tendo já ao longo dos anos realizado alguns eventos em parceria “como foi o caso do acolhimento em Lisboa do programa de fellows da Rothschild”, no ano passado, nota Luís Jerónimo. Na ocasião, os participantes da edição de inverno do The Ariane de Rothschild Fellowship – que junta especialistas em programas de inovação social e pretende fazer a ponte entre as minorias da Europa e da América do Norte – passaram uma semana em Lisboa. Participaram em eventos da Academia de Código, em conferências e conheceram iniciativas na área da inovação social. Projetos como este têm permitido “sinalizar áreas de trabalho comuns, nomeadamente no que diz respeito às áreas do investimento de impacto”.
Pioneira na CMVM
Reflexo deste empenho nas causas sociais, a sociedade de empreendedorismo social da Maze – a Mustard Seed Maze – foi a primeira do género a ser registada na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), em novembro do ano passado. Em comunicado enviado pelo regulador na ocasião, a CMVM dava conta de que a Mustard Seed Maze já tinha também iniciado a constituição “do primeiro fundo de empreendedorismo social, o Mustard Seed Maze Social Entrepreneurship Fund I, ao abrigo do regime jurídico do capital de risco, do empreendedorismo social e do investimento especializado em vigor”. De acordo com a CMVM, “qualquer pessoa pode investir em sociedades e em fundos de empreendedorismo social, mas os montantes em que pode investir dependem de ser um investidor profissional ou não”. Até ao fecho desta edição, não havia, na mesma entidade reguladora, nenhuma outra sociedade do género registada em Portugal. E empreendedorismo
Artigo originalmente publicado na edição n.º 424, de agosto de 2019, da revista EXAME