Desde que começou a pandemia, em 2020, que os sapatos da família Rogério nunca mais entraram em casa. Filipa arranjou umas prateleiras para ela, o marido e os três filhos conseguirem arrumá-los na varanda, à entrada da porta. Mas desde a última segunda-feira esse espaço tornou-se exíguo para albergar também todos os exemplares dos quatro peregrinos que recebem em sua casa, a propósito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Agora, há sapatos por todo o lado…
Os polacos Jan, 18 anos, Joccek, 19, Jon, 19, e Hubert, 23, chegaram de autocarro aos Olivais a meio da tarde, depois de uma semana em Espinho, numa espécie de preparação para o grande evento religioso na capital. Filipa, que além de os acolher também é voluntária, e que se encontrava a rececionar outros peregrinos numa escola secundária do bairro, conseguiu escapulir-se para ir buscá-los ao posto montado nos jardins do Palácio do Contador-Mor, a 10 minutos de distância da sua casa.
Os quatro amigos, da mesma paróquia católica em Cracóvia, separaram-se de Bartosz e Adam, ambos de 21 anos, que também vieram no mesmo grupo. Mas não por muito tempo nem espaço, já que, por sorte, ficaram todos alojados no mesmo prédio. Aliás, por estes dias, nos Olivais Sul sente-se mesmo a presença da delegação polaca, composta por 4500 jovens, seus coordenadores, padres e freiras.
Eles passam em grupos, sobretudo de manhã, muitos de t-shirt verde, com a bandeira vermelha e branca pelas costas ou erguida num porta estandarte. Todos os dias, às 9h30, há animada missa em polaco, no Vale do Silêncio, um enorme jardim do bairro, que por acaso se avista da casa dos Rogério, e também na igreja paroquial.
Já em casa, e depois de largarem as mochilas, a receção destes peregrinos faz-se de muita conversa em inglês, na mesa da sala de estar, com a ajuda de umas fatias de bolo de limão caseiro, iogurtes, leite e água. O grupo transparece algum cansaço da semana em Espinho. Bartosz, por exemplo, que veio à procura de conhecer outros jovens, de diferentes latitudes, que, tal como ele, acreditem em Deus, não larga o seu panamá branco e vermelho, repleto de recordações desses dias de partilha e convívio mais a Norte.
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Ao princípio, quando começaram a entrar na organização da JMJ, Filipa e José (o marido, que só conheceu os seus hóspedes mais tarde) pensaram em acolher apenas dois peregrinos, para que ficassem mais confortáveis no espaço de que dispõem. Mas perante o défice de famílias a abrirem as suas portas, expandiram a oferta a mais dois jovens. Resultado: tiveram de libertar o quarto maior, com duas camas, e eles os quatro arrumaram-se como puderam, por entre colchões e sacos-cama.
As famílias de acolhimento só têm de garantir o pequeno-almoço aos “seus” peregrinos. Mas para o jantar de hoje, em jeito de boas vindas, Filipa preparou-lhes uma lasanha de espinafres e requeijão (não se come carne nesta casa), na esperança que lhes agrade ao palato e também lhes fortaleça o espírito.
Antes de se sentarem todos à mesa, como uma grande família, Filipa saiu num passeio de fim de tarde pelo bairro, com o seu filho Vasco, 17 anos, também voluntário, e com os seis polacos acabados de chegar, para lhes mostrar os sítios que podem e devem frequentar durante estes dias da JMJ, como a igreja ou o Vale do Silêncio para as missas diárias.
Agora, é deixá-los explorar. Filipa sabe que existem planos de ir até ao Cabo da Roca, em Colares, por ser o sítio mais ocidental da Europa Continental e ter, por isso mesmo, um simbolismo especial. De resto, têm os Olivais – e Lisboa – a seus pés.
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