«Este prazo parece-vos algo que eu consideraria remotamente aceitável?», perguntou Musk. «Como é evidente, não. Se um prazo for prolongado, está errado.»
Já era tarde na noite de 22 de dezembro e a reunião na sala de Musk, no décimo andar do Twitter, tinha-se tornado tensa. Ele estava a falar com dois gestores de infraestruturas do Twitter que ainda não tinham lidado muito com ele, e certamente não quando estava com uma disposição tão má.
Um deles tentou explicar-lhe o problema. A empresa de serviços de dados que albergava um dos centros de servidores do Twitter, localizada em Sacramento, aceitara prolongar o arrendamento a curto prazo para que eles pudessem começar a fazer a mudança durante o ano de 2023 de um modo ordenado. «Mas esta manhã», disse o gestor nervoso a Musk, «entraram em contacto connosco e disseram que o plano já não estava em cima da mesa porque, e estas são as suas palavras, acham que não iremos ser financeiramente viáveis.»
Aquelas instalações custavam ao Twitter mais de cem milhões de dólares por ano. Musk queria poupar esse dinheiro transferindo os servidores para uma das outras instalações do Twitter em Portland, Oregon. Outra gestora que estava na reunião declarou que não podiam fazê-lo de imediato. «Não é possível sair em segurança em menos de seis a nove meses», declarou num tom neutro. «Sacramento tem de continuar em funcionamento para assegurar o tráfego.»
Ao longo dos anos, Musk foi inúmeras vezes confrontado com a escolha entre o que pensava ser necessário e o que os outros lhe diziam ser possível. O resultado era quase sempre o mesmo. Ele ficou calado por momentos, e depois anunciou: «Têm noventa dias para o fazer. Se não conseguirem, a vossa demissão será aceite.»
A gestora começou a explicar pormenorizadamente alguns dos obstáculos da transferência dos servidores para Portland. «Têm diferentes densidades de racks, diferentes densidades de potência», disse. «Isso significa que as salas precisam de ser melhoradas.» Começou a dar muitos mais pormenores, mas passado um minuto Musk interrompeu-a.
«Esta conversa está a provocar-me dores no cérebro», declarou.
«Peço desculpa, não era essa a minha intenção», respondeu num tom ponderado.
«Conheces o emoji de cabeça a explodir?», perguntou-lhe Musk. «É assim que a minha cabeça está neste momento. Que monte de tretas estúpidas. Que merda do caraças. É óbvio que Portland tem imenso espaço. É trivial mudar servidores de um lugar para outro.»
Os gestores do Twitter tentaram explicar-lhe de novo os constrangimentos. Musk interrompeu-os. «Podem mandar alguém aos vossos centros de servidores para me enviar vídeos dos interiores?», perguntou. Faltavam três dias para o Natal e a gestora prometeu que teria o vídeo dali a uma semana. «Não, amanhã», ordenou Musk. «Eu já construí centros de servidores e posso dizer-vos se é possível pôr mais servidores ali ou não. Foi por isso que vos pedi que visitassem as instalações. Se não foram lá, estão apenas a fazer conversa da treta.»
A SpaceX e a Tesla tinham sucesso porque Musk pressionava implacavelmente as equipas para serem dinâmicas, mais rápidas e para fazerem simulacros que afastavam todos os obstáculos. Foi assim que montaram uma linha de produção de automóveis na tenda em Fremont, um centro de testes no deserto do Texas e uma plataforma de lançamento em Cabo Canaveral feitos com peças usadas. «A única coisa que têm de fazer é mudar a porcaria dos servidores para Portland», exclamou. «Se demorarem mais de trinta dias, vou ficar completamente passado.» Fez uma pausa e recalculou. «Contratem uma empresa de mudanças e precisam de uma semana para mudar os computadores e outra semana para os ligar. Duas semanas. É o que vai acontecer.» Todos ficaram em silêncio. No entanto, Musk ainda estava a aquecer. «Se tivessem uma porcaria de um camião de mudanças, provavelmente conseguiriam fazê-lo sozinhos.» Os dois gestores do Twitter olharam para ele para tentar perceber se estava a falar a sério. Steve Davis e Omead Afshar também estavam à mesa. Já o tinham visto assim muitas vezes e sabiam que era bem possível que estivesse.
«Porque não o fazemos agora mesmo?», perguntou James Musk.
Era o género de ideia impulsiva, impraticável e destemida que Musk adorava. Já era de noite, mas ele mandou o piloto mudar de rota e voltaram para Sacramento
Ele e o irmão, Andrew, estavam a viajar com Elon de São Francisco para Austin na sexta-feira à noite, 23 de dezembro, um dia após a frustrante reunião de infraestruturas acerca do tempo que demoraria a mudança dos servidores das instalações de Sacramento. Esquiadores ávidos, os dois irmãos tinham planeado passar o Natal sozinhos em Tahoe, mas nesse dia Elon convidou-os a irem para Austin. James estava relutante. Sentia-se mentalmente esgotado e não precisava de mais intensidade, mas Andrew convenceu-o de que deviam ir. E foi assim que acabaram no avião — com Musk, Grimes e X, Steve Davis, Nicole Hollander e a bebé de ambos — a ouvir as queixas de Elon sobre os servidores.
