Gisèle Pelicot fez tudo ao contrário do que seria esperado ou, pelo menos, do que ditavam os conselhos mais prudentes. Os seus advogados começaram por querer que o julgamento decorresse à porta fechada. Mas ela insistiu que fosse público. Depois, ainda defenderam que se evitasse a exibição das imagens e dos vídeos que são a prova da miséria moral e da barbárie. E ela voltou a insistiu que estes fossem mostrados. A francesa de 72 anos – que, entretanto, foi transformada num símbolo do feminismo à escola global e que, por isso mesmo, é uma das mulheres que se destacaram durante 2024 – não só não se escondeu como fez ainda questão de comparecer a todas as sessões no tribunal.
Em todas essas situações, a intenção seria boa, tinha como objetivo protegê-la, tinha passado pelo inferno na Terra e estava fragilizada. Gisèle Pelicot não quis propriamente exibir-se, mas dispensou todos esses cuidados. Queria transformar o seu drama individual numa causa pública, explicou. Os próprios advogados acabaram por compreender: “Ela quer que as pessoas saibam o que lhe aconteceu e acredita que não tem motivos para esconder. Goste-se ou não, este julgamento ultrapassa os limites deste tribunal. E ficar de portas fechadas também significa pedir à minha cliente que seja trancada num lugar com aqueles que a atacaram.”