O antigo Presidente da República foi o orador de referência do XVII Encontro Fora da Caixa – uma iniciativa da Caixa Geral de Depósitos de que a EXAME é parceira -, e pediu a todos os presentes que olhem para o futuro para conseguir compreender o presente e minorar os riscos que o rápido desenvolvimento tecnológico poderá colocar à sociedade.
Ramalho Eanes falava para um auditório Luisa Todi, em Setúbal, completamente lotado, no arranque de uma tarde que quer olhar para a indústria da região e que conta com a presença de vários empresários e líderes desta zona do país. A iniciativa ‘Fora da Caixa’ pretende, nas palavras de José João Guilherme, administrador da CGD , “a materialização daquilo que é a função de um banco – estar com os seus clientes, perceber, falar com eles. Encontrar soluções para os seus anseios”.
Um objetivo aplaudido por Ramalho Eanes logo no início da sua intervenção, quando elogiou o “diálogo de reflexão” que este formato permite, sobretudo vindo de uma “instituição que a todos diz respeito e que a todos pertence”.
Num discurso marcado por uma viagem pela história das várias revoluções industriais a que o mundo – e Portugal, concretamente – assistiu, Eanes salientou os riscos e os receios que cada uma foi trazendo em cada época, bem como expôs as várias políticas de criação de emprego e as dificuldades em ler os desafios do momento.
Salientando algumas das grandes obras públicas desenvolvidas sobretudo após a revolução do 25 de abril, Eanes não esqueceu, porém, o contributo da iniciativa privada no desenvolvimento nacional e na criação de algumas infra-estruturas que ainda hoje marcam a economia nacional.
“Portugal é hoje um país razoavelmente industrializado e com condições para aproveitar a nova revolução industrial. Como sabem, não há consenso sobre o número desta revolução – uns acreditam que é a 3.ª e outros apelidam-na de 4.0”, atirou o antigo Presidente na parte final da sua viagem pelas revoluções, e antes de elencar as várias alterações que advêm deste novo tempo de digitalização e desenvolvimento tecnológico.
“A máquina tende a tornar-se a mão de obra e as relações” entre trabalhadores e máquinas tendem a alterar-se, salienta. “Continuarão a reduzir-se o número de funcionários necessários para as nossas indústrias”, acredita, antes de avisar que as empresas criadas nesta nova era – “como a Uber ou a AirBnB, empresas assentes em poderosos algoritmos” – não estão a criar postos de trabalho em número suficiente para atenuar a destruição dos que se encontram ameaçados por esta crescente automatização e digitalização.
No remate final, Ramalho Eanes salientou o agravamento das desigualdades entre cidadãos, tanto em Portugal como em outros países – nomeadamente nos EUA, onde as diferenças entre pobres e ricos se tem agravado consideravelmente nos últimos anos.
“A grande revolução industrial ainda está, creio, bem longe”, sublinhou ainda, explicando que fala daquela que “permitirá trabalhar átomo por átomo, separá-los e voltar a juntá-los”. “Todas as mudanças operadas na economia, sociologia e emprego obrigam a uma formação de alta qualidade e de alto ajustamento. E implicam que haja nestas áreas e domínios uma forte intervenção do Estado”, defendeu o general, antes de voltar a repetir que é preciso que não se descure a educação como política pública em que tem, obrigatoriamente, de se investir.