Estavam algures sobre Las Vegas quando James sugeriu que podiam fazer a mudança naquele momento. Era o género de ideia impulsiva, impraticável e destemida que Musk adorava. Já era de noite, mas ele mandou o piloto mudar de rota e voltaram para Sacramento.
O único carro que conseguiram alugar quando aterraram foi um Toyota Corolla. Nem sequer sabiam como iriam conseguir entrar no centro de dados à noite, mas um muito surpreendido funcionário do Twitter, um tipo chamado Alex, do Uzbequistão, ainda se encontrava no edifício. Deixou-os entrar alegremente e mostrou-lhes o espaço.
As instalações, onde também havia salas de servidores de muitas outras empresas, eram muito seguras, e para entrar em cada um dos cofres era necessário um scan de retina. Alex, o usbeque, conseguiu pô-los no interior do cofre do Twitter, que continha cerca de cinco mil e duzentos racks com o tamanho de frigoríficos com trinta computadores cada. «Estas coisas não parecem muito difíceis de mudar», anunciou Elon. Esta asserção que distorcia a realidade, uma vez que cada rack pesava cerca de mil e cem quilos e tinha dois metros e quarenta centímetros de altura.
«Vão ter de contratar uma empresa para levantar os painéis do solo», disse Alex. «Têm de ser levantados com copos de sucção.» Explicou que outro conjunto de técnicos teria de aceder por baixo dos painéis do solo e desligar os cabos elétricos e os reforços sísmicos.
Musk virou-se para o seu segurança e pediu-lhe o canivete emprestado. Usou-o para levantar uma das grades de ventilação no chão, o que lhe permitiu abrir os painéis do solo. Em seguida, rastejou para baixo do solo do servidor, usou o canivete para arrombar um quadro elétrico, puxou as tomadas do servidor e esperou para ver o que acontecia. Nada explodiu. O servidor estava pronto para ser mudado. «Bem, isto não me parece superdifícil», declarou enquanto Alex, o usbeque, e o resto do grupo olhavam para ele. Nessa altura, ele estava muito animado. Com uma forte gargalhada, declarou que era uma nova versão de Missão Impossível, edição Sacramento.
No dia seguinte — véspera de Natal —, Musk convocou reforços. Ross Nordeen viajou de carro de São Francisco. Parou na Apple Store em Union Square e gastou dois mil dólares para comprar todo o stock de Air Tags para que os servidores que pudessem ser seguidos durante a viagem, e depois parou na Home Depot, onde gastou dois mil e quinhentos dólares em chaves inglesas, torqueses, lanternas de cabeça e as ferramentas de que necessitavam para desapertar os reforços sísmicos. Steve Davis pediu a uma pessoa da The Boring Company para arranjar um semirreboque e levar carrinhas de mudança. Da SpaceX chegaram mais convocados.
Os racks dos servidores tinham rodas, por isso a equipa conseguiu desligar quatro e empurrá-los para o camião que aguardava. Isto demonstrou que os cerca de cinco mil e duzentos racks podiam ser mudados em apenas alguns dias. «Os tipos estão a arrasar!», exultou Musk.
Outros funcionários das instalações observavam com um misto de surpresa e horror. Musk e a sua equipa de renegados estavam a retirar os servidores sem os colocar em caixas ou envolvê-los em material protetor e depois prendiam-nos no camião com esticadores comprados numa loja. «Nunca carreguei um semirreboque», reconheceu James. Ross confessou que foi «aterrador». Foi como limpar um armário, «mas as coisas que estão no interior são completamente cruciais».
Musk tinha o misto de satisfação e fúria que muitas vezes acompanhava uma das suas pressões maníacas
Às três da manhã, depois de terem colocado quatro servidores no camião, notícias da invasão chegaram aos ouvidos dos principais executivos da NTT, a empresa proprietária e gestora do centro de dados. Eles deram ordens para que a equipa de Musk interrompesse o que estava a fazer. Musk tinha o misto de satisfação e fúria que muitas vezes acompanhava uma das suas pressões maníacas. Ligou ao diretor-geral da divisão de armazenamento que lhe tinha dito que era impossível mudar os racks de servidores sem um grupo de especialistas. «Treta», explicou Musk. «Já carregámos quatro no semirreboque.» O diretor-geral disse-lhe que alguns pisos não conseguiam aguentar mais de duzentos e vinte e cinco quilos de pressão, por isso movimentar um servidor com mais de novecentos quilos iria provocar danos. Musk retorquiu que os servidores tinham quatro rodas, por isso a pressão em cada ponto era de apenas de duzentos e vinte e cinco quilos. «O tipo não é muito bom a matemática», disse aos mosqueteiros.
