As mudanças estranham-se, mas depois entranham-se. Em 2007, num artigo de opinião no Público, o constitucionalista Jorge Miranda interrogava-se: “Mestrados em Inglês?”, insurgindo-se contra o “mais cerrado novo-riquismo” da prática, questionando a sua constitucionalidade. “Infelizmente, já há poucas coisas que me causem espanto. Ao que me disseram, na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa as reuniões do conselho científico decorrem em inglês! Como é possível que um órgão administrativo de uma entidade pública portuguesa funcione sem ser em língua portuguesa?”
À distância de uma década, as críticas silenciaram-se. Aliás, nas universidades e politécnicos portugueses, entre licenciaturas, mestrados e doutoramentos, já há mais de 170 programas lecionados em inglês, com as escolas de negócios na linha da frente. E na Nova SBE, acrónimo orgulhosamente anglo-saxónico para Nova School of Business and Economics, não é só a língua que se fala nas reuniões, salas de aulas e corredores que é estrangeira. Também é a mentalidade desta escola de negócios, que, com a Católica Lisbon School of Business & Economics e a Porto Business School, figuram nos rankings internacionais que avaliam a qualidade de ensino da Gestão e da Economia – galgando posições todos os anos.
Na última lista do ranking do Financial Times (FT), que elenca as 85 melhores escolas de negócios na Europa, publicado no final de 2015, figuram, respetivamente, na 28.ª, 26.ª e 62.ª posições – num ranking onde a inglesa London Business School, a HEC Paris France e o Insead se destacam no pódio. França lidera em número de escolas (22), seguida do Reino Unido (20) e, já de muito longe, a Alemanha (8). Espanha apresenta cinco instituições; Bélgica, Holanda e Suíça têm quatro; Itália, três, como Portugal.
Em setembro, os rankings da mesma publicação, que distinguem os 90 melhores mestrados internacionais em Gestão, colocaram o programa da Nova SBE em 17.º lugar (estava em 63.º em 2015) e o da Católica Lisbon SBE em 52.º (em 61.º no ano anterior). Novamente os programas em França (28) e Reino Unido (18) lideram.
É sobretudo através destes programas de mestrado pré-experiência (o segundo ciclo de Bolonha, de dois anos) que as escolas nacionais estão a crescer. Na Católica, a capacidade do campus, virado para a Avenida dos Combatentes, não está a chegar para tanta procura. “Temos um problema de espaço. Este ano crescemos de 310 para 360 inscritos nos programas de mestrado, mas não podemos aceitar mais. Estamos ativamente a trabalhar numa solução e esperamos ter algumas novidades para apresentar nesse sentido em 2017”, explica Francisco Veloso, diretor da instituição, onde o principal mestrado internacional já conta com 70% de alunos estrangeiros. Alemanha, Itália e França são as principais nacionalidades.
A Nova SBE, nas instalações de Campolide, que em 2018 se mudarão para Carcavelos, acolhe 600 alunos de mestrado. Ao todo, são 2800 estudantes, das licenciaturas às formações para executivos. Ali, misturam-se alunos de 94 nacionalidades, do Brasil, China, Tunísia à Índia, mas sobretudo alemães e italianos. E as candidaturas para os mestrados continuam a crescer 20% a 30% ao ano na Católica; 35% na Nova – que recebeu mais de 2500 candidaturas para estes cursos neste ano letivo, cerca de 1500 provenientes do estrangeiro.
Este fluxo de estrangeiros é cada vez mais importante para as contas das escolas, já que os valores das propinas cobradas aos estudantes de outras nacionalidades são mais altos. A Nova, que é pública e por isso está limitada ao pagamento da propina anual estipulada pelo Estado (1063,47 euros para o ano 2016/2017) no caso dos alunos portugueses, fixou uma propina base de seis mil euros para as outras nacionalidades.

