Com a chegada do verão e das férias aumentam também as preocupações com a pele e os cuidados que se devem tomar para que a exposição solar não se torne fonte de desconforto e risco para a saúde. Entre produtos de farmácia e de supermercado, existe, atualmente, uma imensa oferta de protetores solares que dificulta a vida a hora de escolher o produto mais seguro e indicado para o tipo de pele. Que nível de FPS pretende? E o que é que esse termo significa realmente? Deve optar por um protetor solar químico ou mineral? E quanto aos raios UVA e UVB, que tipo de proteção é a melhor? Sobrou protetor solar do ano passado, pode utilizá-lo ainda este ano? De quanto em quanto tempo deve aplicar uma nova camada?
Para além de queimaduras solares graves – os famosos “escaldões” – a exposição prolongada aos raios ultravioleta pode também resultar no aceleramento dos sinais de envelhecimento e, pior, no cancro da pele.
Nas últimas décadas, o número de casos de diagnóstico de cancro de pele tem aumentado significativamente. Segundo dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro – partilhados pelo Serviço Nacional de Saúde – cerca de 53% dos portugueses aplica protetor solar na pele só depois de sentir a pele a queimar e 40% não o volta a colocar. De acordo com Vítor Veloso, presidente da LPCC, a adoção de comportamentos responsáveis durante a exposição solar “poderá evitar os 10 mil novos casos de cancro da pele que todos os anos aparecem e são uma preocupação”.
O que significa FPS?
O primeiro aspeto – e talvez o mais importante – quando vai escolher um protetor solar será o símbolo de FPS, ou seja, o Fator de Proteção Solar. O FPS é a medida que indica a quantidade de tempo que pode estar exposto ao sol sem ficar com uma queimadura solar, comparado ao tempo que teria sem usar nenhum. Ou seja, em teoria, quanto mais alto for o valor de FPS mais tempo dura a sua proteção.
Veja-se o exemplo de um FPS 10: Se costuma ficar com um escaldão após dez minutos ao sol sem qualquer tipo de creme, ao optar por aplicar um protetor de fator dez, deverá conseguir ser capaz de aguentar cem minutos de exposição solar sem ficar com queimaduras solares posteriormente. A mesma regra aplica-se aos restantes fatores, sendo que um FPS 30 demora cerca de 30 vezes mais tempo a queimar a pele e um FPS 50 levará cerca de 50 vezes mais a provocar um escaldão.
Contudo, estas contas nem sempre batem certo. Apesar de um protetor de fator 30 ter uma proteção solar que dura, supostamente, o dobro do tempo de um protetor fator 15, estas contas não significam que o produto permanece ativo na sua pele durante todo esse tempo. Fatores como a estação do ano, a localização geográfica, o tipo de pele, a hora do dia e, até, o suor do corpo influenciam a eficácia do produto.
De acordo com especialistas da Associação Americana de Dermatologia, deve-se aplicar-se uma nova camada de protetor solar – independentemente do fator do mesmo – a cada duas horas de exposição solar ou então após uma ida ao “banho”. Ademais, é recomendado que se aplique o protetor solar cerca de 30 minutos antes da exposição solar, de forma a garantir que o produto seja capaz de penetrar na pele e que se encontre ativo à hora de início da exposição.
Que FPS deve utilizar?
Para além do tempo de duração, a defesa aos raios UV que o protetor solar oferece também varia consoante o fator escolhido. Ao optar por um FPS 15 está a bloquear a penetração solar de cerca de 93% dos raios ultravioleta. Já um protetor de fator 30 bloqueia cerca de 96,7% de raios UV, um FP50 chega aos 98% e o FPS100 – o mais alto – alcança os 99% de defesa contra os efeitos do sol.
Seja qual for o nível de FPS que utilize, é aconselhado uso de protetor solar o ano inteiro, especialmente em zonas como a face. O mais recomendado é que utilize um protetor solar de, no mínimo, fator 30, tendo em conta o tipo de pele e o tempo diário de exposição ao sol. Já o FPS 50 é a opção mais segura para pessoas com tipos de pele mais sensíveis e mais suscetíveis aos danos provocados pelos raios UV.
