“Hoje, já não se pode dizer isso” mas, no passado, foi diferente: “Era Deus no Céu, Espírito Santo na Terra.” Não a terceira entidade da santíssima trindade, mas sim, segundo a testemunha, a poderosa família liderada por Ricardo Salgado que, em 2001, se aventurou em Angola, abrindo um banco que acabou por deixar um legado de desvios de dinheiro, créditos para beneficiários fantasma e uma garantia soberana que terá sido redigida por um escritório de advogados portugueses. Os autos do processo do BES/Angola (BESA) revelam como parte do dinheiro desapareceu do banco, que contribuiu com 3,5 mil milhões para a falência do Grupo Espírito Santo, a qual os contribuintes portugueses foram chamados a pagar. O Ministério Público acusou Álvaro Sobrinho, Ricardo Salgado, Hélder Bataglia, Amílcar Morais Pires e Rui Silveira por vários crimes, de burla qualificada a branqueamento de capitais. O caso vai entrar na fase de instrução.
A testemunha ouvida durante toda a tarde do dia 18 de novembro de 2016 foi Eugénio Manuel da Silva Neto, 65 anos (completados no próximo dia 18 de julho), empresário, identificado nos documentos internos do banco como o maior devedor do banco, com créditos superiores, em linguagem financeira, a “um bi”. Os dados indicavam que a 31 de agosto de 2013, o empresário tinha uma dívida de 1 533 mil milhões de dólares. Nos meses anteriores, os procuradores do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) pediram ao Serviço de Estrangeiros e Fronteiras para o manterem sob “vigilância discreta” no aeroporto, procurando até, informalmente, recolher informações sobre futuras estadas em Portugal. Quando, no dia 13 de novembro, o empresário aterrou em Portugal, o SEF comunicou ao Ministério Público que o mesmo iria ficar alojado no Hotel Ritz, em Lisboa, e também num apartamento, em Miraflores, Algés, até ao dia 20. E foi no hotel que Eugénio Neto foi notificado para se apresentar no DCIAP, onde esteve no dia 18 de novembro de 2016, acompanhado por Paulo Von Hafe, advogado do escritório de Ana Bruno, cujo telefones móvel e fixo chegaram a estar sob escuta no início da investigação.
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