O Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves deslocou-se, esta segunda-feira, ao bairro do Zambujal, na Amadora, para se encontrar com os familiares de Odair Moniz.
“A iniciar a sua missão a Portugal”, o Presidente da República, José Maria Neves, deslocou-se ao Zambujal “para se inteirar da situação da família enlutada (a viúva Mónica Moniz, os dois filhos rapazes de 20 e três anos de idade, e a irmã de Mónica, Sílvia Silva) e expressar, de viva voz, o seu profundo pesar e apoio neste momento difícil”, lê-se num comunicado da Presidência de Cabo Verde, divulgado nas redes sociais.
A nota refere que “a visita foi marcada por um ambiente de respeito e empatia, refletindo o compromisso do Chefe de Estado [de Cabo Verde] em estar presente e solidário com os cidadãos cabo-verdianos, especialmente em momentos de dor e perda”.
O encontro, no interior da casa da família Moniz, não teve registos fotográficos. Presente estiveram também a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Cabo Verde, Miryan Vieira, e ainda o embaixador cabo-verdiano em Portugal, Eurico Correia Monteiro.
Recorde-se que Odair Moniz, 43 anos, morreu na madrugada do dia 21 de outubro, na sequência de uma intervenção da PSP, no bairro da Cova da Moura, na Amadora. A polícia garante que Odair Moniz não respeitou um sinal de paragem, o que deu início a uma perseguição. Na primeira notícia sobre o caso, no site da CNN, contava-se que Odair Moniz era suspeito de furto de viatura, mas a informação seria desmentida pela VISÃO.
O relato da PSP explicava que, “pelas 05h43” daquela noite, os agentes da PSP procederam “à interceção” deste homem, que terá resistido à detenção. “Na Rua Principal do referido bairro [Cova da Moura], quando os polícias procediam à abordagem do suspeito, o mesmo terá resistido à detenção e tentado agredi-los com recurso a arma branca”, versão que os próprios polícias envolvidos na operação acabariam por desmentir. A situação terá mesmo levado a PJ a investigar uma eventual “falsificação de provas” pela PSP.
Nessa altura, um dos polícias, de apenas 21 anos – e com apenas um ano de farda –, recorreu à arma de fogo e atingiu o suspeito com, pelo menos, dois tiros. A PSP indicou ainda que, após os disparos, foi prestada “prontamente” assistência à vítima, mas o relato voltaria a ser desmentido por um vídeo, filmado por um morador, a partir de uma janela próxima, e divulgado pela VISÃO.
Odair Moniz ainda seria transportado para o Hospital São Francisco Xavier, mas acabaria por falecer “pelas 06h20”.
O agente da PSP autor dos disparos foi constituído arguido. O Ministério da Administração Interna determinou à Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI) a abertura de um inquérito “com caráter de urgente” para apurar o que aconteceu naquela noite. A PSP também anunciou uma investigação interna para apurar as circunstâncias do caso.
A morte de Odair Moniz provocou revolta no bairro onde este residia, resultando em motins. Nas noites seguintes, os incidentes espalharam-se pela Área Metropolitana de Lisboa, havendo o registo de autocarros, veículos ligeiros e caixotes do lixo incendiados, dos quais resultaram seis pessoas feridas, umas das quais ficou em estado grave (o motorista de um autocarro); cerca de duas dezenas de pessoas foram detidas.