Depois de quase 90 anos, o mistério do desaparecimento de Amelia Earhart, a primeira mulher a tentar dar a volta ao mundo de avião, em 1937, pode ter chegado ao fim. Nesse ano, Earhart já era vista como uma celebridade – tinha acumulado vários recordes, mas já lá vamos – quando decidiu ser a primeira mulher a dar a volta ao mundo.
E apesar de uma equipa norte-americana já ter realizado, em 1924, uma travessia aérea à volta do mundo, esta seria a viagem mais longa, somando 47 mil quilómetros que seriam realizados ao longo da linha do equador.
Depois do desaparecimento da aviadora, muitas teorias e especulações começaram a surgir, devido à importância mundial que Earhart acabou por ter. Contudo, Tony Romeo, antigo oficial dos serviços secretos da Força Aérea e diretor executivo da Deep Sea Vision, empresa que fornece equipamento e dados de investigação submarina, acredita ter resolvido “o mais duradouro mistério da aviação de todos os tempos”.
Romeo afirma ter descoberto a localização do avião onde seguia Earhart e Fred Noonan, piloto com vasta experiência de voo no Pacífico. Juntamente com a sua equipa, procurou vestígios do aparelho nas águas profundas do oceano, na área suspeita da queda do avião, utilizando tecnologia de sonar, um instrumento que deteta e localiza objetos e obstáculos no fundo dos mares e oceanos.
Em dezembro do ano passado, durante esta viagem, foram analisados dados recolhidos por um drone subaquático, que captou uma imagem, embora desfocada, do que Romeo acredita ser o desaparecido bimotor Lockheed 10-E Electra, a cerca de 160 quilómetros da ilha de Howland e a 5 mil metros de profundidade, de acordo com informações publicadas pelo Wall Street Journal.
“Seria difícil convencer-me de que é outra coisa que não um avião, por um lado, e por outro, que não é o avião de Amelia”, afirmou Romeo, em declarações à NBC News. “Não há outros acidentes conhecidos na área, e certamente não daquela época, com aquele tipo de design e a cauda que se vê claramente na imagem”, acrescentou.
Na última viagem, a equipa utilizou um submersível não tripulado, analisando mais de 8 mil quilómetros quadrados do fundo do oceano.
O objetivo agora, de acordo com o explorador, é a “confirmação”, ou seja, a equipa pretende regressar ao local com equipamento tecnológico inovador já este ano ou no início do próximo. “Há muita coisa que precisamos de saber sobre isto. E parece que há alguns danos. Quer dizer, nesta altura [o aparelho] já lá está há 87 anos”, referiu.
A rota
Houve uma primeira tentativa de voo em 1937, mas um acidente fez com que o aparelho ficasse totalmente danificado. Depois de ser reparado, Earhart e Noonan partiram a 1 de junho, a partir de Miami.
A dupla chegou a Lae, na costa oriental da Papua Nova-Guiné, depois de várias escalas e, a 2 de julho, partiu para Howland, uma ilha no meio do Pacífico, entre a Austrália e o Hawai, com apenas 2,4 quilómetros de comprimento.
Esta ilha plana de coral estava situada a 4100 quilómetros de distância e o combustível era suficiente, mas os dois depósitos não estavam completamente cheios, com o objetivo de se reduzir o peso do avião.
Após longas horas de viagem, Earhart e Noonan não conseguiram chegar ao destino final, onde os esperava o navio USCGC Itasca, que ia mantendo o contacto com os pilotos através de rádio, para os auxiliar com a orientação. O navio foi recebendo vários sinais do avião, mas as comunicações do outro lado quase não existiram e, quando o contacto se perdeu completamente, o avião foi dado como desaparecido.
Numa das últimas comunicações, um dos aviadores referiu: “Itasca, devemos estar em cima de vocês porque não vos vemos. Temos pouca gasolina. Não conseguimos localizar-vos por rádio. Estamos a voar a mil pés [304 metros] de altura.”
Foi iniciada uma missão de resgate que mobilizou mais de 60 aviões e nove navios que percorreram cerca de 250 mil milhas quadradas (mais de 400 mil km) de oceano, sem sucesso, e em janeiro de 1939 Earhart e Noonan foram declarados mortos.
Amelia Earhart nasceu a 24 de Julho de 1897, em Atchison, Kansas, EUA, tendo-se interessado desde muito nova por atividades mais aventureiras e que potenciassem a sua independêncua. Além disso, o seu interesse por saber mais sobre mulheres que tinham sido bem sucedidas em atividades tradicionalmente realizadas por homens também foi crescendo.
Earhart teve, em 1920, a sua primeira experiência de voo com o piloto Frank Hawks em Long Beach, na Califórnia. A viagem durou apenas 10 minutos, mas foi suficiente para a jovem decidir que queria aprender a pilotar.
Um ano depois, Lady Lindy, como foi mais tarde denominada pela imprensa devido às suas semelhanças físicas com o aviador famoso Charles Lindbergh, teve a sua primeira aula, dois anos mais tarde obteve a licença de voo e entre 1920 e 1930 começou a acumular diferentes recordes: foi, por exemplo, a primeira mulher do mundo a atravessar o ocenao atlântico.
Casou-se aos 33 anos, com o editor George Putnam, que a pediu seis vezes em casamento até ela aceitar, mas apenas com a condição de poder manter a sua liberdade.