Bolonha criou mercado
Apesar de o trabalho de internacionalização ter começado muitos anos antes, a reforma de Bolonha (que criou um sistema de graus académicos entre os países europeus facilmente comparáveis, com o objetivo de promover a mobilidade dos estudantes, professores e investigadores) catapultou estas escolas além do mercado nacional. Se o primeiro ciclo (licenciatura) continua a ser dominado por uma lógica nacional (os alunos ainda são menores e há pouca oferta de programas internacionais), o segundo ciclo (mestrado integrado) dirige-se a estudantes numa faixa etária a partir dos 20 anos, muitos com experiência de intercâmbio, mais independentes e à procura de novas realidades. “Têm uma perceção muito maior do que querem e do que precisam, sabem que a escola que vão frequentar antes de entrarem no mercado de trabalho vai ter um impacto determinante na sua colocação no futuro, na rede de contactos e nas portas que se abrem. Tivemos a capacidade de ver antes dos outros que o nosso desígnio já não era ser a melhor escola em Portugal, mas sim uma das melhores a nível internacional, em particular na Europa”, continua o diretor.
“O mundo das business schools é muito mais competitivo e mais fácil de internacionalização porque tem métricas comparáveis e internacionais, as instituições estão acreditadas, existem rankings de qualidade. Mas eu penso que este desafio irá bater à porta de todas as instituições de ensino superior em Portugal. Até o Direito, que é muito mais específico, regulamentado e fechado, sente essa pressão, porque hoje os grandes escritórios de advogados são internacionais e as escolas sabem que têm de produzir advogados que têm de estar ligados em rede”, assegura Daniel Traça, diretor da Nova SBE. A estratégia de crescimento da escola, que quer no curto prazo chegar a 3500 alunos, está assente no aumento da oferta destes mestrados pré-experiência. “Sabemos fazer bem e criámos uma fórmula com bastante sucesso. A maior parte dos nossos alunos fica satisfeita com o programa e recomenda-o a outros estudantes. Todo o nosso crescimento é baseado numa despesa de marketing absolutamente insignificante”, garante.
Para este nível de atratividade jogam vários fatores, a começar pela qualidade dos programas e dos docentes, as taxas de empregabilidade garantidas pelas escolas e as parcerias internacionais com outras instituições e que estimulam intercâmbios, mas também outras condicionantes mais subjetivas, como a atratividade de Portugal, e de Lisboa em particular, como um destino apetecível, pelo sol, qualidade de vida e experiência cultural.

Fátima Barros, diretora da Católica Lisbon SBE entre 2004 a 2012
Paulo Vaz Henriques
Sapatos e escolas de gestão
Os rankings, admitem os responsáveis, são “muito importantes” como ferramenta de marketing, pois funcionam como carimbo de qualidade. Mas foi preciso muito para aqui chegar. Fátima Barros, atual presidente da Anacom – Autoridade Nacional de Comunicações e diretora da Católica Lisbon SBE de 2004 a 2012, lembra-se como era difícil, nos primeiros anos da sua direção, “vender uma escola de negócios portuguesa lá fora. Não tínhamos marca. Como a indústria do calçado: tínhamos qualidade, diferenciação e saber especializado, mas não éramos reconhecidos. Fomos muito criticados lá fora quando, depois de, em 2007, nos termos tornado na primeira escola de negócios no ranking do FT, anunciámos o objetivo de, até 2020, estarmos no top 20 das escolas de negócios europeias. Em 2013 ficámos no 23.º lugar. Lá chegaremos”, avisa a responsável.
O caminho da internacionalização começou muito antes. Primeiro, com a importação de saber internacional, logo desde os anos iniciais, com o envio de professores portugueses para escolas internacionais, principalmente Estados Unidos. Imersos numa cultura internacional, “bebemos das melhores práticas, conhecemos conceitos novos, encontrámos pessoal docente que passava a fazer investigação e a ensinar”, explica José Ferreira Machado, hoje à frente da faculdade de negócios e gestão da Regent’s University London. Entre 2005 e 2015 liderou a Nova SBE e, antes disso, quando ainda era diretor-adjunto, no final dos anos 90, foi um dos promotores de uma nova fase da vida da instituição, que assumiu que para estar à altura dos concorrentes internacionais precisava de ir recrutar docentes lá fora, “jovens professores com uma ambição totalmente diferente”.
