Christopher Wylie, o antigo funcionário da Cambridge Analytica que denunciou as práticas da empresa sobre a apropriação de dados de utilizadores do Facebook afirma que “há várias razões” pelas quais considera “a empresa problemática”. E garante que “eles não querem saber se o que estão a fazer é legal ou não, desde que o trabalho fica feito”.
Perante deputados do Parlamento britânico, o especialista explica o funcionamento da empresa que nos últimos dias tem estado sob holofotes devido às suspeitas de práticas ilegais que poderão ter influenciado as eleições americanas e o referendo do Brexit. Perante os deputados, Wylie reiterou que a Cambridge Analytica faz muitos negócios em África, com políticos de topo, lembrando que “não é companhia que faz a gestão de cada negócio, mas é quem os facilita”, com base “na alargada rede de contactos que tem mundialmente”.
Questionado sobre o presidente da Cambridge Analytica, que foi suspenso há seis dias “enquanto uma investigação completa” tem lugar, Wylie afirmou aos deputados que Alexander Nix entrou para a companhia porque o seu pai tinha ações da mesma, e esclareceu que o responsável não tem qualquer background em tecnologia, psicologia, política ou qualquer outro ramo essencial do negócio. No entanto, “era especialista de vendas”, afirmou ainda o antigo funcionário. E quando questionado sobre se Nix tinha dito a verdade sobre o facto de a empresa nunca ter usado informações provenientes do Facebook, Wylie foi peremptório: “É categoricamente mentira que a Cambridge Analytica nunca tenha usado dados do Facebook”.
Durante a mesma intervenção, Wylie sublinhou que, embora não possa afirmar com certeza qual a dimensão da intervenção da Cambridge Analytica no processo de decisão dos britânicos sobre o referendo do Brexit, é “recomendável que o comité desse às autoridades todo o apoio para que seja investigado o que foi feito durante o referendo”. E esclareceu, perante a cautelados deputados, que “não pode haver desenvolvimento de targeting software [que permite uma abordagem individualizada] sem haver acesso aos dados aos utilizadores!” Alguns minutos mais tarde, o especialista afirmou que a “batota” do movimento ‘Vote Leave’ – que pedia a saída do Reino Unido da União Europeia – pode, efetivamente, ter alterado o resultado do referendo.
As taxas de conversão durante a campanha foram “incrivelmente efetivas”, explicou ainda, antes de repetir que “é perfeitamente aceitável dizer que, sem batota, o resultado do referendo teria sido diferente”.
O presidente da comissão que está a ouvir Wylie, Damian Collins, afirmou entretanto que o antigo funcionário da companhia forneceu aos deputados uma quantidade considerável de documentos que sustentam as suas afirmações e que vão ser analisados, podendo ser tornados públicos ainda esta semana. Recorde-se que as práticas da Cambridge Analytica já tinham sido postas em prática e denunciadas anteriormente e que estão na corrida para se tornarem num dos maiores escândalos da história da democracia.