Um novo estudo, desenvolvido por investigadores da Universidade de Washington, em Seattle, EUA, concluiu que a taxa de fertilidade global deve continuar a cair até ao final deste século, confirmando a tendência de redução que se tem verificado há mais de 70 anos. Esta previsão, dizem os investigadores, poderá fazer com que haja uma grande mudança demográfica, com muitas consequências.
Desde 1950 que as taxas de fertilidade têm vindo a diminuir em todos os países do mundo: nesse ano, a a taxa de fertilidade era de 4.84 filhos por mulher. Em 2021, esse valor era de 2.23 e a equipa estima que, em 2100, seja de 1.59.
Apesar disso, um relatório divulgado pelo Eurostat em março do ano passado revelou que a taxa de fertilidade na União Europeia (UE) avançou, em 2021, para 1,53 filhos por mulher, invertendo uma tendência em baixa registada desde 2008. Já em Portugal, a taxa de fertilidade tinha recuado, em 2021, para os 1,35 filhos, face aos 1,41 de 2020.
O nível de substituição na taxa de fertilidade, que se refere ao número médio de filhos que uma mulher precisaria de ter ao longo da sua vida fértil para garantir que a população se mantenha estável ao longo do tempo, é definido por 2,1 filhos por mulher, em países onde a taxa de mortalidade infantil é baixa.
Ou seja, para manter a população estável, cada mulher precisa de ter, em média, pelo menos dois filhos para substituir os pais e, em média, mais 0,1 filho para compensar crianças que não alcançam a idade reprodutiva ou que morrem prematuramente.
Mas quando a taxa de fertilidade desce abaixo do nível de substituição, as populações começam a diminuir. O novo estudo refere que, em 46% dos países tinham, em 2021, uma taxa de fertilidade abaixo do nível de substituição e estimam que essa percentagem aumente para 97% em 2100. Isto significa que a população de quase todos os países do mundo vai estar a diminuir até essa data.
Taxa de fertilidade: porque é que este valor tem vindo a diminuir de forma tão drástica?
A taxa de fertilidade é uma medida demográfica que indica o número médio de filhos que uma mulher teria ao longo da sua vida reprodutiva, geralmente expressa em filhos por mulher. É uma estatística importante para entender a dinâmica populacional de uma sociedade ou país.
De acordo com Christopher Murray, autor sénior do estudo, são muitos os motivos que justificam esta redução da taxa de fertilidade, incluindo o aumento da literacia e das oportunidades de emprego para as mulheres e um maior acesso a métodos contracetivos e à educação sobre saúde reprodutiva.
Este estudo retirou outras conclusões importantes, inclusive relativamente às taxas de fertillidade entre os vários países, já que são muito desiguais, o que leva a uma grande diferença na distribuição dos nados-vivos em todo o mundo, explica a equipa.
Segundo os investigadores do estudo, publicado na revista Lancet, a percentagem de nados-vivos nas regiões menos desenvolvidas pode vir quase a duplicar, passando de 18% em 2021 para 35% em 2100: por exemplo, só a África Subsariana será responsável por uma em cada duas crianças nascidas no planeta até 2100.
Isto fará com que se crie um “mundo demograficamente dividido”: os países mais desenvolvidos vão ter de enfrentar o grande problema do envelhecimento populacional e os menos desenvolvidos vão manter uma elevada taxa de natalidade, o que vai agravar a pobreza e a desiguldade e a pressão sobre os recursos.
Para combater esta situação a nível económico, por exemplo, os autores do estudo acreditam que a criação de políticas que incentivem a imigração e as as inovações que têm surgido no mundo do trabalho, tal como os avanços da inteligência artificial (IA), podiam ser uma ajuda.
Já um maior acesso a contracetivos modernos e à educação das mulheres poderia reduzir as taxas de fertilidade e limitaria o aumento de nados-vivos nos países menos desenvolvidos, diz a equipa.
Os investigadores referem ainda que as baixas taxas de fertilidade e os efeitos modestos das políticas pró-natalidade não devem ser usados para justificar medidas que podem coagir as mulheres a terem mais filhos, como a limitação aos seus direitos reprodutivos e a restrição do acesso a contracetivos.
“Existe uma ameaça real quando alguns governos tentam pressionar as mulheres a terem mais filhos”, afirma Murray. “É muito fácil passar do incentivo às mulheres para terem mais filhos para uma atitude um pouco mais coerciva”, acrescenta.
