O título do novo livro de Bernardo Pires de Lima não poderia ser mais sugestivo e, ao mesmo tempo, provocatório: Ano Zero da Nova Europa (ed. Tinta da China). Mas é também um bom pretexto para observar a realidade europeia e mundial, numa conversa com o investigador do Instituto Português de Relacões Internacionais da Universidade Nova de Lisboa, consultor político do Presidente da República, e colunista da VISÃO, onde assina, todas as semanas, uma análise sobre a política internacinonal.
O Presidente francês Emmanuel Macron avisou recentemente que a Europa pode morrer. Considera mesmo essa hipótese ou é apenas um dramatismo?
Acho que é um dramatismo justificado, porque só entendo a União Europeia como sendo composta por democracias. E o que se assiste agora, em muitas delas, é a um conjunto de sinais preocupantes que reverte a natureza das próprias democracias: fechamentos em relação às migrações, entraves ao livre comércio e à relação jurídica com a União Europeia. Assim, às tantas, embora possamos continuar a dizer que todos os 27 países são democracias, a verdade é que se regista, em algumas, um desrespeito cada vez maior em relação aos tratados que regulam o funcionamento democrático da UE. E isto também é uma crítica ao próprio funcionamento da União, por ser demasiado permissivo em relação aos prevaricadores. Ameaça muito, mas é pouco consequente. E isso paga-se mais tarde.