Depois de ter estragado a véspera de Natal aos gestores da NTT e de lhes causar uma potencial perda de mais de cem milhões de dólares de receitas para o ano seguinte, Musk mostrou-se piedoso e disse que ia suspender a mudança dos servidores durante dois dias. No entanto, avisou-os de que recomeçariam no dia a seguir ao Natal.
Depois do Natal, Andrew e James regressaram a Sacramento para verem quantos mais servidores podiam levar. Não levaram roupa suficiente, por isso foram ao Walmart e compraram calças de ganga e T-shirts.
Os supervisores da NTT que geriam as instalações continuaram a levantar obstáculos, alguns bastante compreensíveis. Em vez de os deixarem manter a porta do cofre aberta com um calço, por exemplo, exigiram que os mosqueteiros e a sua equipa fizessem uma verificação retiniana de segurança sempre que entravam. Uma das supervisoras observava-os sempre. «Ela foi uma das pessoas mais insuportáveis com quem já trabalhei», afirma James. «Mas, para ser justo, percebo como se sentia porque estávamos a estragar-lhe os feriados, certo?»
Os técnicos de mudanças que a NTT queria que eles usassem cobravam duzentos dólares à hora. Assim, James foi ao Yelp e encontrou uma empresa chamada Extra Care Movers que faria o trabalho por um décimo do preço. A heterogénea equipa levava o ideal de improvisação para lá dos limites do razoável. O proprietário tinha vivido na rua durante algum tempo, depois teve um filho e estava a tentar endireitar a vida. Não tinha conta bancária, por isso James acabou por ter de lhe pagar com PayPal. No segundo dia, a equipa quis dinheiro vivo e James foi a um banco e levantou treze mil dólares da sua conta pessoal. Dois dos elementos da equipa não tinham identificação, o que dificultava a entrada nas instalações. No entanto, compensavam em rapidez. «Recebem uma gorjeta de um dólar por cada servidor a mais que mudarmos», anunciou James a determinada altura. A partir daí, quando punham mais um servidor num camião os trabalhadores perguntavam quantos tinham.
Os servidores possuíam dados dos utilizadores e de início James não se apercebeu de que, por questões de segurança, era suposto serem apagados antes da mudança. «Quando o percebemos, os servidores já tinham sido desligados e retirados das instalações, por isso não havia maneira de voltar a levá-los para dentro, ligá-los e apagar os dados», conta. Além disso, o software de limpeza não estava a funcionar. «Foda-se, o que fazemos?», perguntou. Elon recomendou que trancassem os camiões e fizessem o seu seguimento. James mandou alguém ao Home Depot comprar grandes cadeados e enviaram os códigos das combinações numa folha de cálculo para Portland, para que os camiões pudessem ser abertos quando chegassem. «Não consigo acreditar que resultou», diz James. «Todos chegaram a Portland em segurança.»
Foi um exemplo da sua imprudência, da sua impaciência perante qualquer oposição e do modo como intimidava as pessoas
No final da semana, tinham usado todos os camiões disponíveis em Sacramento. Apesar de a zona estar a ser fustigada pela chuva, transferiram mais de setecentos racks em três dias. O recorde anterior naquelas instalações tinha sido a mudança de trinta num mês. Ainda ficaram muitos servidores nas instalações, mas os mosqueteiros tinham provado que podiam ser transferidos rapidamente. O resto seria levado pela equipa de infraestruturas do Twitter em janeiro.
Tudo muito empolgante e inspirador, certo? Um exemplo da abordagem arrojada e dinâmica de Musk! No entanto, como acontece com todas as coisas Musk, não foi assim tão simples. Também foi um exemplo da sua imprudência, da sua impaciência perante qualquer oposição e do modo como intimidava as pessoas. Naquela reunião do emoji com a cabeça a explodir uma semana antes, os engenheiros de infraestruturas do Twitter tinham tentado explicar-lhe porque o encerramento do centro de Sacramento seria um problema, mas Elon cortou-lhes a palavra. Tinha um bom histórico de saber quando ignorar opositores. No entanto, não era perfeito. Durante os dois meses seguintes, o Twitter esteve desestabilizado. A falta de servidores provocou colapsos, incluindo quando Musk hospedou um Espaços do Twitter para o candidato presidencial Ron DeSantis. «Em retrospetiva, o encerramento de Sacramento foi um erro», admitiria Musk em março de 2023. «Disseram-me que tínhamos redundância nos três centros de dados. O que não me disseram foi que tínhamos setecentas mil referências codificadas para Sacramento. E ainda há merdas que estão avariadas por causa disso.»
Os seus homens fortes mais valiosos na Tesla e na SpaceX tinham aprendido como defletir as suas más ideias e dar-lhe informações desagradáveis a conta-gotas, mas os funcionários que pertenciam ao Twitter não sabiam lidar com ele. O Twitter acabou por sobreviver. E o assalto em Sacramento mostrou aos funcionários do Twitter que ele falava a sério quando discursava sobre a necessidade de haver um sentido de urgência maníaco.