Atrair estrangeiros com um currículo apetecível não foi fácil. Afinal, o que tinham a ganhar em Portugal? “Um sítio onde podiam fazer a diferença. Numa grande escola americana, seriam apenas mais uns”, sublinha Fátima Barros. Naturalmente, houve que “criar condições salariais mais atrativas”, mas foram cruciais os “benefícios fiscais que o país oferece a estrangeiros altamente qualificados”, aponta Francisco Veloso.
O italiano Francesco Franco, professor de mestrado e doutoramento na Nova SBE, especialista em macroeconomia, doutorado em Economia pelo reputado Massachusetts Institute of Technology (MIT), chegou a Portugal em 2004. Encontrou “uma escola já com uma posição importante no mercado internacional, que oferecia condições de trabalho muito orientadas para a investigação e o ensino, um projeto de vida interessante”. O diferencial salarial é ainda grande, “mas, como economista, tenho de medir os outros ganhos. O custo de vida em Portugal é menor e a qualidade de vida muito boa. Tudo isso pesa”, assevera o docente, que nestes anos viu a escola “modernizar-se”, também muito à custa de um corpo docente que passou pelas mais prestigiadas universidades, como o MIT, Harvard ou Yale.
Para Franco, não é apenas a presença nos rankings internacionais que atesta a qualidade da instituição. “A qualidade dos nossos alunos também está a melhorar; conseguimos atrair os melhores e, como consequência, também somos forçados a fazer melhor”, sublinha. Na primeira fase no acesso ao ensino superior, neste ano letivo, o último aluno a entrar no curso de Gestão da Nova apresentou uma nota de 17,3 valores; na licenciatura em Economia, foi de 16,93. Em 2006, as notas mínimas de entrada ficaram-se pelos 13,9 e 14 valores, respetivamente.

Francisco Veloso, Reitor da Católica Lisbon SBE
A ‘coroa’ das acreditações
A chegada de professores de outras nacionalidades às escolas promoveu as aulas lecionadas em inglês e estimulou a multiculturalidade dos conselhos científicos e direções. Daí que José Ferreira Machado tenha tido, “por diversas vezes, a oportunidade de responder ao constitucionalista Jorge Miranda nas suas críticas ao uso do inglês. É que é muito feio convidar pessoas para a nossa casa e falar numa língua que elas não entendem”.
Simultaneamente, foi feita uma aposta na investigação e produção de conhecimento próprio como ferramenta de atração de pessoal estrangeiro interessado em fazer parte das “redes de circulação de conhecimento”, como chama Francisco Veloso. Em 2015, o CUBE – Católica Lisbon Research Unit of Business and Economics foi considerado, pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), o melhor centro de investigação da área das Ciências Sociais em Portugal, com a classificação de excelente. O projeto que a faculdade estabeleceu em parceria com o MIT, Patient Innovation (que estuda o papel de inovadores que os doentes têm no conhecimento e tratamento das suas próprias doenças), conta no painel de consultores com dois laureados Nobel (Richard Roberts, Nobel da Medicina em 1993, e Aaron Ciechanover, Nobel da Química em 2004) e com Bob Langer, do MIT, recordista no número de patentes registadas.
