João Costa Lopes, de 35 anos, não veio parar à profissão de médico e à especialidade de intensivista iludido. A capacidade de sacrifício e o sentido de missão estão implícitos no contrato. As horas extraordinárias fizeram sempre parte e nem sequer lamenta as mais de 800 que fez entre janeiro e setembro deste ano – ou as outras tantas, desde que começou a trabalhar. “Vemos a vida a passar a partir do interior do hospital. A minha juventude foi aqui. Trabalhamos dois anos num. Perdemos aniversários, casamentos, fins de semana, amigos, porque não estamos lá”, conta. E vale a pena? Um silêncio e um riso nervoso terminam com um sincero “não sei dizer” e uma ressalva: “Gosto muito de ser médico, da especialidade que escolhi, e não temos outra opção.”
O hospital de Santarém, onde trabalha, não tem profissionais suficientes para assegurar as escalas, e nem sempre é possível contratar prestadores de serviços, mas os doentes não diminuíram – pelo contrário. Também não pode simplesmente virar as costas à hora de picar o ponto e deixar sem assistência doentes ligados ao ventilador ou a fazer hemodiálise.