A tempestade Babet deixou um rasto de destruição e muita água em mais de 20 países. A Grã-Bretanha foi uma das afetadas, mas a explicação da secretária do Ambiente, Therese Coffey, sobre as cheias deixou muitas pessoas de sobrolho levantado.
Durante um inquérito dos deputados, sugeriu que a Grã-Bretanha estava menos preparada para as recentes chuvas porque elas vieram do Leste e não do Oeste. Ou seja, vieram da da direção errada.
Therese Coffey disse que os meteorologistas são “muito bons” a prever os aguaceiros que vêm do Atlântico, mas acrescentou: “Esta foi uma chuva que veio do outro lado e não temos tanta experiência nisso.”
“A precisão para prever onde cairiam chuvas tão fortes não foi a mesma”, salientou. Mas será que a chuva pode mesmo vir do lado errado?
O jornal Daily Mail contatou especialistas em meteorologia do Reino Unido. Richard Allan, professor de ciências climáticas na Universidade de Reading, diz que os modelos de previsão do tempo “não têm em conta de que direção vem a chuva”.
“Não é comum que o lado oriental do Reino Unido, que é mais seco, registe um dilúvio tão intenso e prolongado, mas as nossas previsões meteorológicas estão repletas observações detalhadas, que não se importam com a direção da chuva, sendo que somos capazes de fazer boas previsões e de alta qualidade.” Outro professor, Lee Chapman, especialista em clima, corrobora: “É verdade que o leste do Reino Unido tem significativamente menos chuvas do que outras partes do país, mas as previsões não têm em conta se a chuva vem de leste ou oeste”. No entanto, acrescentou, “isso não tem influência na intensidade ou duração da chuva durante uma tempestade”.
Aliás, a região de Brechin, o alvo das perguntas dos deputados, já teve inundações em outras ocasiões e, por isso, “não há razões para o Leste estar menos preparado” para enfrentar a chuva.
Richard Allan diz que o aquecimento global foi um dos responsáveis pela Babet: “A humidade no ar está a aumentar e, com isso, as chuvas são mais fortes e intensas”.
Liz Bentley, CEO da Royal Meteorological Society, refere que o clima na Grã-Bretanha está a tornar-se “mais volátil e mais intenso do que há três ou quatro décadas”. “Temos vindo a assistir a um aumento das chuvas que podem causar inundações repentinas e isso é causado pelas alterações climáticas que também afetam o Reino Unido”.
Edward Hanna, outro especialista em clima, atesta que “normalmente, as regiões orientais de Inglaterra e da Escócia estão relativamente protegidas das chuvas que vêm do Atlântico, mas isso nem sempre se aplica caso as tempestades ou depressões mudem de trajetória”.
O tempo “chuvoso e ventoso normalmente vem do oeste”, afiança, Richard Washington, professor de ciências climáticas, e está “geralmente ligado a sistemas de baixa pressão que se movem de Oeste para Leste”. O que aconteceu com a tempestade Babet foi isso mesmo, viajou de Oeste para Leste, mas tinha um centro de depressão sobre Inglaterra e “isso alterou os ventos e os padrões meteorológicos”, acrescentou.