Aos lugares de direção iam chegando os professores portugueses que construíram as carreiras nas melhores escolas internacionais. Fátima Barros viveu quatro anos entre a Bélgica e Londres, e Francisco Veloso doutorou-se no MIT em Gestão de Tecnologia e foi professor, durante 10 anos, na Carnegie Mellon, na Pensilvânia. Ferreira Machado doutorou-se em Economia na Universidade de Illinois e Daniel Traça passou mais de metade da carreira no estrangeiro, tendo feito doutoramento em Economia em Columbia (Nova Iorque) e passado, como professor, pelo INSEAD de Singapura e pela Solvay Brussels School, na Bélgica. “Deu-nos a capacidade de trazer mundo para as nossas escolas. Percebemos que não podíamos, cá dentro, ter como narrativa apenas Portugal. Trouxemos ambição e uma ideia muito clara do lugar que queremos ter no mundo e que é fazer parte das pontes que se estabelecem entre Europa, Estados Unidos, China e tantos outros lugares”, afirma Traça.
Trouxeram com eles práticas e políticas de organização que, implementadas, passaram a poder ser medidas e comparadas às que existem lá fora. O processo para obter as acreditações internacionais necessárias para fazer parte do circuito internacional de escolas de negócio revelou-se menos longo e doloroso do que se pensou à partida. “Já tínhamos implementado, por exemplo, os mecanismos de avaliação e promoção dos nossos docentes. O que deu mais trabalho foi formalizar uma série de processos que já existiam mas que eram feitos de forma informal. Com o crescimento vem a necessidade de burocratizar mais os processos”, recorda Fátima Barros, que liderou este trabalho na Católica, a primeira instituição nacional, em 2007, a obter a triple crown, as três acreditações internacionais (AACSB, AMBA e EQUIS) que dão acesso ao grupo mais restrito e prestigiado de escolas de negócio. Em 2009 foi a vez da Nova. Apenas 75 escolas no mundo ostentam esta distinção em triplicado, que facilita o acesso aos rankings internacionais.

Daniel Traça, diretor da Nova SBE
Nuno Botelho
Executivos de topo
Porque não se pode ser bom em todas as áreas, cada uma das escolas foi-se especializando. Na Católica, o mote está no empreendedorismo e inovação; na Nova, nas finanças (o mestrado pré-experiência em Finanças ocupa a 17.ª posição, em 55, na lista do FT dos melhores nesta área) e na área da liderança. Ambas colocam uma forte tónica na ligação aos países lusófonos, nomeadamente em África. “Estamos a fazer uma aposta forte no marketing digital e na área do empreendedorismo social”, indica Traça.
Ostentam as suas estatísticas com orgulho: em ambas, seis meses depois da conclusão dos mestrados, 100% dos alunos estão empregados, metade em colocação internacional.
A formação executiva pós-experiência não tem sido deixada ao acaso. O The Lisbon MBA (master of business administration), joint-venture entre a Católica e a Nova, em colaboração com o MIT, foi criado num espírito de cooperação para deixar uma marca reputacional. A opção de um programa conjunto teve em conta o facto de estes programas terem um mercado maduro nos Estados Unidos, em escolas de qualidade estabelecida, sendo muito difícil captar um número significativo de estudantes. Em vez de cada uma das escolas ter um MBA individual, que não se destacaria num mercado tão pequeno como o nacional, uniram esforços para fazer um programa de qualidade com um número de alunos limitado (50) e com o objetivo de ajudar a catapultar e reconhecer a capacidade das escolas em Portugal. O The Lisbon MBA, que implica um investimento de 36 mil euros para os dois anos, é o 15.º melhor MBA na Europa, o 40.º a nível internacional.
Os diversos programas para executivos, dos cursos de curta duração a formações costumizadas, perfazem cerca de metade da atividade da Católica, que tem desde há muito ligações a grupos como a Jerónimo Martins, Mota-Engil ou Logoplaste. A Nova, que não divulga o peso desta área no seu negócio, “está ligada a mais de 100 empresas nacionais, incluindo as cotadas do PSI-20”.
