No último quartel do século XIX, quando as principais potências europeias se lançaram na corrida à ocupação de África, Portugal viu-se também envolvido nessa movimentação. Não porque fosse uma grande potência como o Reino Unido, França ou a Alemanha, mas porque alegava ter direitos históricos ao seu quinhão. A verdade é que o contacto dos portugueses com África remontava já ao século XV. O facto é que algumas zonas do que viriam a ser as colónias de Angola e Moçambique eram desde há muito regidas por governadores nomeados por Lisboa, sendo travadas guerras contra os soberanos locais. Escusado será dizer que nunca ninguém pediu a opinião destes acerca da ocupação das suas terras por europeus.
Chegou-se mesmo ao ponto de organizar, em 1884-1885, um congresso, em Berlim, durante cujos trabalhos os representantes das “potências” pegaram numa caneta e numa régua e traçaram no mapa as fronteiras da partilha geográfica de toda a África. Portugal achava-se com direito a que fosse reconhecida a sua soberania sobre uma vasta porção do continente, entre as costas de Angola e de Moçambique, englobando a Zâmbia e o Zimbabué atuais. Até se imprimiu e distribuiu um mapa onde essas terras estavam pintadas num tom rosado – o famoso Mapa Cor-de-Rosa, de que quase toda a gente já ouviu falar. Se os seus direitos foram de algum modo reconhecidos pelos parceiros e rivais, como sabemos que foram apesar de muitas reticências, isso ficou exclusivamente a dever-se, portanto, ao peso da História.