Há mais duas empresas que se preparam para deixar a bolsa nacional e deram conta dos seus planos para tal no mesmo dia. Luz Saúde e SAG comunicaram esta quarta-feira, 21 de março, ao mercado a sua intenção de perda de qualidade de sociedade aberta, juntando-se assim a várias outras cotadas que nos últimos meses abandonaram a negociação em bolsa.
Primeiro foi a Luz Saúde a apresentar a proposta que fará em assembleia-geral da empresa. Em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a firma liderada por Isabel Vaz considera que o facto de os dois principais acionistas (os chineses da Fosun e a Fidelidade, também detida pela Fosun) terem nas suas mãos a quase totalidade do capital da Luz Saúde (98,788%) não se justifica que se mantenha o estatuto de sociedade aberta.
Em 2014, aquando da OPA lançada pela Fidelidade, a seguradora ficou com 96% da Luz Saúde e, nos anos seguintes, foi reforçando a sua posição para chegar ao valor atual. Em outubro do ano passado a Fidelidade transferiu para a Fosun 49% da Luz Saúde.
Para a saída de bolsa – que será decidida na reunião magna extraordinária de acionistas a 13 de abril – a dona do Hospital da Luz propõe pagar aos acionistas que detêm o capital remanescente (pouco mais de 1%) uma contrapartida de 5,71 euros, que pressupõe um prémio de 90,3% em relação ao preço de fecho da sessão de ontem (3 euros por título).
Esta quinta-feira, de acordo com dados da Euronext, a ação ainda não transacionou. Citada pelo Eco, a gestora da bolsa de Lisboa refere que foi desencadeado um travão automático que suspendeu a negociação dos títulos perante uma elevada volatilidade no mercado e que a situação pode manter-se durante vários dias.
Poucas horas depois da Luz Saúde foi a vez de a SAG ter comunicado também à CMVM a intenção de sair da bolsa. No caso da dona da SIVA e importadora da Volkswagen para Portugal, João Pereira Coutinho e a própria empresa detêm juntos 88,6% dos direitos de voto na SAG Gest, colocando o free float em 10,04%.
Como argumentos para a saída de bolsa a empresa apresenta o “aparente afastamento dos acionistas minoritários da vida societária e institucional da SAG,” que se reflete na “escassa comparência dos acionistas minoritários das assembleias gerais da SAG” e no contacto “esporádico” desses acionistas com a SAG. Ao contrário da Luz Saúde, a dona da SIVA não indica contrapartida para a compra do capital que, na reunião, não aprovar a proposta de perda de sociedade aberta. A assembleia geral extraordinária está marcada para 12 de abril, onde pelo menos 90% dos acionistas terão de dar luz verde à proposta. As ações sobem 6,38% para 0,175 euros.
A sucessora da Espírito Santo Saúde, coincidentemente, tinha sido a última nova empresa a cotar em Lisboa, em Fevereiro de 2014. Mas antes da Luz Saúde e da SAG Gest, outras empresas encetaram ou concluíram nos últimos meses a saída da bolsa portuguesa. A Cimpor e as unidades do fundo de participação do Montepio deixaram de cotar no ano passado, enquanto Sumol+Compal e SDC Investimentos também aprovaram a perda da qualidade de sociedade aberta.
À EXAME, o presidente da Euronext Lisboa, Paulo Rodrigues da Silva, disse recentemente que se esperam novas entradas na praça portuguesa este ano, na ordem do “single digit”. Na semana passada a fintech portuguesa Raize anunciou ter contratado o banco de investimento Haitong e a sociedade de advogados Uría Menéndez para apoiar a oferta pública inicial da empresa, que deverá acontecer no segundo ou no terceiro trimestre deste ano. Outras empresas portuguesas, como a Feedzai, a Impacting Group ou a Flexdeal também já manifestaram intenção de cotar em bolsa nos próximos anos.
Notícia atualizada às 14:27