Milhares de pessoas juntaram-se esta tarde na avenida Almirante Reis, em Lisboa, para protestar contra o racismo e a ação policial no tratamento de imigrantes. A manifestação “Não nos encostem à parede” foi convocada na sequência das imagens de dezenas de imigrantes encostados às paredes dos prédios devido a uma operação policial, em dezembro do ano passado, na rua do Benformoso, perto do Martim Moniz.
Os dirigentes dos partidos de esquerda – PS, BE, PCP, PAN e Livre – também se juntaram à manifestação sublinhando a necessidade de combater as divisões que existem na sociedade portuguesa e o respeito pelos valores de liberdade e democracia. Em declarações aos jornalistas, Alexandra Leitão, líder parlamentar do partido socialista, referiu que a manifestação não foi “contra ninguém” mas pela “defesa dos valores do Estado de Direito”. “O que rejeitamos são retóricas divisivas e artificiais que servem apenas para o Governo tirar o foco daquilo que é importante que é resolver os problemas dos portugueses”, defendeu Alexandra Leitão, reforçando a ideia de que a polícia “não deve ser instrumentalizada por discursos” de divisão.
Já Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, referiu que “o orgulho do antirracismo” e “a coragem da solidariedade nos momentos mais difíceis” foram os grandes fatores de união dos partidos presentes na manifestação. “O único receio que devemos ter é o receio de ficar calados, em silêncio. É o receito do medo. Quem tem a coragem da solidariedade, quem tem orgulho nessa posição de união, de antifascismo, de solidariedade, de democracia, não tem receito de nada, porque a democracia é tudo o que vale a pena defender”, disse.
Também o dirigente do PCP, João Ferreira, alertou para a “instrumentalização, por parte do poder político, das forças de segurança” considerando-a “um perigo” para a população e para a própria democracia. “Quando essa instrumentalização é feita para voltar grupos da população uns contra os outros mais perigoso se torna ainda, porque hoje é contra uns e amanhã será contra nós todos”, referiu o dirigente do PCP.
Vigília organizada pelo Chega decorreu na Praça da Figueira
Também durante a tarde, na Praça da Figueira, decorreu a vigília “Pela autoridade e contra a impunidade” de apoio à PSP, organizada pelo partido Chega. À chegada à concentração, André Ventura, presidente do partido, descreveu como “ilegítima” a manifestação antirracismo considerando-a “contra polícias e magistrados”, e acusou o Governo de ter “cedido à pressão”. “Eu não quero provocar ninguém, mas tenho a certeza disto: há muitas manifestações, num sentido e noutro, talvez esta manifestação de hoje seja a mais ilegítima que alguma vez existiu aqui ao lado no Martim Moniz, porque é verdadeiramente contra a polícia, verdadeiramente pelos bandidos”, referiu.