Na semana em que se conheceu o valor do salário de um consultor do Banco de Portugal, de quase 16 mil euros, o estudo Portugal Desigual, de Carlos Farinha Rodrigues, com a chancela da Fundação Francisco Manuel dos Santos, revela que a pobreza e a desigualdade diminuiram, em Portugal, mas que o País continua a ser um dos mais desiguais da Europa. Um quinto dos portugueses vive em pobreza ou exclusão social, 1,8 milhões vive com menos de 700 euros por mês e a pobreza aumentou 21% entre os idosos, embora isto possa ficar a dever-se, também, a critérios mais apertados na subida do que é considerado o “limiar de pobreza”.
É preciso dar o desconto, devido à demagogia, quando se comparam salários. Claro que tem de haver salários elevados e é inevitável que subsistam salários baixos. Os critérios sobre as competências de cada um, as capacidades, o desempenho, o mérito, a responsabilidade exigida, o backround académico – tudo conta para uma desigualdade natural, a jusante, que deve ser mitigada, bem diferente da desigualdade de oportunidades, a montante, que deve ser combatida. Igualizar cegamente, como propuseram, no passado, certas ideologias utopistas, conduz à bitola por baixo, à falta de incentivos individuais e, logo, à pobreza generalizada. O próprio tecido económico do País e a sua produtividade têm de contar: um operário pode criar mais riqueza, produzir mais valor (ser mais proudutivo) numa hora, na indústria automóvel, do que outro, que se esfalfa a trabalhar, um mês inteiro, numa fábrica de sapatos. E isso explica os baixos salários praticados em Portugal, obrigando-nos a desconfiar de comparações de salários portugueses com, por exemplo, os alemães… O que nada explica é a razão por que os nossos gestores de topo, genericamente, quer na banca, quer em cargos privilegiados da Administração Pública (como os chefes das entidades reguladoras, onde todos ganham mais do que o primeiro-ministro…) ou em grandes empresas privadas ganhem tanto ou mais do que os seus congéneres europeus.
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