Domenico Giorgi, italiano, 62 anos, vivia tranquilamente em Lisboa, Portugal. O empresário, conhecido pelas alcunhas de “Berlusconi” e “Milionário” – pelo alto padrão de vida que levava –, foi detido, esta quarta-feira, pela Polícia Judiciária, no âmbito da Operação Eureka, que decorreu, em simultâneo, em 10 países, e contou com a participação de polícias europeias, da América do Sul e dos Estados Unidos da América, tendo como objetivo de desmantelar a ‘Ndrangheta, a máfia italiana da região de Régio da Calábria.
É suspeito de “lavar” os milhões de euros resultantes do negócio de tráfico internacional de droga liderado por aquela organização criminosa. Presente a juiz, esta quinta-feira, Domenico Giorgi ficou em prisão preventiva, no Estabelecimento Prisional de Lisboa, onde vai aguardar pela extradição para Itália.
O italiano geria na “sombra” uma rede de restaurantes, em Itália e Portugal. Na capital portuguesa, era proprietário de dois populares restaurantes italianos no centro da cidade – o Al Garage, na Rua Castilho, e o Italy Caffe, na Avenida Duque de Ávila –, habitualmente frequentados por jogadores de futebol (principalmente de Benfica e Sporting), cantores, atores, apresentadores de TV… e até pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, como comprovam as publicações partilhadas nas redes sociais daqueles estabelecimentos.
Domenico Giorgi detinha ainda outros restaurantes em território nacional: em Aveiro, Vila Nova de Gaia e Braga (o La Porta).
Em comunicado, a PJ divulgou que o homem está “indiciado da prática de crimes de associação criminosa, de branqueamento de capitais e de tráfico de estupefacientes”. Na sequência desta detenção foram ainda apreendidos “vastos elementos de prova, documentos, viaturas e dinheiro (cerca de meio milhão de euros), bem como o arresto dos ativos de nove sociedades comerciais, incluindo cinco estabelecimentos de restauração”, refere a nota.
Em declarações ao Correio da Manhã, Luís Neves, diretor nacional da PJ, afirmou que Domenico Giorgi é “um dos principais elementos na esfera desta organização criminosa na área do branqueamento de capitais e fraude fiscal”.
O italiano já teria sido visado pelas autoridades portuguesas, em 2008, no âmbito das investigações ao massacre de Duisburg, na Alemanha – na noite de 15 de agosto de 2007, seis homens, todos originários de Régio da Calábria (à exceção de um, natural de Corigliano Calabro, Consenza), com idades entre os 16 e os 39 anos, foram assassinados a tiro quando saíam de um restaurante (também) italiano daquela cidade alemã. O inquérito acabou, porém, por ser arquivado em 2013.
Domenico Giorgi será familiar próximo de outro conhecido membro da ‘Ndrangheta, Antonio Pelle, preso pela polícia italiana, em outubro de 2016, no interior de um armário, depois de mais de cinco anos em fuga. O momento ficaria registado em vídeo pelas autoridades.
Dez países, 132 detenções
A Operação Eureka foi liderada pelas autoridades italianas, em estrita colaboração com alemães, belgas e brasileiras – e contou ainda com a intervenção da DEA [Drug Enforcement Administration], a agência antidroga dos Estados Unidos da América.
A ação policial terá representado “um duro golpe” para a ‘Ndrangheta que, ao longo dos anos, se terá dedicado ao tráfico de cocaína em grande escala, entre a América do Sul e a Europa. As autoridades acreditam que a organização criminosa transportava a droga através da Colômbia (país produtor) – onde trabalhava com o grupo paramilitar Clan del Golfo – e do Brasil, com a participação do famoso chefe da máfia, Rocco Morabito, preso naquele país, em maio de 2021, e extraditado para Itália, em julho de 2022, depois de 23 anos em fuga; aguarda-o uma pena de 103 anos de prisão.
A cocaína entrava na Europa, sobretudo, pelos portos de Antuérpia, na Bélgica, e de Gioia Tauro, no sul de Itália. As autoridades acreditam que a célula desta organização criminosa na Península Ibérica estava localizada em Málaga, em Espanha. A investigação aponta que a máfia albanesa também estaria envolvida nesta rede.
A Europol anunciou que, nesta operação, foram detidas 132 pessoas, em 10 países, suspeitas de terem ligações à ‘Ndrangheta.