Neste âmbito, a Porto Business School, anteriormente Escola de Gestão do Porto (PBS), também se tem destacado, figurando igualmente nos rankings do FT. Esta escola de negócios, que é parte da Universidade do Porto, foi criada em 1988 por líderes empresariais e tem no seu conselho geral e de supervisão a presença de várias empresas nacionais, como a Sonae, BPI, EDP, Galp ou Bial. Ramon O’Callaghan, espanhol de naturalidade, formado no IESE e em Harvard e com passagens por escolas em diversos países, como Holanda ou Casaquistão, é o primeiro dean estrangeiro à frente da instituição e sublinha o papel da ligação da PBS “às reais necessidades das empresas”.
O MBA Executivo da PBS, com um preço de 23 mil euros para dois anos, assim como as várias pós-graduações (do negócio digital, passando pela comunicação empresarial, aos recursos humanos), perfazem 50% da atividade, com as soluções à medida a contribuírem com 35% do bolo e os restantes 15% provenientes dos programas abertos. Parte destes cursos são lecionados em parceria com outras escolas, como o suíço IMD, a London Business School ou a McCombs School of Business, no Texas. O’Callaghan garante que o que “distingue a oferta em Portugal é o facto de se tratar de formação para executivos de alta qualidade mas a um preço muito razoável, num país com uma excelente localização e qualidade de vida elevadíssima, a que se alia uma surpreendente cultura de empreendedorismo”. Não o surpreende, por isso, o dinamismo deste sector, que se abre ao mercado internacional e fala inglês como se da sua língua nativa se tratasse: afinal, já existem mais de 12 mil escolas de negócio no mundo. Em Portugal, contudo, a qualidade tem-se imposto: “Se olharmos para o rácio entre o número de escolas de negócio no ranking do FT por país e a sua população, vemos que Portugal é um dos países do mundo com mais escolas de negócio no top mundial”, analisa.

Mário Caldeira, presidente do ISEG
Outras escolas em Portugal batalham pelas acreditações. Mário Caldeira, presidente do ISEG, que também passou a School of Business and Economics, revela que a instituição lisboeta tem à volta de 600 alunos estrangeiros, “cerca de 18% do número total de alunos de graduação [excluindo a formação de pós-graduação e executiva de curta duração], e o número tende a aumentar”. Uma centena é proveniente da Alemanha. “Penso que dentro de cinco anos teremos cerca de 40% de alunos estrangeiros.” Diz estar a “trabalhar” para obter mais acreditações e certificações internacionais. “As diferentes classificações nos rankings estão fundamentalmente associadas a processos de acreditação que algumas escolas iniciaram antes de outras, porque a qualidade intrínseca dos cursos é relativamente semelhante.”
O mesmo trabalho está a fazer a escola de negócios do também lisboeta ISCTE. José Esperança, o diretor, explica que já este ano a escola obteve a acreditação AACSB, “a mais importante em termos internacionais, que se junta à AMBA e nos possibilita a futura integração nos rankings do FT”.

Maria de Fátima Carioca, diretora da AESE
Maria de Fátima Carioca, que lidera a outra escola lisboeta, a AESE, vocacionada para a formação de diretores gerais, acredita que este crescimento pode ser feito através “da permanente atualização dos conhecimentos e das ferramentas de gestão, sem prejuízo dos valores que traduzem o ideário da escola: uma liderança credível, ética e humana, inspirada numa visão cristã da sociedade”. A escola, fundada em 1980, advoga o lançamento “do primeiro MBA de cariz internacional em Portugal, em parceria com o IESE de Barcelona. Também está a procurar mais parcerias internacionais”. No ano passado, passaram 1200 alunos pela AESE, com 44% destes a terem “experiências internacionais” no âmbito dos seus programas. 11% dos participantes do MBA da AESE, nos últimos três anos, acederam a carreiras internacionais.
