Num daqueles exercícios inúteis de História alternativa, poderíamos perguntar-nos como estaria Portugal, hoje, se não tivesse existido o 25 de Abril. Podemos apostar que o Estado Novo teria sempre sido reformado, que teria havido descolonização (inevitável…) e que Portugal se inscreveria, agora, no mesmo tipo de regime que acabou por vigorar: por razões económicas, geográficas e culturais, Portugal ter-se-ia, de igual modo, transformado numa democracia do tipo ocidental e, muito provavelmente, teria aderido à CEE (ou à União Europeia), embora muito mais tardiamente. E o atraso da transição ter-os-ia tornado (ainda) mais pobres. O tom dos discursos ouvidos no Parlamento, durante a sessão comemorativa da data, diverge entre os detentores atuais do poder, que puxaram pelos aspetos positivos e mobilizadores e pelas conquistas da democracia, e os que estão na esfera da oposição, que preferiram valorizar o que falta, o que não se conseguiu cumprir e, no caso populista do Chega, o que diz ser o “falhanço total”. O PS, o PR e o presidente da AR , todos no poder, puxaram para cima. O BE (num discurso igualmente populista e demagógico), o PCP, o PSD, a IL e o Chega arrastaram para baixo, embora com nuances, da postura construtiva de Rui Rio à destrutiva de André Ventura.
O mais dececionante é que diversos partidos fazem confusão entre o que significa o 25 de Abril – os valores democráticos, humanistas e civilizacionais – e o dinheiro. Para os críticos ouvidos na AR, as narrativas redutoras resumem-se a uma questão de salários (discurso da esquerda) ou de crescimento económico (discurso de direita). Ora, o 25 de abril nada tem a ver com o nível de vida, a folha salarial ou o PIB, matérias de natureza conjuntural. O 25 de abril tem, apenas, a ver com valores estruturais: democracia, Estado de direito, liberdade política, económica, cívica e religiosa, recusa da repressão, escrutínio democrático, liberdade de expressão, direitos das minorias, eleições livres e divisão de poderes.
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