A barata alemã, nome utilizado como referência à espécie de barata conhecida cientificamente como Blattella germanica, é uma das mais comuns em áreas urbanas de todo o mundo, especialmente em cozinhas e restaurantes, adaptando-se aos mais diversos ambientes.
Esta barata apareceu pela primeira vez em registos científicos de há 250 anos na Europa, daí o nome alemão, mas não há evidências de que esta espécie seja originalmente daquela região. A sua origem continua, aliás, incerta, apesar de se acreditar que esta praga muito resistente seja nativa das regiões do sudeste da Ásia ou do norte da África.
Nesta investigação, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciencesos, a equipa de investigadores, liderada por Qian Tang, biólogo evolutivo e investigador na Universidade de Harvard, Cambridge, Massachusetts, EUA, queria perceber como é que estas baratas se espalharam por todo o mundo, tendo pedido a cientistas e especialistas em controlo de pragas de várias partes do mundo que enviassem amostras locais de baratas alemãs.
“O nosso principal objetivo era mostrar como uma espécie pode viajar com os seres humanos e como a genética pode compensar a parte que falta dos registos históricos”, explica Tang, citado pela CNN.
Ao todo, a equipa conseguiu estudar o ADN de 281 amostras de 57 locais diferentes em 17 países, conseguindo traçar o seu percurso evolutivo, e descobriu, de forma surpreendente, que este inseto evoluiu da barata asiática selvagem, cientificamente conhecida como Blattella asahinai, há 2100 anos.
Esta espécie é, muitas vezes, confundida com a barata alemã devido à sua aparência semelhante, mas é uma espécie distinta com hábitos ligeiramente diferentes.
Além disso, a análise genética deste estudo estima que estes insetos apareceram na Europa há cerca de 270 anos e que passaram deste continente para a América há 120 anos.
Os investigadores explicam que as pessoas do que é agora a Índia ou Myanmar começaram a plantar colheitas no habitat natural da barata asiática e este animal adaptou-se, tendo alterado a sua dieta para alimentos humanos e, por isso mesmo, mudou-se para dentro das casas. Mil anos mais tarde, o comércio e as ações militares entre continentes fizeram com que estas baratas se espalhassem pelo mundo.
Os próximos passos
“As coisas que permitiram aos humanos prosperar – canalização interior, aquecimento – são coisas que também permitiram às baratas prosperar”, diz, em entrevista à CNN, Jessica Ware, curadora no Museu Americano de História Natural em Nova Iorque, EUA, e que não fez parte do estudo, acrescentando que “ao criarmos esgotos por baixo das nossas cidades, não podíamos ter proporcionado um melhor buffet”.
“Há muito tempo que sabemos que as pessoas transportam muitas espécies de pragas. E sabemos que as rotas comerciais transatlânticas foram provavelmente as culpadas pela propagação das baratas alemãs. Mas ver isto refletido na assinatura genética destas populações foi muito emocionante”, refere ainda.
A equipa quer, agora, descobrir se a capacidade de comunicação destes insetos também é um traço de sobrevivência que as baratas herdaram graças aos humanos. Além disso, pretende perceber, através da sequenciação dos genomas dos insetos, como é que esta espécie se adaptou tão bem ao ambiente humano. “Como é que elas [baratas alemãs] conseguem evoluir tão rapidamente? Será que é algo que já está nos seus genes, mas que se revelou devido às pressões antropogénicas?”, pergunta Tang.