Entre 2000 e 2016, não houve um único ano em que Portugal tenha crescido mais rápido do que a totalidade dos países da moeda única. O melhor que conseguiu foi ter uma recessão menos violenta em 2009. Isso mudou em 2017, com a economia do país a acelerar para 2,8%, o valor mais alto em 18 anos, e a expectativa dos técnicos comunitários é que a atividade portuguesa continue a ter resultados melhores do que a Zona Euro.
A última vez que uma convergência por vários anos aconteceu foi entre 1996 e 1999, um período em que Portugal suplantou largamente o euro, com diferenças próximas de dois pontos percentuais. Agora, as distâncias são mais curtas – entre 0,1 e 0,4 pontos -, mas permitem ao País voltar a aproximar-se do “pelotão da Europa”. Foi preciso esperar quase duas décadas para isso voltar a acontecer.
Isso significa que está tudo bem com a economia nacional? Nem por isso. Por vários motivos. Por um lado, a manhã de quinta-feira mostrou que a Comissão Europeia acha que Portugal vai crescer mais devagar do que se previa este ano, revendo a sua previsão de 1,8% para 1,7%. Muito abaixo dos 2,2% estimados pelo Governo no Orçamento do Estado e próximo dos 1,8% esperados pelo Banco de Portugal. Em relação a 2020, Bruxelas mantém uma previsão de 1,7%.
Por outro lado, embora ultrapasse o ritmo da Zona Euro, o crescimento português não se destaca entre os restantes países europeus. Portugal deverá aproximar-se dos gigantes, ao crescer mais rápido do que Itália, Alemanha e França, mas fica longe do crescimento de Roménia, Eslováquia e Letónia, por exemplo. Dos 28 países da União Europeia, Portugal apresenta a 10.ª variação mais modesta do produto interno bruto (PIB). Será o sexto mais baixo da Zona Euro.
Isso acontece porque as grandes economias têm um peso muito grande na totalidade da economia da moeda única. Se crescem menos, isso influencia de forma decisiva o agregado da Zona Euro. Importa ainda referir que economias emergentes tendem a apresentar maior dinamismo do que economias mais desenvolvidas. Os últimos 20 anos têm colocado Portugal numa posição desconfortável: uma economia pequena que não consegue crescer.
Por último, não sabemos se estas previsões vão mesmo confirmar-se e os desvios, a acontecerem, não deverão ser em sentido positivo. “A expansão económica deverá abrandar ainda mais, devido em grande parte a uma contribuição mais fraca das exportações líquidas”, explica a Comissão. “O crescimento do consumo privado só deverá diminuir marginalmente, enquanto o investimento deverá acelerar ligeiramente, apoiado numa maior absorção de fundos comunitários.”
A Comissão estima que Portugal tenha crescido 2,1% no ano passado e que avançará 1,7% este ano e no próximo. Não são variações muito impressionantes, mas recorde-se que, entre 2002 e 2015, o País cresceu a um ritmo médio de 0,1% ao ano. Em parte, porque teve quatro anos de contrações do PIB, mas também porque o crescimento já era débil anteriormente.
“Os riscos da previsão parecem ser negativos, uma vez que a deterioração da procura externa e uma maior incerteza mundial pode ter repercussões negativas nas decisões de investimento empresarial”, acrescenta a Comissão.
Demasiada incerteza
Nestas novas previsões, os técnicos comunitários fizeram uma forte revisão em baixa do crescimento da Zona Euro para este ano, de 1,9% para 1,3%. “Após o pico de 2017, a desaceleração da economia da UE deverá continuar em 2019 com um crescimento de 1,5 %. Este abrandamento deverá ser mais pronunciado do que o previsto no outono passado, especialmente na área do euro, devido a incertezas no comércio mundial e a fatores internos nas maiores economias”, explicou Pierre Moscovici, Comissário responsável pelos Assuntos Económicos e Financeiros. “Não obstante, os princípios fundamentais da nossa economia permanecem sólidos e continuamos a ter boas notícias, em especial no que se refere ao emprego. O crescimento deverá retomar gradualmente na segunda metade deste ano e em 2020:”
Além disso, tal como para Portugal, as previsões para a Zona Euro podem até ficar aquém destes valores. A Comissão cita tensões comerciais como “fator de preocupação”, ao mesmo tempo que o abrandamento da economia chinesa e o Brexit também preocupam.