Os anos de Cavaco Silva à frente do Governo foram de grande transformação do país, com a integração plena na então CEE e a entrada em vigor do mercado único. Mas foram também de forte crescimento do valor acrescentado bruto (VAB) das maiores empresas a operar em Portugal, conclui um estudo da Deloitte e da Informa D&B, com base nas edições históricas das 500 Maiores& Melhores empresas a operar em Portugal (500 M&M) da revista “Exame”, abrangendo o período de 1989 a 2012, e que este ano tem a sua 26ª edição especial (nas bancas em meados de novembro).
Entre 1989 e 1995, o VAB do conjunto das 500M&Mcresceu a uma taxa média anualizada de 5,7%.O feito nunca mais se repetiu ou sequer aproximou. No ciclo de governação seguinte, liderado por António Guterres (1995 a 2002) o VAB destas companhias registou uma taxa média anualizada negativa, de 2,5%, estagnou nos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes (taxa positiva de apenas 0,3%) e cresceu a uma taxa média anualizada de 1,6% entre 2005 e 2011, época dos Governos de José Sócrates.
O VAB é um indicador muito importante porque traduz o valor da produção das empresas deduzida de matérias ou recursos adquiridos a terceiros, ou seja, reflete o valor realmente criado pelas empresas. A fraca evolução para o conjunto das maiores empresas em Portugal levou a uma redução do rácio entre o VAB e o produto interno bruto (PIB), caindo de um máximo de 21%, em 1995, para 13% em 2012.
Por outro lado, foi entre 1989 e 1995 (Cavaco Silva) que o número de empregados das 500M&M mais caiu (a uma taxa média anualizada de 3,1%), voltando a diminuir (2,4%) quando António
Guterres era primeiro-ministro (1995 a 2002). Depois, o número cresceu a uma taxa média anualizada de 3,1% entre 2002 e 2005, atingindo o máximo de 4,9% quando José Sócrates liderava o Executivo.
Foi também nos anos de Sócrates, de 2005 a 2011, que o volume de negócios das maiores empresas cresceu a um ritmo mais forte, mas o aumento das vendas a taxas significativas foi uma realidade em todos os ciclos políticos. Sinal disso, é clara a tendência de aumento do peso do volume de negócios das 500 M&M no PIB, passando de 60% em 1989 para 81% em 2012, com um pico de 85% em 2011.
A conjugação destas tendências “dá indicações de que o crescimento português foi claramente influenciado pelo consumo, relacionado com endividamento, e pela despesa pública”, aponta João Messias Gomes, sócio da Deloitte. Teresa Menezes, diretora-geral da Informa D&B, destaca outros fatores que contribuiram para a expansão do volume de negócios das maiores empresas em Portugal, como o aparecimento de novos sectores de atividade, os movimentos de integração e consolidação empresarial e o acesso ao crédito — que permitiu financiar a expansão das atividades —, a profissionalização da gestão e a internacionalização de muitas destas companhias, levando a que hoje “parte do volume de negócios das maiores empresas seja gerado fora de Portugal”.
Maiores empresas são determinantes
A análise desses 24 anos permite uma conclusão clara: as maiores empresas são determinantes na economia lusa. É isso que mostra o peso do seu volume de negócios ou do seu VAB no PIB, e, também, dos seus funcionários na população empregada. Com 401.561 empregados em 2012, as 500M&M representaram 8,7% do emprego. Mais ainda, considerando o período entre 1991 (ano a partir do qual há dados disponíveis) e 2012, o número de empregados das 500 M&M cresceu 4%, enquanto a população empregada em Portugal diminuiu 5%.
Explicação? Ao longo deste período, “as maiores empresas cresceram, expandiram-se e internacionalizaram- se”, frisa Teresa Menezes. Adicionalmente, são as que têm “maior capacidade para absorver os choques causados pela crise económica”. Uma conjugação de fatores que lhes “permitiram não só manter como até aumentar o número de empregados, em particular com o desenvolvimento de alguns sectores, ao contrário das empresas mais pequenas, que não dispunham dessa capacidade de absorção e acabaram por reduzir o número de empregados”, enfatiza Teresa Menezes.
Uma tendência exponenciada desde a crise financeira internacional e do resgate a Portugal, por “elevados problemas de acesso a financiamento para as PME e, para o financiamento disponível o custo associado cresceu muito”, afirma João Messias Gomes. Resultado: “As dificuldades de tesouraria e financiamento sentidas pelas PME conduziram a falências e despedimentos nestas empresas”, nota o consultor.
As grandes empresas não são imunes a estes dois marcos históricos, mas têm “um músculo financeiro e económico e uma gestão mais profissional, que lhes permite que busquem outros mercados para compensar a menor dimensão do mercado português”, enfatiza Teresa Menezes. Os números mostram a sua resiliência: das 1724 companhias que já entraram nalguma edição anual das 500 M&M, 72% mantinham-se, em 2012, se em atividade. Das restantes, 13% foram incorporadas e só 15% encerraram, entraram em insolvência ou estavam sem atividade.
Este artigo foi publicado originalmente no Expresso de 12 de outubro de 2013. E esta é a primeira de seis republicações – de temas que continuam a marcar a atualidade – que o Expresso vai fazer, marcando o arranque da 26ª edição das 500 M&M da revista “Exame”.