NÚMEROS
70%
Percentagem de alunos estrangeiros no mestrado internacional da Católica Lisbon SBE, sendo as nacionalidades mais comuns a alemã, a italiana e a francesa. No total, a escola tem 5 mil alunos anuais: 1500 de licenciatura e mestrado e 3500 em formação de executivos
5000
estudantes será a capacidade total do novo campus da Nova SBE, em Carcavelos. Todavia, a curto prazo o crescimento será para 3500 alunos
€112 000
é o rendimento anual que, em média, um executivo passará a auferir depois de concluído o The Lisbon MBA, parceria entre a Católica e a Nova. É uma das métricas mais importantes para os rankings do FT
€46 000
é a média salarial após um ano da conclusão do mestrado integrado em Gestão da Nova, a melhor classificada no ranking do FT. Na suíça Universidade St. Gallen, a primeira da lista, o valor ascende a 100 mil euros

Nova SBE angariou 37,1 milhões de euros para campus de Carcavelos
Lições ao sol
Em 2011, em pleno remoinho da crise, a Nova SBE, faculdade pública de Economia e Gestão, anunciou o impensável: a construção de um novo campus, localizado em Carcavelos, com vista para o mar, como forma de expandir o seu projeto e, ao mesmo tempo, oferecer uma proposta de ensino associada ao lifestyle próprio dos países de sol e praia, surf e qualidade de vida. A obra, que terá um custo de 50 milhões de euros e começou no passado mês de setembro, irá permitir, numa primeira fase, chegar a 3500 alunos anuais, mas tem capacidade para mais tarde chegar a cinco mil. À semelhança do modelo de financiamento das escolas de negócios norte–americanas, a Nova SBE pediu aos seus antigos alunos e a empresas nacionais para doarem fundos de forma a financiar o projeto. Cerca de 35 milhões de euros já foram angariados através dos principais parceiros (família Soares dos Santos, Banco Santander, Jerónimo Martins, CTT, Portucel, Vodafone e Unicer), enquanto 43 antigos alunos doaram 2,1 milhões de euros. Em troca, estes parceiros vão poder batizar os auditórios deste complexo, dar nome a uma sala de aula, a um banco de jardim ou às pedras do passeio. “O campus não é um projeto de cimento. Permite-nos crescer à medida do potencial do mercado aberto pela reforma de Bolonha e, ao mesmo tempo, ter capacidade para apostarmos em novas áreas, como o marketing digital ou o empreendedorismo social. Vamos ter mais alunos e recrutar mais professores. E vamos fazer isso aproveitando a vantagem competitiva que Portugal apresenta, como um país com escolas de negócios reputadas e um estilo de vida atraente num ecossistema empreendedor”, diz o diretor, Daniel Traça. Jovens atraídos pela praia e quadros executivos seduzidos pelo bom tempo e golfe estarão “mais sensíveis a esta localização”.
A Católica Lisbon também se debate com problemas de espaço e à EXAME o diretor Francisco Veloso avança que a faculdade está a trabalhar em soluções para o problema, havendo novidades em 2017: “Temos consciência de que o potencial de associarmos a nossa visibilidade à dinâmica de Lisboa, enquanto cidade da moda, é muito grande.”

