No espaço de poucos dias, foram noticiados vários processos judiciais movidos no tribunal de Nova Iorque, EUA, contra famosos por crimes sexuais. Todos contra pessoas diferentes, mas com a mesma acusação. O artista Jamie Foxx, o produtor Diddy, o músico Axl Rose e o ator português Nuno Lopes estão entre os homens que terão em breve de responder perante a justiça norte-americana. E se esta vaga de processos judiciais parece coincidência, a verdade é que não o é: afinal, há uma lei em Nova Iorque relacionada com os prazos para queixas em processos de crimes sexuais que está prestes a terminar.
Estes casos foram movidos pela Lei de Sobreviventes Adultos de Nova Iorque, que foi instaurada em novembro passado e permitiu, durante um ano, a apresentação de queixas sobre alegados crimes que podem ter expirado. Contudo, esta lei termina esta sexta-feira, dia 24 de novembro. O fim do prazo para apresentar processos levou a uma corrida ao tribunal de Nova Iorque, com mais de 2700 ações judiciais a serem entregues contra pessoas individuais, empregadores, empresas ou entidades governamentais como hospitais, igrejas e escolas. A maior parte destes casos foram movidos no início da lei e agora no final, o que explica o porquê de nos últimos dias terem surgido notícias de acusações de crimes sexuais contra figuras públicas.
Segundo o advogado Jonathan Schulman, cuja empresa representa cerca de 1800 das queixas apresentadas por mulheres, haver tantos casos relacionais com celebridades não é inesperado. “A indústria da música e do entretenimento há muito que possui desequilíbrios de poder que contribuem para o comportamento abusivo. Não ficaria surpreendido por ver mais queixas a este respeito, já que um dos temas comuns que ouvimos de muitos sobreviventes que representamos é que o medo de retaliação forçou o silêncio.”
Jamie Foxx
Jamie Foxx foi acusado por uma agressão sexual alegadamente ocorrida em 2015 na esplanada de um restaurante de Nova Iorque. A queixosa acusou Eric Marlon Bishop, verdadeiro nome do artista, de a tocar sem consentimento depois de ela e uma amiga terem abordado o ator no terraço do estabelecimento.
De acordo com a queixa, Foxx concordou em tirar uma foto, elogiou a mulher, comparando-a à atriz Gabrielle Union e depois agarrou-a no braço, puxou-a para longe e tocou-lhe no seio sem consentimento. Além disso, segundo a mulher, o ator “colocou os dedos” na sua “vagina e ânus” até que a amiga veio em seu auxílio, uma vez que, alegadamente, um dos guarda-costas da estrela de Hollywood ter-se-á apercebido da situação, mas nada fez.
A queixosa “sofreu ferimentos, ficou doente, com dores, angustiada e incapacitada, e teve que passar por tratamento e aconselhamento médico”, diz o processo, que acusa também o restaurante e o proprietário, Mark Birnbaum, de terem permitido o ataque através do comportamento alegadamente negligente dos funcionários.
Diddy
O produtor musical é acusado pela cantora Cassie num caso que remonta a 2005. A artista alega que o empresário, com quem mais tarde namorou, teve comportamentos abusivos e controladores, alegando ainda agressões físicas. Cassie acusa Diddy de a ter forçado a ter relações sexuais com outras pessoas e a consumir drogas.
“Após anos de silêncio e escuridão, estou finalmente pronta para contar a minha história, falar por mim e por outras mulheres a lutar contra a violência e o abuso nas suas próprias relações”, escreveu a artista num comunicado.
O produtor já reagiu e nega todas as acusações. Acusa a cantora de lhe ter pedido 30 milhões de dólares em troca de não publicar um livro no qual relata a relação que tiveram.
Nuno Lopes
O ator e DJ português foi acusado de violação num caso que remontará a abril de 2006. A cineasta Anna Martemucci, conhecida como A.M. Lukas, alega que Nuno Lopes a drogou e violou no dia 28 de abril de 2006. O alegado crime terá acontecido após um evento relacionado com o festival de cinema Tribecca, que se realiza anualmente em Nova Iorque, EUA.
A alegada vítima afirma que conheceu o ator português numa festa e alega que este lhe adulterou a bebida que estava a consumir, deixando-a inconsciente e levando-a para o seu apartamento. Na ação judicial, a cineasta diz que teve momentos de consciência e que recorda ser violada. A.M. Lukas assegura que não deu o seu consentimento para uma relação sexual, garante que no dia seguinte foi ao hospital para se submeter a exames de protocolo para casos de violação e que apresentou queixa na polícia.
Nuno Lopes emitiu um comunicado através da agência que o representa para negar as acusações:“Sou moralmente e eticamente incapaz de cometer os atos de que me acusam. Jamais drogaria alguém e jamais me aproveitaria de uma pessoa incapacitada, quer por excesso de álcool ou por influência de quaisquer outras substâncias. Nem hoje nem há 17 anos”.
Axl Rose
O vocalista dos Guns N’ Roses está entre as celebridades acusadas de crimes sexuais. A ex-modelo Sheila Kennedy diz que o músico a violou em fevereiro de 1989, num quarto de hotel em Nova Iorque. A alegada vítima afirma que Axl Rose usou “a sua fama, estatuto e poder enquanto celebridade e artista musical para a manipular, controlar e violar”.
Sheila Kennedy garante que ficou com sintomas “semelhantes ao do stress pós-traumático, sempre que ouve o nome de Axl Rose ou a música dos Guns N’ Roses”.
Alan S. Gutman, advogado do músico, lançou um comunicado para negar as acusações. “Este incidente nunca aconteceu”, disse. “Estas acusações fictícias foram feitas um dia antes do fim da prescrição [da Lei de Sobreviventes Adultos de Nova Iorque]. O Sr. Rose não tem memória de ter conhecido ou falado com a queixosa”.