O Professor Yuval Noah Harari no seu mais recente livro “21 Lições para o Século XXI” lança-nos uma inquietante discussão sobre “O Desafio Tecnológico” em diferentes dimensões. O impacto no mundo do trabalho chamou-me particular atenção pelo facto de não estarem ainda devidamente ponderadas as consequências já não da substituição da força “física” do humanos ou animais por máquinas, mas agora e também de substituir a componente a nossa própria componente cognitiva.
Não resulta claro para mim a que níveis chegaremos de substituição por máquinas, da parte cognitiva, e muito menos com que velocidade, e portanto partilho estas notas com os leitores, assumidamente mais com dúvidas (pertinentes – espero) do que com conclusões.
Parece qualquer das formas inquestionável que desde a Revolução Industrial nos finais do século XIX, os chamados “ganhos de produtividade” são significativos à escala global com a introdução das diferentes tecnologias, desde a introdução do motor e da substituição da mão de obra humana e dos animais na agricultura, até à robotização nas fábricas de automóveis, passando pelos sofisticados meios de diagnóstico aplicados em diferentes áreas da medicina.
Análise recentes demonstram que os ganhos de eficiência e por isso de produtividade, são cada vez maiores ao longo do tempo e que por isso, e sucessivamente, à medida que mais e sofisticadas tecnologias surgem, e são introduzidas na sociedade, geram maior riqueza. Especialistas em macroeconomia afirmam que nunca houve tanta riqueza criada à escala global, e que só este elevado nível de “stock de cash” actualmente acumulado justifica movimentos especulativos nos mercados, bem como por exemplo investimentos nos chamados “unicórnios” – empresas da “nova economia” e do mundo digital valorizadas acimas de mil milhões de dólares (1B usd), ou ainda a “febre” das bitcoins, igualmente denominadas moedas virtuais.
Este excesso de “cash” à escala global, motivado por ganhos de eficiência, resultado da introdução de tecnologias, conjugado com a possibilidade de estas mesmas porem em causa algum tipo de profissões que não só as de natureza mais “mecânica” origina-me algumas questões sobre as quais os estados e as sociedades -estou em crer-, vão em breve debater de forma intensa e eventualmente nada agnóstica do ponto de vista ideológico.
1ª questão: sendo o factor trabalho um dos classicamente tributados do ponto de vista fiscal, como vão os estados garantirem os mesmos níveis de receitas, se em tese (a demonstrar) existirem cada vez menos pessoas a trabalhar nos horários e nas funções clássicas, tal e qual hoje as conhecemos?
2ª questão: se se gera cada vez mais riqueza que novos (ou actuais postos em prática) mecanismos se activam para garantir uma maior equidade na (re)distribuição da riqueza? Igualmente partindo do princípio que assenta na falta efectiva de uma boa (re)distribuição da riqueza à escala global, e a nível micro dentro de cada país, uma importante origem de instabilidade e precaridade social – nalguns casos difícil de aceitar em pleno século XXI.
E na sequência destas duas questões termino com a “questão chave” para reflexão do leitor: se geramos mais riqueza e ficarmos com pessoas com níveis de formação elevados desempregadas ou com menos procura por parte do mercado de trabalho, das duas uma – ou deixamos de produzir tanta riqueza (algo que não parece possível) ou teremos que equacionar mecanismos de “rendimento mínimo” que terão que ser distribuídos a uma faixa cada vez maior da população, como forma de conseguir manter um equilíbrio social mínimo e saudável.
A questão é complexa (e para já completamente teórica), mas pense então o leitor onde nos vai levar esta crescente geração de riqueza e no fim, e para que nos servirá mesmo.