Ao contrário do que se pensa, o tom de pele – ou seja os níveis de melanina – não tem influência no nível de proteção que a pele precisa, pelo que peles com tonalidades mais escuras necessitam na mesma da aplicação de protetor solar de forma diária. Contudo, é recomendado que as peles mais claras apliquem protetor mais frequentemente. “As pessoas de todas as cores de pele correm o risco de contrair cancro da pele, envelhecimento da pele e queimaduras solares por estarem expostas ao sol”, pode ler-se nas orientações da FDA, organização de Saúde dos EUA.
A necessidade de um protetor solar com maior fator de proteção solar varia também consoante a faixa etária, sendo recomendada a maior proteção possível para bebés e crianças que pode ir baixando consoante a idade evolui. O mesmo acontece com pessoas diagnosticadas com cancro de pele ou doenças do foro tópico – como albinismo ou xeroderma pigmentoso – para as quais um protetor de fator 50 poderá não ser suficiente.
Devo utilizar um protetor diferente para o rosto?
O rosto é uma das partes do corpo mais expostas aos raios solares diariamente, pelo que é altamente recomendado que se utilize um protetor solar como parte da rotina de higiene. Segundo os especialistas, não há motivo para que não se possa utilizar o mesmo protetor solar no corpo e na cara, uma vez que o mínimo recomendado para ambas as partes do corpo é o FPS 30. Contudo, deverá ter-se em atenção que os cremes faciais hidratantes com FPS que se utilizam para o dia a dia – geralmente até por baixo da maquilhagem – podem não ser os mais indicados para longas exposições solares e possuem uma menor resistência à água.
Qual é a diferença entre um protetor solar químico e um protetor solar físico?
Existem atualmente dois tipos de protetores solares diferentes no mercado que atuam a diferentes níveis para proteger a pele dos raios do sol: os protetores solares físicos – também conhecidos enquanto minerais – e os protetores solares químicos.
Geralmente, os protetores solares com os rótulos “físicos” possuem na sua composição ingredientes como o óxido de zinco ou óxido de titânio, defendo a pele ao servirem enquanto refletores das radiações UV, impedindo-os de penetrar na pele. Estes protetores são frequentemente recomendados para pessoas com pele mais sensível.
Já os protetores solares químicos defendem a pele ao absorver a radiação solar e transformando-a antes que danifique as células tópicas. Por norma, na sua composição, encontram-se ingredientes como a avobenzona, o homosalato e o octocrileno.
Qual é a diferença entre os raios UVA e raios UVB?
Dentro das radiações ultravioleta existem dois tipos de UV com prejudiciais para as células da pele humana e que podem levar ao desenvolvimento de melanomas, ou seja, cancro da pele. Este é um dos fatores mais importantes ao escolher um protetor solar, uma vez que a maioria dos produtos apenas protege contra as radiações UVB.
Os raios UVB são os principais responsáveis pelo desenvolvimento do cancro da pele e queimaduras solares. Mesmo com efeitos significativamente reduzidos pelo protetor solar, estes tipos de raios nunca são totalmente filtrados pelo protetor, pelo que a cada duas horas deve ser reaplicado o produto.
Já os raios UVA são os causadores do envelhecimento prematuro da pele – como as rugas – bem como o motivo por detrás dos “bronzeados de verão” que, em excesso, pode levar às queimaduras solares.
Posso usar o protetor solar do ano passado?
Geralmente, o prazo de validade na maioria dos protetores solares ronda os três anos após a abertura do recipiente. Contudo, é relevante perceber que o ciclo de vida destes produtos varia consoante a forma como estes são guardado após a utilização. Expostos a temperaturas elevadas e à luz solar direta, os ingredientes ativos do produto acabam por deteriorar-se, fazendo com que percam a sua eficácia e capacidade de proteger a pele.
Outras recomendações
Apesar do protetor solar ser a primeira linha de defesa da pele contra os efeitos nocivos do sol, o protetor solar deve ser acompanhado de uma série de outras precauções que ajudem a diminuir, ou atenuar, as consequências da exposição solar.
As recomendações dos especialistas passam pela utilização de roupa leve – durante os meses de verão – bem como o uso de chapéu de sol para proteger a cabeça. No mesmo sentido – e especialmente durante os dias mais quentes – é aconselhado evitar a exposição solar de forma prolongada, devendo preferir-se as sombras e sítios frescos. Ademais, a exposição solar deve ser limitada durante certos períodos do dia – durante as 12 horas da manhã às 16 horas da tarde – altura em que os raios UV são especialmente perigosos.