Dos dez maiores incêndios de sempre nos EUA, seis ocorreram neste século, e três deles depois de 2020. Este é um sinal de que “há um acumular de situações extremas, que têm que ver com as alterações climáticas”, sublinha Carlos da Camara, climatologista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, numa entrevista em que explica as dificuldades dos modelos em “prever” todos os impactos das mudanças no clima – e em que alerta para o problema dos pontos de não retorno. “O que preocupa os climatologistas é a possibilidade de se entrar numa derrapagem para um novo estado de equilíbrio pouco harmónico com uma vida em sociedade como nós a imaginamos.”
Quão anormal é haver incêndios daquela intensidade, naquela região, nesta altura?
Há incêndios na Califórnia em janeiro, tal como em Portugal já houve anos com incêndios em janeiro. O que há de completamente anormal são incêndios com esta intensidade, e isso tem que ver com uma conjugação de fatores: uma seca que tem afetado o Sul da Califórnia desde outubro, o que faz com que a vegetação esteja extremamente stressada, e um episódio de ventos de Santa Ana, aqueles ventos que sopram da zona desértica da Califórnia em direção à costa. Com as duas coisas conjugadas – ventos secos, muito intensos, e vegetação muito seca –, qualquer ignição dá fogos incontroláveis. E, de facto, são incontroláveis quer pela dimensão, quer pela velocidade de propagação. Cinco hectares por minuto é uma loucura!