Dia D menos 13: termina a 10 de outubro, daqui a menos de duas semanas, a folga que o primeiro-ministro António Costa concedeu a si próprio, antes de satisfazer a curiosidade do Presidente da República e a ansiedade dos portugueses. Marcelo que, em pelo menos três momentos, pediu ao Governo que revelasse as suas previsões macroeconómicas para 2023 e as respetivas medidas para mitigar as dores de um ano que se antecipa difícil. A revisão em baixa, pela OCDE, dos cenários para 2023 (ver nota nesta newslletter, em baixo) confirma um cenário pouco menos do que aterrador, para as empresas e, sobretudo, para as famílias: menos crescimento ou mesmo recessão; estabilização da inflação em alta; subidas adicionais das taxas de juros; não sabemos como ficará o emprego, mas, em tal cenário, ele não vai manter-se “pleno” como tem estado; as prestações das hipotecas – e as poupanças dos portugueses resumem-se, normalmente, à casa própria, que ainda nem está paga… – aumentam a um nível insuportável, pressionando o rebentamento de uma possível bolha imobiliária; e isto arrastaria uma crise financeira para cima da presente crise energética, inflacionista e de abastecimentos.
O Presidente Marcelo terá detetado sinais de lentidão nas respostas do Governo, como terá ficado demonstrado na tardia apresentação dos pacotes de combate à inflação e de apoio às famílias e às empresas. Tanto o Presidente como a população precisam de respostas: o Governo vai mexer nos impostos? Prevê-se algum pacote adicional de ajudas? Vai haver moratórias para os empréstimos (como no período pandémico)? Haverá taxação de lucros excessivos das empresas que estão a ganhar com a crise? No meio de tudo isto, em que ponto se encontra a execução do PRR, uma bazuca que diminui de calibre a cada dia que passa?… Nunca a gestão da informação foi tão delicada – e raramente Governo se saiu tão mal dessa gestão. Neste momento, depois das declarações (rapidamente desautorizadas) do ministro da Economia, António Costa Silva, sabemos que há (pelo menos) duas posições antagónicas à mesa do Conselho de Ministros: o ministro da Economia quer uma baixa transversal do IRC para 19% e o ministro das Finanças, que veio logo dizer que não se deve discutir isso, por antecipação, “na praça pública”, (mas cuja posição terá sido verbalizada por um dos seus secretários de Estado) é contra aquilo a que chama “um choque fiscal”.