O antigo presidente do Infarmed, Eurico Castro Alves, foi anunciado como administrador da Symtomax, uma das empresas que pretendem produzir canábis medicinal a partir de Portugal. A empresa espera que esta nomeação, que data do início deste mês, ajude ao seu crescimento enquanto player de referência desta substância no mercado europeu.
“Estou satisfeito por esta ligação à Symtomax e espero ajudar ainda mais o negócio a nível estratégico, bem como a impulsionar a empresa em termos técnicos,” disse o novo responsável, citado num comunicado. “A sua indicação traz experiência e conhecimento único ao mais alto nível, e estamos muito satisfeitos por um membro tão reconhecido na comunidade internacional da saúde se ter juntado a nós,” referiu na mesma nota o chairman da Symtomax, Paul Segal.
A EXAME tentou contactar Eurico Castro Alves mas, até ao momento, não foi possível obter respostas.
Castro Alves foi também secretário de Estado da Saúde, cargo que ocupou, durante cerca de um mês, no segundo Governo de Passos Coelho. É licenciado em Medicina e completou formação em Cirurgia Geral nos EUA, sendo diretor do departamento de cirurgia no Centro Hospitalar do Porto. Durante sete anos foi vogal da Entidade Reguladora da Saúde e tem uma empresa de consultoria na área da saúde, a WiseHS. Foi ainda uma das personalidades que participou na candidatura do Porto para receber a sede da EMA – Agência Europeia do Medicamento.
O Infarmed, que liderou entre 2012 e 2015, é a instituição a quem cabe regular e supervisionar todo o ciclo da canábis para fins medicinais no país desde o cultivo, incluindo autorizar medicamentos, preparações e substâncias à base da planta e aprovação das indicações terapêuticas. O uso terapêutico de produtos derivados desta planta no País foi autorizado em julho do ano passado.
A Symtomax, criada há dois anos em Portugal, é detida maioritariamente (64,24%) por duas entidades estrangeiras, a Ruby Global Foundation e a Good Will Universal Foundation, ambas localizadas no Panamá. Com sede no Porto, a empresa diz possuir uma das maiores áreas licenciadas na Europa, com 105 hectares na região de Beja, 95 dos quais estarão aprovados para cultivo. Liderada por Minette Coetzee, a empresa anunciou em março passado anunciou ter recebido autorização de construção de instalações por parte das autoridades portuguesas, onde espera empregar 70 pessoas.
Recentemente, outros ex-titulares de cargos políticos integraram administrações ou tornaram-se consultores de empresas neste setor em Portugal. Ângelo Correia, antigo ministro e deputado social-democrata, mantém-se como administrador da Terra Verde, depois de ter vendido a sua participação nesta companhia à britânica EMMAC. Jaime Gama, antigo presidente da Assembleia da República e ministro socialista da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, é desde o final do ano passado consultor da Tilray, a empresa canadiana que inaugurou em abril a sua primeira unidade industrial em Cantanhede.
De acordo com a Forbes, que cita um fundador da VF1883 Pharmaceuticals, também o antigo secretário-geral do PS, António José Seguro, terá sido convidado a integrar a administração desta empresa sediada em Amarante.