Os últimos três meses do ano, que costumam ser os mais fortes para as marcas de grande consumo, parecem não ter corrido de feição à Apple. A tecnológica deu notícias amargas aos investidores esta quarta-feira, 2 de janeiro, ao rever em baixa as previsões de receita para a reta final de 2018: em vez dos $89 a $93 mil milhões (€78,2 a €81,8 mil milhões) esperados em novembro para aquele período, a empresa liderada por Tim Cook aponta agora para $84 mil milhões (€73,8 mil milhões).
Em mais de 15 anos, é a primeira vez que a companhia revê em baixa uma previsão de receitas trimestrais, o que deixou os investidores de pé-atrás em relação a uma das mais valiosas e rentáveis empresas do mundo. As ações da Apple terminaram a sessão de quinta-feira com a maior queda diária em seis anos, a perder quase 10%, no preço mais baixo em quase um ano e meio (julho de 2017) e depois de ter visto o seu valor descer em 30% ao longo do último trimestre de 2018.
No centro do comportamento das vendas do fabricante do icónico iPhone para aquele que é o primeiro trimestre fiscal da empresa da maçã está o fraco desempenho em particular na região da Grande China – que representa um quinto do total das suas receitas – e constrangimentos no lançamento de dispositivos anunciados recentemente, como a série 4 do Apple Watch, o iPad Pro, os auscultadores AirPods e o computador portátil MacBook Air, justificou Cook em carta aos investidores ontem depois do fecho da sessão nos EUA.
O abrandamento da economia chinesa (também a braços com uma guerra comercial com os Estados Unidos) a partir do segundo trimestre e a incerteza nos mercados financeiros contagiaram os consumidores e refletiram-se fortemente no mercado de smartphones e no desempenho das lojas da Apple naquela região, afetando sobretudo a venda de iPhone, justificou o CEO, mas também de Macs e iPads.
Os analistas, por outro lado, apontam o dedo ao preço dos aparelhos. “As vendas da Apple na China não têm estado a correr bem há alguns trimestres, em parte porque os preços subiram de mais – passando a marca dos $1 000. É quase três vezes mais caro do que os smartphones de outros fabricantes que estão a inundar o mercado,” afirmou Kiranjeet Kaur, da IDC, citado pela Reuters. “A questão para os investidores é até onde foi exacerbada a estratégia agressiva de preço da Apple e o que é que isto significa para a capacidade de preço da companhia no longo prazo no que diz respeito aos iPhone,” acrescentou James Cordwell, da Atlantic Equities.
O aparelho-estrela não desiludiu apenas na China. “Em alguns mercados desenvolvidos, as compras de novos iPhone não foram tão fortes quanto esperaríamos que fossem,” admitiu o presidente executivo. Fora do negócio iPhone, onde há menor exposição a mercados emergentes, as receitas no geral até terão crescido – 19%.
Além da desaceleração económica, Cook dá outras três explicações para a travagem nas vendas de produtos nestes mercados: a força do dólar (que encarece os produtos), o recurso dos clientes a condições vantajosas de troca de bateria (que adia a compra de novos aparelhos) e a redução de subsídios dos operadores à compra de dispositivos, que deixaram de diluir o preço total dos aparelhos nas faturas dos meses de fidelização.
O CEO garante porém que a rentabilidade e geração de cash-flow da empresa é forte e que espera, apesar do trimestre desapontante, terminar o ano com um máximo recorde nos lucros por ação. E afirma por outro lado que não vai deixar de inovar e lançar novos produtos. Para melhorar os resultados, propõe-se encontrar formas de facilitar a troca de telemóveis nas suas lojas e de financiar a compra de dispositivos.
Notícia atualizada com valor da ação no fecho da sessão de quinta-feira, 3 de janeiro