Há um novo “inimigo” do planeta na mira dos cientistas que estudam as alterações climáticas na Terra. Segundo um paper divulgado esta segunda-feira, o processo de transação de criptomoedas como a Bitcoin, que exige grandes quantidades de energia, pode vir a tornar-se numa fonte problemática de geração de dióxido de carbono (CO2), contribuindo para o aumento da temperatura média global do planeta.
O paper, publicado no jornal Nature Climate Change e citado pelo The Telegraph, estima que se o ritmo de adoção da tecnologia por detrás da Bitcoin seguir o de outras tecnologias que viram o seu uso generalizado nos últimos anos, a produção de emissões de CO2 será suficiente para aumentar a temperatura do planeta em 2 °C em menos de três décadas, até 2033, o que teria consequências “catastróficas” para a vida na Terra.
Em causa está, segundo o Telegraph, a energia elétrica usada pelos computadores que estão dedicados à resolução de equações matemáticas complexas para a mineração de Bitcoin. Um exemplo: um estudo sobre a pegada carbónica da Bitcoin, e conduzido por Jon Truby, diretor do Centre for Law and Development da Qatar University, concluiu que as exigências energéticas dos processos de transação de uma Bitcoin assemelham-se às necessárias para abastecer uma casa média no Reino Unido durante um mês.
Nesse estudo, conhecido em julho passado, Truby defendia a necessidade de novas políticas para incentivar o uso de tecnologias ecológicas de blockchain (que estão na base de criptomoedas como a Bitcoin), sem as quais vários países podem ver ameaçado o cumprimento das suas obrigações de redução das alterações climáticas no âmbito do Acordo de Paris (que pretende que o aumento da temperatura média global não supere os 2°C em relação aos níveis pré-industriais).
“As verificações de transações de Bitcoin são um processo poluente, requerendo um funcionamento intensivo de computadores em todo o mundo, 24 horas por dia, produzindo grandes quantidades de calor e emissões,” refere uma nota da Elsevier sobre o estudo que se dedica a estimar o impacto da tecnologia blockchain e das moedas digitais nas necessidades energéticas.
Camilo Mora, professor no departamento de Geografia e Ambiente da Universidade do Hawaii e responsável pelo paper conhecido esta segunda-feira, admite que a mineração de Bitcoin se tem tornado mais eficiente e pode acabar por vir a consumir menos energia. Mas este é ainda assim, salvaguarda, sempre um cenário hipotético e que comporta um grande risco: “Pode ser algo que venha a acontecer amanhã ou que nunca venha a acontecer de todo,” avisa.