O dia 1 de setembro marca o início da sétima edição das Conferências do Estoril, um evento que promete juntar líderes de todo o mundo numa conversa intergeracional sobre aqueles que constituem, hoje, os maiores desafios enfrentados pela humanidade. A agenda do evento prima pela diversidade e conta com oradores de todos os cantos do mundo, assim como personalidades de destaque portuguesas, entre elas o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, e o antigo ministro das Finanças de António Costa, Mário Centeno.
Sob o tema “O Reequilíbrio Do Nosso Mundo: Um Apelo À Geração Do Propósito” (Rebalancing Our World: A Call To The Purpose Generation), as Conferências do Estoril, das quais a VISÃO é media partner, apresentam uma agenda de dois dias que desafia a um diálogo aberto e inclusivo que visa incentivar à mudança de mentalidade e à ação positiva. A edição deste ano decorre no campus da Nova School of Business and Economics (Nova SBE), resultado de uma colaboração entre a universidade e a Câmara Municipal de Cascais.
A agenda divide-se em três tópicos de destaque: o planeta, as pessoas e a paz. A manhã do primeiro dia das Conferências foi dedicada à Terra, tratando uma variedade ampla de temáticas ligadas à questão da sustentabilidade, desde o sistema do capitalismo financeiro à sustentabilidade do negócio e à jornada para o net-zero.
O começo do evento foi marcado pelo discurso do Presidente da República, contando ainda com a intervenção do Presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, assim como do Vice-Presidente da Câmara Municipal de Cascais, Miguel Pinto Luz e do Diretor da Nova SBE, Daniel Traça. Nos seus discursos, todos destacaram o papel dos mais jovens na construção de um amanhã melhor, convidando-os a ocupar a posição de poder e liderança que sempre lhes pertenceu.
Seguindo o tópico do planeta, a manhã de quinta-feira focou-se nas alterações climáticas, convidando várias personalidades de destaque da área a subirem ao palco numa partilha conjunta de experiências, opiniões, ideias e noções. Nomes como o de Bertrand Piccard, o homem que marcou o seu nome na História ao dar a primeira volta ao mundo em balão e num avião movido a energia solar ou Andri Magnason, aclamado realizador de documentários no tópico do degelo, marcaram o começo do evento.
Para promover o diálogo e o debate de ideias, as Conferências organizaram ainda três painéis abertos a intervenções do público. Foi neste âmbito que ocupou o palco o ex-ministro das Finanças português Mário Centeno, numa conversa com a diretora do Centro para as Alterações Climáticas do Banco Central Europeu, Irene Heemshkerk, e com Luisa Gómez Bravo, Global Head of Corporate & Investment Banking. O debate conduzido por Stefan Grobe, correspondente de Bruxelas para a Euronews, focou a relação entre o capitalismo financeiro que se assume como o atual modelo económico predominante e a sustentabilidade.
Embora o ex-ministro das Finanças tenha reforçado que, atualmente, os recursos disponíveis são cada vez menos resultado do atual modo de vida que tem regido a humanidade, Centeno não deixou de se mostrar esperançoso, apelando à ação, mas lembrando que os resultados não serão imediatos e que “paciência” é um fator-chave a ter sempre em conta. “Mas ser paciente é o contrário de inércia, avisou. “Nós temos de ser pacientes porque temos de dar tempo à tecnologia e às novas instituições para se instalarem. Nós precisamos de paciência porque precisamos de nos dar a tempo, foi muito difícil para a nossa sociedade atingir este nível de desenvolvimento”, lembrou.
A humanidade tem ainda um longo percurso para percorrer até atingir um modo de vida equilibrado e sustentável e muito terá ainda de ser feito nesse sentido. “A sustentabilidade não será entregue na nossa casa sem esforço”, reforça Centeno.
Heemshkerk reforçou também a necessidade de, enquanto sociedade, sermos pacientes, nunca confundindo essa dita paciência com inação. A diretora do Centro para as Alterações Climáticas preocupou-se em destacar que a existência de um departamento no Banco Central Europeu dedicado unicamente à questão das alterações climáticas e já o reflexo de uma mudança nas mentalidades e um passo em frente no caminho certo, um caminho que deverá ser percorrido por toda a humanidade. Em termos financeiros, Heemshkerk lembra ainda que qualquer valor que possa ser gasto hoje para impedir o avanço das alterações climáticas, será sempre significativamente inferior a qualquer valor que venha a ser no gasto no futuro caso não se invista hoje no caminho da sustentabilidade. “Os resultados mostram que é melhor que comecemos agora porque pode até custar algum dinheiro, mas no futuro será muito mais caro”, reforça.
Num mundo cada vez mais regido pela tecnologia e pelo permanente fluxo de dados, a informação ocupa, de acordo com a diretora do Centro para as Alterações Climáticas, um papel de destaque na tomada de decisões. “Precisamos de saber informação que consigamos compreender, que seja significativa. Precisamos de ter informação na qual possamos confiar”, explica. “Por exemplo, vais ao supermercado, queres comprar leite e tens leite de aveia, leite de amêndoa, leite de vaca e queres fazer a melhor escolha. E pensas ‘O que sei sobre este produto? Posso compará-lo aos outros?’”, exemplifica.
Gómez Bravo seguiu Heemshkerk, lembrando também que é necessário um investimento significativo de diferentes atores para que a meta net-zero seja atingida, nomeadamente da parte dos bancos e instituições financeiras que devem procurar explorar soluções diferentes apostando, por exemplo, em iniciativas privadas. Assim, a Global Head of Corporate & Investment Banking não deixou de salientar a importância de mobilizar capital no processo de atingir uma meta sustentável, garantindo, inclusive, que tal está já a ser feito na instituição que integra. “Nós temos o objetivo de investir 200 mil milhões de euros em finanças sustentáveis até 2025”, confirma Gómez Bravo, acrescentando que em junho deste ano já havia “mobilizado 112 mil milhões de euros”.
Cada ator tem um papel importante no caminho da sustentabilidade, sendo que o governo se destaca por ter a responsabilidade de disponibilizar um ambiente, seja de mercado seja social, que promova estas ideias, lembra Gómez Bravo. “Por um lado, precisamos de mercados desenvolvidos (…), mas por outro lado precisamos que os governos desenvolvam as políticas certas”, explica.
Numa nota final, Centeno destaca duas palavras-chave: compromisso e sustentabilidade. “Compromisso porque temos um plano, temos de o seguir e temos de concretizar. E temos de mostrar a toda a gente que estamos a concretizar. É a única forma de alcançar a cooperação, de evitar a frustração. Cooperação porque precisa de ser inclusivo. Há perdedores, há vencedores, sabemos isso”, concluiu.