Embora em silêncio face a revelações ainda mais graves, no âmbito da comissão de inquérito Parlamentar sobre a TAP, como é o caso da reunião “secreta”, no Parlamento, em que participou a CEO da companhia aérea, o primeiro-ministro apressou-se a considerar “gravíssima” a interferência do ex-secretário de Estado Hugo Mendes, para tentar alterar o dia de um voo, de forma a agradar ao Presidente da República, a quem, supostamente, dava muito jeito essa alteração. “Se soubesse, teria obrigado o ministro a demiti-lo, na hora!”, disse o primeiro-ministro, num “rasgar de vestes”. Ora, convém reconstituir a história. Quem fez o pedido da alteração do voo? Porque foi feito? Que culpas tem Hugo Mendes? E porque o condena António Costa? O caso é complexo. Recorramos a Hércule Poirot e deixemo-lo usar a suas celulazinhas cinzentas. É ele quem fala agora, com todos os envolvidos sentados no salão. Tem a palavra, monsieur Poirot.
“Muito obrigado. Leiamos o email em que o senhor agente de viagens que trabalha com o senhor Presidente faz o pedido à TAP: ‘Conforme falámos, tenho uma delegação do PR para Maputo em março. A volta está reservada para todos a 21 de março. Acontece que o Senhor Presidente precisa de ficar mais dois dias em Maputo. A TAP a seguir ao voo de 21 só tem voo a 24 de março para voltar. Acha que poderia haver alguma possibilidade de a TAP, pontualmente, mudar esta ligação para o dia 23 de março?’
“Senhor Presidente: o seu gabinete informou que ‘o Presidente nunca solicitou a alteração do voo da TAP e, se tal aconteceu, terá sido por iniciativa da agência de viagens’. O que é provável que se tenha passado? A Presidência da República informa a agência de viagens que o PR não pode vir a 21, mas que, se possível, prefere viajar a 23 (em vez de embarcar no voo normal de 24). A agência, como não consegue um voo alternativo, contacta a TAP, na esperança de que, tratando-se do PR, a companhia aérea estatal faça a alteração. E o prof. Marcelo sabe disto? O senhor diz que não pediu tal coisa. Temos, para já, de aceitar a sua palavra.
“Senhor agente de viagens, diga-me então: porque é que, de moto próprio, com viagem marcada ao cliente para dia 21 (que poderia ser naturalmente alterada para 24), resolveu pedir a uma companhia aérea uma alteração especial? Faz isto a todos os clientes, ou só a clientes especiais? Ou faz isto a um determinado cliente especial? Porque se lembrou o senhor de uma alteração de um voo, sem qualquer indicação, instrução ou pedido do cliente? É prática corrente?
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