Ramon O’Callaghan, diretor da Porto Business School
Para todos os gostos
Escolas mais pequenas, regionais mas com aspirações internacionais, são bem-vindas. Há espaço para todos, dizem as maiores
Chama-se Porto Executive Academy (PEA) e é o mais recente projeto de formação para executivos em Portugal, lançado em junho deste ano pelo Instituto Politécnico do Porto, engrossando a lista de escolas de negócios nacionais. Armando Silva, coordenador da instituição, explica que o foco desta escola são os executivos de pequenas e médias empresas “que pretendam melhorar as suas capacidades de gestão através de formação específica, o que, até agora, apenas estava ao alcance de executivos de grandes empresas e organizações”. Este responsável considera que, apesar de se tratar de “um mercado com vários competidores e alguns de notoriedade elevada, ainda assim tais players ocupam apenas parte do mercado da formação executiva”. A escola já está a oferecer duas pós-graduações (Oportunidades Internacionais de Negócios e Investimentos e Gestão de Empresas Familiares) e conta, no próximo ano, “lançar um ou dois MBA, sendo um deles especializado num sector específico de atividade”. Ao mesmo tempo, pensa também na internacionalização: “Entendemos que o mercado da Galiza é fundamental no desenvolvimento do Norte de Portugal e por isso estamos a ultimar uma parceria com uma escola de negócios dessa região”, especifica Armando Silva, que conta que a PEA tem como modelos de inspiração a Porto Business School (PBS) e a escola de negócios Afundación, de Vigo. Esta nova escola é por enquanto financiada pelo Instituto Politécnico do Porto, mas pretende, “a médio prazo”, tornar-se numa entidade jurídica distinta e com “autonomia financeira e científica que permita apresentar um projeto para outros investidores, além do Politécnico”.Ramon O’Callaghan, diretor da PBS, considera que, “como em todos os mercados, a concorrência é positiva, pois promove inovação, qualidade e serviço. É também a competição que mantém os preços sob controlo. Tal como na maioria dos mercados em fase de maturidade, o desafio para as escolas de negócio é o da diferenciação e posicionamento. Sendo que o mercado português acrescenta um problema à equação: nem sempre o mercado reconhece o valor acrescentado da formação para executivos e foca-se demasiado no custo”.
Para Daniel Traça, da Nova SBE, a formação para jovens ou executivos é cada vez mais importante. “É certo que podem existir muitas escolas, mas eu prefiro que abram muitas e fechem as piores, vivendo neste ambiente de concorrência para assegurar a qualidade.” Mas sublinha que é importante que haja um esforço por parte destas instituições do ponto de vista das certificações e do controlo de qualidade: “Neste sector, os alunos só percebem que um curso ou escola tem qualidade depois de lá estarem e de terem gasto o dinheiro. Tem de haver um esforço de proteger os alunos, assegurando a qualidade e formação necessárias.” Mário Caldeira, à frente do ISEG Lisbon School of Business and Economics, considera que o mercado continua a deixar espaço para o aparecimento de mais instituições de natureza vária: “Quando falamos de gestores, estamos também a falar de profissionais de marketing, de contabilidade, de finanças, da banca, de gestão de sistemas de informação, de gestão da informação, de logística de operações, de recursos humanos. É um conjunto muito vasto de funções.”
As escolas mais pequenas e regionais já perceberam a força da marca Business School. O Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra (ISCAC) deu lugar à Coimbra Business School, escola de negócios para executivos e pós-graduados que tem vontade de se afirmar lá fora, através de programas de formação internacional, nomeadamente em intercâmbio com o Brasil e Angola. Em Leiria, há quatro anos, nasceu a D. Dinis Business School, que tem como promotores, entre outros, o Instituto Politécnico de Leiria (fundador) e o lisboeta INDEG-ISCTE (associado) e várias empresas daquela região. Vítor Ferreira, diretor da escola, explica que o seu público alvo “é diferente da maioria das escolas de negócios de Lisboa e Porto. É constituído por um segmento clássico (quadros intermédios e superiores que procuram competências e certificações para subir na carreira ou assumir novas funções) e um segmento de empresários e diretores-gerais de PME que procuram estar a par de soluções para tornar as empresas mais competitivas e modernas”. Gestão para PME, Gestão de Turismo, Agrobusiness e um Mini-MBA são algumas das propostas desta escola, que recebeu cerca de 500 alunos no ano passado.
Este artigo é parte integrante da edição de novembro de 2016 da Revista EXAME
No artigo publicado nesta edição, por lapso, duas das posições nos rankings do Financial Times da Nova e da Católica saíram trocadas. Assim, a Nova SBE tem o 17º melhor mestrado de Gestão no mundo, enquanto a Católica tem o 52º segundo. E a Nova é a 28ª melhor escola de Gestão do mundo, enquanto a Católica ocupa o 26º posto. Aos visados, pedimos as nossas desculpas