A noção de que o aumento da higiene pessoal reduzia a exposição infantil a infeções e, por isso, resultava no desenvolvimento de distúrbios alérgicos, surgiu no final dos anos 1980, pela voz do imunologista norte-americano David P. Strachan. Mais tarde, outros investigadores concluíam que o aumento contínuo da prevalência de distúrbios alérgicos e doenças inflamatórias crónicas em populações urbanas no século XXI estava ligado à diminuição do contacto com ambientes biodiversos e os seus respetivos micro-organismos.
Na infância, até por volta dos três anos, as alergias mais comuns na alimentação são os ovos, leite e outros laticínios, glúten (trigo, cevada e aveia), arroz, milho, soja, noz, amendoim, peixe, fruta, crustáceos e outros mariscos.
Quando se manifestam, de forma moderada a grave, os sintomas mais usuais passam pela dificuldade respiratória, manifestações na pele (erupções cutâneas, urticária, edema da glote e da língua e “formigueiro” na boca), problemas gastrointestinais (vómito, dores abdominais e diarreia), sintomas cardiovasculares até à perda de consciência. Atenção: os sintomas podem aparecer isolados ou combinados, nos minutos seguintes à ingestão dos alimentos e até duas horas depois.
A exposição a animais de estimação tem sido sugerida como eficaz na prevenção de doenças alérgicas. No entanto, em alguns países desenvolvidos, incluindo o Japão, as famílias preocupadas com as alergias continuam a evitar ter animais de estimação.
Por cá, isso não parece ser um problema. Em novembro de 2022, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas anunciou que Portugal tinha 3,1 milhões de animais de estimação registados no Sistema de Informação de Animais de Companhia, 800 mil desde o início de 2021.
A associação entre a exposição fetal ou na infância a animais de estimação e alergias alimentares foi, recentemente, analisada no Japan Environment and Children’s Study.
Com base num questionário, o estudo publicado, no final de março, na revista Plos One, analisou os dados de 66 215 crianças e a sua relação com gatos de estimação ou cães domésticos durante o desenvolvimento fetal (21,6% dos participantes) ou na primeira infância e concluíram que tendem a ter menos alergias alimentares em comparação com outras crianças.
Consoante a espécie do animal de estimação e o tipo de alergénio difere o risco de incidência de alergias alimentares até aos três anos. Conviver com cães que não vão à rua pode reduzir os riscos de incidência de alergia a ovos, leite e nozes; a exposição a gatos pode diminuir os riscos de alergia a ovo, trigo e soja; ter em casa um hamster pode aumentar o risco de alergia a nozes.
Não foram descobertas associações significativas entre a exposição a tartarugas, hamsters e aves durante o desenvolvimento fetal e a incidência de todas as alergias alimentares até aos três anos.
Com a incidência de alergias alimentares em crianças a aumentar nas últimas décadas, chegando a mais de 10% nos países desenvolvidos – mais de uma em cada dez crianças são diagnosticadas com alergias alimentares – nada como prevenir situações que podem desencadear anafilaxia, que às vezes é fatal.