As ESG Talks têm o apoio do novobanco
As evidências estão aí e são todas bastante inquietantes. Pedro Matos Soares, investigador principal no Instituto D. Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tem uma experiência de mais de duas décadas a estudar os impactos das alterações climáticas e não tem dúvidas: o planeta está mesmo em ebulição global.
Este foi o título da primeira short talk do dia na conferência ESG sobre alterações climáticas, risco de negócio e finanças sustentáveis, uma iniciativa do novobanco em parceria com a VISÃO e a Exame, e com os knowledge partners NOVA SBE e PwC. No seu preâmbulo, o especialista reforçou que “há muito que sabemos que estamos num planeta em ebulição do ponto de vista climático”. “Temos alertas da comunidade científica há cerca de 40 anos a dizer que estamos num processo de alteração climática acelerado, e a face visível mais nefasta não é a variação da temperatura máxima global, mas são os fenómenos extremos: secas, inundações, incêndios sem precedentes, com impactos diretos sobre as sociedades, as pessoas e todos os setores económicos”, afirma Pedro Matos Soares.
Temos batido records nos últimos anos a todas as escalas. “Este ano batemos a temperatura média mais alta da terra vários dias consecutivos, há uma aceleração profunda das anomalias de temperaturas à escala mensal no verão, multiplicámos por 5 a maior diferença entre dois verões consecutivos de records de temperatura – e isto mostra como algo está em transição muito acelerada! Nos últimos 23 anos, batemos o record de temperatura média global 20 vezes, num século e meio de temperatura todas as bases de dados são inexoráveis a mostrar este aumento de temperatura média global de forma profunda”, elenca.
A responsabilidade é de quem? “Todos os modelos físico-matemáticos que nos dizem que desde o século XIX que o homem tem a capacidade de intensificar o efeito de estufa e provocar uma aceleração do aquecimento global”, sublinhou.
Na bacia do Mediterrâneo há uma diminuição da precipitação que é cada vez mais acelerada. Outro problema é o aumento do degelo, com extensões de zonas geladas sobre o oceano e sobre a terra cada vez mais pequenas no Ártico e na Antártida. “Estes processos, apesar de para nós poderem parecer longínquos, têm um sinal de intensificação das alterações climáticas e são importantes porque estas zonas têm uma grande refletividade. E num século multiplicámos por cinco a taxa a subida do nível médio do mar. Todos temos a perceção do que é um sistema económico e natural, e quando temos alterações desta magnitude é claro que há alterações profundas…”
A face mais nefasta são os deslocados, que são uma das grandes preocupações, e a maior parte são causados por desastres naturais e hidrometeorológicos. “Em 2019, tivemos 25 milhões de pessoas deslocadas devido a desastres, as projeções é que em 2050, possam ser 250 milhões“, antecipa o especialista.

O que nos espera adiante
Como é que, no futuro, se vai manifestar esta ebulição em termos globais, eis a questão. “O último relatório do IPCC mostra que a economia tem de mitigar, e não só adaptar-se, às alterações climáticas. E conforme o nosso esforço de mitigação, os cenários sócio-económicos serão muito diferentes”, afirma.
Pedro Mota Soares mostrou quadros que refletem diferenças significativas de um mundo com forte, intermédia ou pouca mitigação. “Há muito a evitar, tendo em conta a forma como vamos evoluir a nossa sociedade as emissões de metano e CO2 que estarão associadas”, enfatiza.
E depois há os fenómenos extremos. “Já aumentamos 5 vezes um evento com período de retorno de 50 anos, se conseguirmos o que está definido no acordo de Paris, vamos aumentar por 14 vezes, e nos cenários piores aumentamos 40 vezes.”
Quase a ser finalizado está o projeto do Roteiro Nacional para a Adaptação, que ajudará nas decisões políticas. E conforme os cenários de evolução, é muito diferente a realidade que se antevê para Portugal – “num pior cenário o aumento da temperatura média pode ir até 6 ou 7 graus, perdas de precipitação devastadoras e 10 ondas de calor num ano e mais duradouras. Estaríamos a falar de um clima totalmente diferente! E isso traz importantes ameaças económicas e de segurança alimentar”.
Com tanta informação, não há desculpas para não agir.