Professor catedrático de Inteligência Artificial na Universidade de Cambridge, investigador sénior no Alan Turing Institute, antigo diretor de machine learning (aprendizagem automática) na Amazon, Neil Lawrence tem focado a sua investigação na relação dos seres humanos com os grandes sistemas de Inteligência Artificial (IA). Escreveu o livro Humano, Demasiado Humano – O que nos Torna Únicos na Era da Inteligência Artificial (Gradiva) para contrariar as ideias “simplistas” sobre os riscos da IA e apontar o dedo às grandes empresas tecnológicas, as quais acusa de entrarem no jogo da ameaça existencial unicamente para protegerem os seus mercados. O investigador lamenta também que a regulamentação europeia seja “desajeitada” e feita por pessoas com conhecimento limitado da tecnologia.
Afirma, no livro, que os humanos não podem ser substituídos pela tecnologia. Mas não estaremos a criar algo mais inteligente do que nós, que possa escapar ao nosso controlo? A regulamentação é suficiente para nos proteger desse risco?
Já criámos, com as redes sociais. A ironia é essa. Não são mais inteligentes, mas têm muita informação sobre nós. Só por terem acesso a tanta informação, compreendem-nos, em alguns aspetos, melhor do que nós próprios. As pessoas presumem que não são um perigo, mas estão a prejudicar a nossa sociedade. Em vez de orientarmos a tecnologia para o benefício do cidadão, temos tentado ser os primeiros a regular, como se fosse uma questão de orgulho, e temos regulado de uma forma desajeitada, tanto na Europa como no Reino Unido. Na verdade, a incapacidade de compreender a nossa complexidade é a razão pela qual a regulação é tão desajeitada. Embora critique a pressa em legislar, também compreendo as razões dessa pressa. Mas o objetivo do legislador não é ser o primeiro a fazer alguma coisa. É uma tarefa muito mais complicada do que redigir uma lei. O poder já não está nas mãos das pessoas porque passou para o mundo digital, para os engenheiros de software e para as grandes empresas tecnológicas.