Não é possível erradicar a pobreza:
1. Sem que cada um se dispa dos seus excessos, num corajoso abraço a uma revolução interior;
2. Sem que cada um viva a felicidade do suficiente – não são as coisas que nos fazem felizes, mas a qualidade das nossas relações;
3. Sem que nos libertemos da solidariedade burguesa da esmola, a dos bancos alimentares, a da moeda, a dos sacos de comida e tantas sobras;
4. Sem que os excessos se tornem disponíveis para fomentar a formação e a criação de postos de trabalho;
5. Sem que formação não eduque para a dignidade de todas as coisas, significando a dignidade o total respeito por si, a autenticidade e a responsabilidade ética e moral;
6. Sem que o direito a não ser pobre não compreenda antes de mais o dever de não ser pobre;
7. Sem que cada um, no respeito por si, procure fazer da sua vida uma vida bem-sucedida (que não é a mesma coisa que dizer uma vida de sucesso);
8. Sem que quem vive e decida viver a felicidade dos excessos não seja severamente taxado pelo Estado e esses impostos sirvam não os subsídios, mas a educação e o trabalho;
9. Sem que as organizações da sociedade civil deixem de ter dinheiros parados e investidos em capitalizações, acções;
10. Sem que quem governa consiga mínimos de bem-estar ou de bem comum para todos;
11. Sem que um dia a pobreza se criminalize como mãe de todos os males e violadora de deveres e direitos fundamentais.
Com total otimismo, não acredito:
– Na grande maioria das organizações de hoje, oriundas de uma economia burguesa, neoliberal, e por isso também elas burguesas, neoliberais;
– Nas organizações que dizem querer o fim da pobreza, mas não se despem dos seus excessos;
– Nas estratégias nacionais de combate à pobreza, quando servem sobretudo para distribuir dinheiros pelas organizações e fomentar a subsidiodependência;
O que actual Papa Francisco diz não é mais que o que milhares de vozes no terreno dizem e fazem há já muito tempo, no quadro apenas desta nossa e minha geração, sem no entanto, e infelizmente, encontrarem, nos líderes de organizações, líderes religiosos, políticos e em tantos outros, a coragem de serem seus reais e verdadeiros porta-vozes.
Por isso, hoje há que ouvir menos quem está no poder e ouvir mais as nossas avós e as crianças, quem no terreno luta por uma justiça para todos. Ali sim devem estar os jornais, as rádios, as televisões, os media, as redes sociais…