O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) lançou, na passada semana, uma campanha de angariação de fundos para comprar uma obra de arte essencial para a sua coleção. A Adoração dos Magos, pintura de Domingos Sequeira, está há 170 anos na mesma família e poderá agora ser comprada a 6 cêntimos por pixel.
Até ao momento, já foram angariados 43 117 euros (7% do valor total da obra) através da campanha de crowdfunding que aceita donativos mínimos a partir de €1,5.
A Adoração dos Magos, propriedade de um privado descendente do primeiro duque de Palmela que preferiu manter o anonimato, faz parte de um conjunto de quatro pinturas a óleo da série Palmela, a que os historiadores se referem como o “testamento” de Domingos António de Sequeira, considerado um dos mais importantes pintores portugueses do século XIX.
“Se vamos arriscar uma campanha como esta, inédita no país, temos de ser optimistas. E eu sou um optimista congénito”, diz António Filipe Pimentel, director do Museu de Arte Antiga. “Até já encomendámos a tabela da obra”, com a respectiva legenda e informação adicional.
Pimentel diz que a ideia é envolver os cidadãos na aquisição de uma “obra absolutamente excepcional” para o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), captando o seu interesse pelo quadro, o seu autor e arte no geral.
A iniciativa é do MNAA, do Público, da Direcção-Geral do Património Cultural e do próprio Governo, reunindo como parceiros a agência de publicidade Fuel, a Fundação Millenium BCP e a RTP.
A campanha decorrerá até dia 30 de abril e agradece a contribuição de qualquer instituição, empresa ou cidadão que queira ajudar a desbloquear todos os pixeis do quadro. Pode-se contribuir por transferência bancária ou na página da iniciativa.
“Os museus não podem ficar à espera que os governos aumentem as verbas para fazerem crescer as suas colecções. Muito menos em tempos de crise. Se o fizerem, ficarão permanentemente reféns. Têm de procurar alternativas,” alerta o diretor do MNAA.
“A ‘Adoração dos Magos’ é um epílogo natural para a história da pintura antiga portuguesa que começamos a contar um pouco antes dos ‘Painéis de S. Vicente’. E porquê? Porque ela vem do passado mas está à procura de algo que é inteiramente novo,” explica Alexandra Markl, conservadora de Arte Antiga.
O preço estimado da pintura é de 600 mil euros, valor da obra na data da última exposição que integrou no Palácio Nacional da Ajuda, em 1999, explica António Filipe Pimentel. “É um preço com mais de 15 anos. Estou convencido de que no mercado nacional encontraria facilmente comprador e é muito provável que atingisse um valor mais elevado. O facto de o proprietário insistir que fique aqui é um acto de generosidade, de cidadania. É preciso não esquecer que o dono desta Adoração está à espera de a vender há seis anos. Tem estado à nossa espera.”
“Trata-se de uma obra de grande qualidade de um dos maiores pintores portugueses do século XIX, para muitas pessoas o maior. É vital para dar coerência e força ao discurso do museu sobre a pintura portuguesa, que começa um pouco antes dos Painéis de São Vicente [c.1470] e acaba em meados do XIX. Esta obra vem preencher uma lacuna, uma cratera, fechando com uma peça-chave a história que as galerias novas vão contar,” diz Isabel Cordeiro, técnica do MNAA e antiga directora-geral do património.
Todos os doadores terão uma menção pública de agradecimento no website do museu, exceto aqueles que optem por permanecer anónimos, e usufruirão ainda de benefícios associados com a sua doação, por exemplo, se doarem mais de €20 terão acesso gratuito à exposição “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo,” se optarem por fazer uma contribuição mais generosa, de mil euros para cima, terão acesso gratuito à exposição “Vamos pôr o Sequeira no lugar certo” (patente no MNAA entre até 30 de abril), convite para o jantar comemorativo, oferta de uma peça da loja do Museu, de 8 publicações do MNAA, de passe anual para a exposição permanente do MNAA (válido por 1 ano), de um cartão de sócio do GAMNAA (válido por 1 ano) e convite para o jantar anual dos Mecenas do Museu.