Num clima polarizado é fácil os oponentes definirem linhas vermelhas, como forma de tentar encurralar o adversário ou, no mínimo, ganharem a batalha da argumentação. Vivemos no tempo em que, por tudo e por nada, se traçam os limites do que não podemos ultrapassar, em nome dos princípios, dos interesses ou da decência. Mas se é fácil traçar linhas vermelhas, o difícil mesmo é mantê-las imutáveis, à medida que a realidade se vai alterando.
Nestas eleições europeias há uma linha vermelha em jogo: a de saber até onde pode ir a exclusão dos partidos radicais de direita, contrários à integração europeia, na próxima escolha do colégio de comissários. E o debate aqueceu a partir do momento em que presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, para garantir um futuro segundo mandato, admitiu poder fazer um entendimento com a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, que pertence ao grupo nacionalista Conservadores e Reformistas Europeus (ECR). O problema é que Meloni também está a ser cortejada por Marine Le Pen, do grupo Identidade e Democracia (a que pertence o Chega), para criar uma grande coligação de extrema-direita – que, segundo as sondagens, poderia até formar o segundo maior grupo político no próximo Parlamento Europeu.
Esta aproximação entre os populares europeus e a extrema-direita de Meloni vai, decididamente, marcar os próximos dias da campanha eleitoral, como já se observou ontem, no debate entre os oito candidatos portugueses, levando a um confronto direto entre Marta Temido e Sebastião Bugalho. Até porque há uma linha vermelha a diluir-se aos olhos de todos os europeus: em vez do “não é não” de Montenegro nas legislativas, em relação ao Chega, temos agora o “sim, talvez” de Ursula von der Leyen, a elogiar a “cooperação” com Meloni.
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